Malcolm X (1992)

Países: Estados Unidos, Japão

Duração: 3 h e 22 min

Gêneros: Biografia, drama, história, romance

Elenco Principal: Denzel Washington, Angela Bassett, Delroy Lindo

Diretor: Spike Lee

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0104797/


Considero muito difícil prender a atenção do espectador num filme com 200 minutos de duração, entretanto, afirmo que uma boa história, aliada a um diretor competente, facilita sobremaneira essa tarefa insólita. Essa proeza foi conseguida pelo grande Spike Lee, um diretor cujos filmes, frequentemente, mostram narrativas ligadas ao racismo, e a adaptação para o cinema de parte da vida de Malcolm Little, um herói da causa negra, o qual, em meados do século XX, foi um dos principais ativista pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Na verdade, une-se o engajamento de Lee em sua eterna luta contra o preconceito e uma história que coaduna perfeitamente com suas convicções. A união perfeita diretor/roteiro só poderia ter resultado em uma excelente película: “Malcolm X“. Uma súplica por igualdade entre brancos e negros na América!

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Malcolm X, com sua mensagem política sobre as relações raciais, mudou para sempre o papel dos afro-americanos na sociedade dos Estados Unidos e abalou a consciência política do país. Esta é a cinebiografia de um homem negro, inserido em uma sociedade na qual muitos negros não podiam votar, andar nos lugares da frente dos transportes públicos, ir a uma escola de brancos, etc. É uma história de esperança, sonhos e embates, que engloba os tumultos raciais dos anos 50 e 60.”

Malcolm X foi um homem que se destacou através de sua luta. Um dos heróis de boa parcela da população de um país. Por essas informações, é normal esperarmos um filme biográfico em tom de exaltação à figura do protagonista, que evidencie suas conquistas, seu trabalho em prol da causa pela qual lutava, o impacto de seus atos na vida dos negros americanos, etc., contudo, a abordagem utilizada para a construção do roteiro não se furta de considerar o lado obscuro da vida do homenageado, ao mostrar sua fase rebelde, juntamente com seu comportamento criminoso, influenciado fortemente pela condição de inferioridade na sociedade a que ele e as “pessoas de cor” estavam submetidas. É muito fácil endeusar uma pessoa como Malcolm em qualquer tipo de narrativa, seja literária ou cinematográfica, mas Spike Lee optou por mostrar nada mais do que a realidade, pois, mesmo sendo uma pessoa com feitos notáveis, Malcolm era apenas um ser humano, ou seja, imperfeito como qualquer um de nós. Trata-se de uma abordagem honesta e corajosa, que, apesar de tomar mais de uma hora de exibição com fatos pretéritos em relação ao que realmente importa, é amplamente necessária para expressar a verdade.

Considero dentro da normalidade que uma determinada cinebiografia sofra algumas adequações em nome de uma melhor fluência do roteiro ou um elo mais forte e coeso entre as cenas, todavia, a obra é impressionantemente fiel à biografia literária do “mártir” – segundo ele próprio se definiu no filme -, que foi publicada em um livro de 1965 chamado “Autobiografia de Malcolm X”. Ao ler qualquer resumo sobre a vida do ativista, parece que estamos lendo um resumo do filme. Lee ganhou mais alguns pontos com isso, pela alta capacidade de tradução com poucas ou nenhuma adaptação. Para não aclamar apenas a direção do filme, tenho que dar boa parte dos louros da vitória à Denzel Washington, que praticamente reencarnou Malcolm X e ganhou inúmeros prêmios por sua atuação.

É bom salientar que o filme não se esquece de referenciar outros famosos heróis da causa negra, como Martin Luther King e Nelson Mandela. Apesar de mostrar a vida e obra de um homem certo e determinado, Malcolm X, a narrativa considera que os esforços por uma causa com essa magnitude são bem sucedidos através do êxito em pequenas batalhas e dependem do sacrifício e o esforço de muitas pessoas para que a guerra, quem sabe um dia, seja vencida. Essas alusões são mostradas através de filmagens reais e históricas de King e através da participação mais do que pertinente de Mandela – à época ainda vivo – no desfecho, que concedeu ao filme a chancela especialíssima do respeito e uma boa dose de emoção, por sua importância suprema na história da humanidade.

Histórias relevantes devem sempre ser contadas. Ações em busca de igualdade entre as pessoas devem sempre ser exaltadas. Personalidades importantes devem sempre ser apresentadas ao grande público. Para isso, o cinema é um dos meios mais recomendados pelo alcance e a capilaridade que possui. “Malcolm X” é uma pérolas do cinema humanista – uma das maiores e mais brilhantes.

O trailer segue abaixo

Adriano Zumba


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