Miss Violence

Uma festa de aniversário alegre, bexigas, crianças correndo pela casa, decoração colorida, família reunida se divertindo, são elementos esperados em uma festa normal de aniversário de uma criança. Mas, na família que acompanhamos em Miss Violence as preocupações são muito maiores quando a aniversariante Angeliki (Chloe Bolota) se dirige a sacada e comete suicídio.

Após essa sequência inicial, começamos a acompanhar o dia a dia de uma família Grega, que, mesmo com a tragédia da morte da garota, parece não se incomodar com o acontecido. As crianças continuam indo à escola normalmente e a mãe (Reni Pittaki) parece indiferente ao fato de ter perdido uma filha, o que nos faz imaginar as razões que levaram a garota a cometer o suicídio. Trancafiados em seu apartamento com móveis antigos e repleto de tons pastéis, como se tivessem parado na década de 60, o diretor Alexandros Avranas vai lentamente construindo seus personagens e montando as relações entre eles. A rotina da família é baseada nas vontades, regras e abusos do patriarca (Themis Panou) e, aos poucos, quando a personalidade de cada um vai sendo mostrada, começamos a entender porque todos agem com tanto medo e se comportam como robôs dentro de sua própria casa.

Em uma narrativa controlada e com o trabalho de câmera estático, a violência física, psicológica e sexual, gradualmente aumenta a sensação de incômodo que se estende por todo o filme. O silêncio que torna o ambiente ainda mais tenso, as conversas nervosas, que por mais inocentes que sejam podem resultar em castigos, são alguns elementos que ajudam a aumentar o domínio que o pai exerce sobre a família, desde o modo como eles se sentam à mesa durante as refeições, até os atos absurdos de prostituição que ele submete suas filhas. Bater nas crianças é um dos métodos utilizados como disciplina. Em uma das cenas envolvendo as duas crianças mais novas, Filippos (Konstantinos Athanasiades) e Alkmini (Kalliopi Zontanou), a câmera fica circulando os dois atores e o garoto recebe da irmã vários tapas no rosto, enquanto é humilhado verbalmente.

Avranas co-escreveu o roteiro com Kostas Peroulis e aborda de uma forma bem suave a questão do desemprego na Grécia através do pai, que fica desempregado e nem se importa muito com acontecido, já que tem as filhas para explorar e gerar o dinheiro para sua casa. Dogtooth (Giorgos Lanthimos) talvez seja o melhor exemplo para comparar à Miss Violence, pois tem o contexto social estabelecido e também mostra uma família totalmente alienada, dominada e que sofre com abusos de diversas formas. A cada cena vamos entendendo porque Angeliki decidiu acabar com a própria vida, e o ótimo elenco ajuda a manter o espectador preso à história, mesmo nos momentos mais incômodos e repugnantes.  

Apesar das cenas fortes que são mostradas, o que Avranas decide deixar fora de quadro e não permite que vejamos, consegue ser ainda pior. Esse é um dos pontos que torna Miss Violence uma boa experiência cinematográfica, além de um teste para os nervos.

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