dias de cinefilia

Trabalhar Cansa

O terror não é um gênero muito trabalhado no cinema nacional, não pelo menos no circuito mainstream, tendo poucas exceções como o grande José Mojica Marins (o Zé do Caixão). Por outro lado, o drama dos dilemas da classe média vem tomando um espaço bem grande, não só no cinema daqui como em qualquer outro do mundo, são questões atuais. E se um filme tentasse unir esses dois “gêneros” distintos?

Trabalhar Cansa, longa de estreia de Marco Dutra e Juliana Rojas, traz como protagonista Helena (Helena Albergarra, em interpretação maravilhosa), uma mãe de família que decide abrir um mercadinho, mas o tempo passa e o negócio não corre tão bem como o planejado. Ao mesmo tempo, coisas estranhas tomam conta do novo lugar.

É, no mínimo, uma ideia ousada. Filme nacional, independente, que une drama de classe média com suspense de horror fantástico, sem interligar diretamente os pontos da mesma história, soando como duas situações paralelas (além da outra trama paralela, sobre o desemprego do marido de Helena).

Mas não se engane: o foco do filme não é exatamente o horror. É mais ou menos o que eu citei no texto de O Nevoeiro: o mistério é puro plano de fundo para a crítica social. A causa, a origem não tem importância, o importante é acompanhar a paranoia de Helena. Aliás, Helena é uma personagem muito bem desenvolvida e interpretada com maestria por Helena Albergarra. Ela tem um quê de O Iluminado, com um enlouquecimento gradual que a vai transformando em um ser paranoico e destrutivo.

Horror não convencional e drama cativante, Trabalhar Cansa conquista pela ousadia e pioneirismo, pela reinvenção das convenções do horror. Espero que seja uma boa influência na nova face do cinema independente brasileiro. 

TRABALHAR CANSA
Brasil, 2011.
De Marco Dutra e Juliana Rojas.
Com Juliana Albergarra, Marat Descartes.
Avaliação: Muito bom.