RRR: Revolta, Rebelião, Revolução (“RRR: Roudram Ranam Rudhiram”)

Quem nunca viu um filme indiano na vida, deve ir por um desses dois lados: ou vai achar essa produção sensacional ou vai achar absurda ou até mesmo ridícula. Explico: na cultura indiana, com uma indústria cinematográfica tão movimentada quanto Hollywood, tanto que recebe o apelido de Bollywood, seus filmes têm algumas características em comum, dentre elas inúmeras cenas musicais, não importando qual o gênero do filme (ter um número musical no final de cada obra é obrigatório); terem sempre tramas longas que beiram as 3 horas de projeção; e ter sequências de ação que desafiam todas as leis da física, chegando em alguns momentos a ser risível. Mas no momento em que temos a arte como expressão cultural, é importante também absorver essas peculiaridades, mas sem perder o foco da técnica, seja operacional ou narrativa, ou pelo menos do bom senso.

A maior diferença de “RRR” para as dúzias de produções indianas lançadas todos os anos nos cinemas de lá é que essa teve um orçamento bem maior, o que permitiu que os absurdos tivessem efeitos especiais mais dignos, além de um marketing muito ajudado pela Netflix que deu uma projeção mundial. Tanto que emplacou o Globo de Ouro e o Oscar pela canção original “Naatu Naatu” que é ótima, mas se analisássemos outras produções de lá também encontraríamos outras tantas de qualidade semelhante (o que não tira seu mérito, é claro).

O filme se passa na década de 20 quando a índia ainda era colônia britânica e conta a história de dois homens: Rama, um indiano que se tornou um dos mais ferozes soldados britânicos e Bheem, um revolucionário que secretamente vai a Nova Dheli resgatar uma menina de sua tribo que fora raptada pela coroa. Eles se conhecem, tornam-se amigos, mas não sabem dos segredos um do outro, o que vai leva-los a desafiar sua amizade e suas missões.

As pouco mais de 3 horas exibem um novelão digno de novela das 20h com direito a um elenco cheio de caras e bocas como se estivessem numa peça teatral, inúmeras cenas de câmera lenta e uma trilha sonora que rivalizaria com as “cenas dos próximos capítulos” de Avenida Brasil. Mais uma vez, faz parte da cultura, mas é difícil não notar e, às vezes, não ter que conscientemente engolir.

Outro ponto interessante da novela é que sua essência, mais do que a liberdade da Índia, é a relação de amizade entre os dois protagonistas que quase chega a ser algo que dispensa os rótulos ocidentais de “irmãos” e se aproxima obviamente dos valores de amizade do oriente que para outras vistas incita o homoerótico, ou em termo jocoso, a “brotheragem”, mas que na verdade mostra um valor puro onde uma amizade verdadeira consegue disputar de igual para igual com os sonhos e ideais de cada personagem. Percebam que ambos tem um interesse amoroso, mas que o diretor dilui de tal forma que, mesmo não passando despercebido, está longe de se aproximar do cerne da história.

As cenas de ação são muito bem cuidadas, mas com todas as estripulias que só o universo indiano permite. Não que diminua o filme, afinal de contas, um clássico premiado como “O Tigre e o Dragão” também tinha cenas que desafiavam todas as leis da natureza.

Por essas e outras “RRR” é uma ótima oportunidade para ver a cultura indiana além da história, provar de seus valores, se divertir e, quem sabe, até se emocionar com esse formato novelesco e personagens cheios de carisma, música e muita dança.

Curiosidades:

  • RRR” não tem nada a ver com Revolta, Rebelião, Revolução ou com o título em inglês “Rise Roar Revolt” ou “Roudram Ranam Rudhiram” na língua nativa indiana de Telugu. Na verdade era o título experimental vindo dos sobrenomes do diretor e dos atores principais:  S.S. Rajamouli, N.T. Rama Rao Jr. e Ram Charan. Só que o título pegou e daí usaram as 3 letras e depois que tiveram que ter a criatividade de achar 3 palavras que começassem com R e estivessem dentro do contexto da história.
  • O nome do personagem de Ram Charan é chamado de Rama que é o nome do ator que faz o seu amigo Bheem, N.T. Rama Rao Jr.
  • Os dois personagens não são fictícios, mas a história é. Alluri Sita Ramaraju e Komaram Bheem foram dois revolucionários que participaram ativamente nas revoluções que culminaram na independência da Índia. Porém, ao contrário do filme, nunca se encontraram, cada um lutando em territórios e contextos diferentes. O próprio diretor gosta de dizer que o filme é um conto imaginário do encontro de dois super-heróis.
  • O filme é todo falado no dialeto Telugu, mas a versão original só passou na Índia. A Netflix exportou o filme dublado no dialeto Hindi e em Inglês. Ainda assim, os atores principais fizeram a dublagem nos dois dialetos.
  • A cena da música “Naatu Naatu” foi toda filmada na Ucrânia poucos meses antes da invasão russa.
  • Digite RRR no Google para ver algo legal.
  • As filmagens levaram quase 1 ano (320 dias).
  • O diretor aparece dançando na última música.
  • Há uma cena de resgate em que um personagem sabe que outro está chegando porque ele bate na parede com as mesmas batidas do início da música Naatu Naatu.

Ficha Técnica:

Elenco:
N.T. Rama Rao Jr.
Ram Charan
Ajay Devgn
Alia Bhatt
Olivia Morris
Shriya Saran
Ray Stevenson
Alison Doody
Samuthirakani
Chandra Sekhar
Makrand Deshpande
Rajeev Kanakala
Rahul Ramakrishna
Edward Sonnenblick
Varun Buddhadev
Spandan Chaturvedi
Mark Bennington

Direção:
S.S. Rajamouli

História e Roteiro:
Vijayendra Prasad
S.S. Rajamouli
Sai Madhav Burra
Madhan Karky

Produção:
D.V.V. Danayya
Anna Palenchuk

Fotografia:
KK Senthil Kumar

Trilha Sonora:
M.M. Keeravani

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