Foxcatcher - A História que Chocou o Mundo
Algumas pessoas organizam suas vidas e tomam decisões baseadas nos sonhos que possuem. Ter muito dinheiro pode levar algumas dessas pessoas a acreditarem que elas conseguem comprar seus sonhos, independente das consequências que isso possa trazer. Foxcatcher - A História que Chocou o Mundo é baseado na bizarra história real de um milionário excêntrico que decide montar um time de wrestling para disputar o campeonato mundial, e, dessa forma, ser lembrado pelos seus feitos e ser um modelo para as pessoas na América.
John du Pont (Steve Carell) é um homem sem amigos, que cresceu sem o pai e com uma fortuna para comprar o que quiser. Sua personalidade egoísta e megalomaníaca é mantida através do seu dinheiro. Ele se denomina um filantropo, mas cada gesto generoso vem associado a uma condição que eleva sua moral e status. John também é um ornitologista, com livros publicados sobre o assunto e gosta quando o chamam de “Golden Eagle of America” (Águia Dourada da América). A comparação com a ave de rapina não poderia ser mais adequada - a prótese que Carell utiliza no rosto serve como alegoria ao apelido. Em um dos seus atos de filantropia, John decide patrocinar - na mente dele, ele seria o técnico - um time de wrestling para disputar o campeonato mundial.
Medalhista de ouro nos jogos de verão de 1984, Mark Schultz (Channing Tatum) é um lutador de wrestling dedicado ao seu esporte e, como todo atleta profissional, quer dar o seu melhor e estar no topo do pódio com o título mundial. Treinando sempre com Dave (Mark Ruffallo), a relação entre os dois é muito maior do que apenas a de irmãos. Dave é como um pai para Mark, já que os dois cresceram órfãos e coube ao irmão mais velho cuidar de seu irmão mais novo. Mark é convidado para integrar o time de John e é atraído por um mundo desconhecido por ele - com luxo, dinheiro e longe da sombra de seu irmão. No entanto, aos poucos, Mark começa a desconfiar da benevolência de John e suspeita que ele esteja fazendo isso para conseguir trazer Dave para treinar o time - que não se juntou ao irmão, pois ficou com sua família na cidade.
O patriotismo que John demonstra é exacerbado e só mais uma maneira de preencher o seu ego. Com a premissa de querer criar atletas que fossem novos role models (modelos) para a sociedade americana, ele se coloca num pedestal que se torna falso, fraco e que abriga um homem arrogante, inseguro e que tenta inspirar aqueles ao seu redor através de discursos preparados por ele mesmo para se autopromover. Ele chega ao ponto de encomendar um documentário com entrevistas falsas sobre o seu trabalho com o time e sobre o seu legado pessoal. O modo como John manipula Mark mostra toda sua habilidade em administrar a situação para que tudo convirja a seu favor, mas, ao mesmo tempo, mostra o quão carente e frágil ele é.
Sem demonstrar qualquer sombra de consciência e respeito, ele usa o sonho de Mark de ser campeão olímpico em seu próprio benefício. Viciar o atleta em cocaína e separá-lo da família, além de tornar a vida dele mais solitária e problemática do que antes, não é empecilho para John, contanto que seu ego seja alimentado e ela possa posar na sua sala de troféus, sentado como um rei pronto para ser admirado. Ele quer que as pessoas o vejam como um pai, um líder, uma pessoa que possa ser lembrada e admirada por seus atos.
Em sua terceira biografia adaptada para o cinema - as primeiras foram Capote (2005) e O Homem que Mudou o Jogo (2011) - o diretor Bennett Miller deu a seu filme um desenvolvimento cadenciado, pouco excitante. Por não construir um suspense muito grande nas relações entre seus personagens, apesar da história interessante, o final acabou sendo apressado. O foco do filme é sobre a relação daqueles que querem ajudar e dos que recebem essa ajuda. O modo como o dinheiro influencia essa equação e o compromisso moral que ele traz são determinantes na história, mas essa mensagem foi ofuscada pela abordagem do declínio do patriotismo americano. Dessa forma, seus personagens fortes e multifacetados acabaram desperdiçados em algumas cenas.
No entanto, as atuações são o ponto alto do filme. Channing Tatum e Mark Ruffallo constroem a relação entre irmãos com muito amor e vemos o apoio mútuo entre eles, independente da situação - até mesmo quando eles estão treinando e tirando sangue um do outro. Steve Carell praticamente some ao viver John Du Pont. O carisma e humor que fazem parte dos seus papéis habituais são substituídos pelo egoísmo de seu personagem, transformando-o num sujeito totalmente diferente do que estamos acostumados.
Ainda que Foxcatcher brigue com seus significados, a história de John du Pont e o tratamento dado a sua personalidade e comportamento, além da abordagem ao patriotismo americano absurdo e distorcido, conta com performances excelentes e a direção competente de Bennett Miller.