The Square – A arte da discórdia (2017)

Título original: The square

Países: Suécia, Alemanha, França, Dinamarca

Duração: 2 h e 22 min

Gêneros: Comédia, drama

Diretor: Ruben Östlund

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt4995790/


Começo com uma pergunta: como você se sente após visitar um museu de arte moderna ou contemporânea e visualizar as mais diversas expressões da arte lá expostas? Se você não for um expert no assunto, um intelectual assumido – e até arrogante – que consegue captar a essência da arte em seus mínimos detalhes e formas ou uma pessoa com sensibilidade à flor da pele, há uma grande probabilidade de você sair decepcionado, chateado, achando-se um completo ignorante, por não captar as mensagens que cada artista quis passar em suas obras. Utilizando o ambiente no qual se passa grande parte do filme, resolvi fazer essa analogia para destacar o alcance possível dessa obra cinematográfica que, ao passo que trata de temas bastante interessantes de uma forma inteligente, restringe sobremaneira o seu público-alvo, pela complexidade de seu roteiro, baseado, principalmente, em mensagens subjetivas contidas em cada cena. A linguagem utilizada pelo cinema – assim como qualquer outra forma de expressão – pode ser utilizada através das mais diversas abordagens. Em “The Square“, temos uma linguagem de alto nível que se mostra chata, enfadonha e desinteressante para o público em geral. Não sou crítico, sou apenas uma pessoa que possui um bom grau de discernimento para fazer a leitura de um filme e interpretá-lo de acordo com meus conhecimentos e minha consciência, portanto, estou inserido no rol de simples mortais. Afirmo que “The Square” é filme para crítico ver! E gostar.

A sinopse, retirada da internet, é esta: Um gerente de museu está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação. Entre as tentativas para isso, ele decide contratar uma empresa de relações públicas para fazer barulho em torno do assunto na mídia em geral. Mas, inesperadamente, isso acaba gerando diversas consequências infelizes e um grande embaraço.”

Garanto que o filme vai muito além dessa breve descrição, que é apenas um tentáculo da história. O filme se baseia no cotidiano de Christian, diretor do museu. Um homem com uma boa condição social que vive imerso em um meio de ricos e intelectuais – o público-alvo do museu que dirige. Ao ter seu celular roubado no meio da rua, em um golpe espetacular, ele rastreia o aparelho, com a ajuda de um de seus subordinados, e resolve colocar uma carta em cada apartamento de um prédio de classe baixa onde o celular estaria. Na carta em questão, há uma ameaça para quem a carapuça servir, ou seja, a carta coloca todos os moradores do prédio na mesma situação – de suspeitos, por serem pobres. Mais interessante ainda é a citação do amigo de Christian antes do ato de “distribuição” das cartas: “Não precisa ser politicamente correto, você está sendo sueco agora”. A partir daí, o mote narrativo começa a se delinear e já tira uma fotografia da realidade da perversa sociedade sueca em tela, adicionando Christian a essa sociedade não apenas pela carta, mas por sua vida e seus atos individuais em geral.

Utilizando uma parcela marginalizada da população – os mendigos -, como instrumento para alcançar a finalidade desejada, o diretor mostra o comportamento das pessoas quando sozinhas e quando em evidência. O foco são as pessoas da elite intelectual sueca, cujas ações convergem para a desconstrução da imagem da sociedade em que estão inseridas, que agem através de ações politicamente corretas – mas forçadas, baseadas em subterfúgios -, que não refletem suas vontades, exibem seus preconceitos, egoísmos e desmascaram uma ampla e total hipocrisia, recheada de arrogância, frente aos problemas sociais que afligem o país. A melhor cena do filme, a do homem-gorila, derruba qualquer tipo de máscara – e dúvida – quanto à conduta de tais pessoas ao serem submetidas a acontecimentos imprevisíveis, que as façam descer do alto de seus saltos. Assim, a verdade vem à tona, e o ser humano mostra a verdadeira face.

Por que “The Square”? Qual a relação que um quadrado luminoso construído no chão tem com a narrativa? Para melhor entendimento, eis o texto que acompanha o quadrado: ” um local de confiança e cuidado, um espaço onde compartilhamos direitos e responsabilidades”. Teoricamente, seria um local que seria preenchido com conteúdo humano, ou seja, as pessoas, que deveriam usá-lo como um espaço onde imperasse a igualdade e a confiança entre elas. O quadrado, na verdade, é o tema de uma mostra que haverá no museu, que, através das mais diversas cenas e diálogos mostrados no filme, revela-se a mais completa utopia, pois, pelo visto, impera aquela velha máxima: “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. A sociedade vive fora do quadrado! Um detalhe bem sagaz é que a forma quadrada persegue o protagonista. Prestem atenção!

Preciso destacar o uso de um arranjo de Ave Maria como a principal canção da trilha sonora do filme. Num filme com uma temática tão séria, mas recheada de cenas constrangedoras de humor negro e ácido, o uso de, talvez, a melodia máxima do cristianismo, ironiza os atos das pessoas por estarem totalmente desprovidos de bondade – um dos pilares da religião -, apenas revestidos pelo manto ululante da hipocrisia e destinados a atenderem motivos escusos.

Como um admirador da sétima arte e um aprendiz no ofício de discorrer sobre filmes, do fundo do coração, espero que “The Square“, apesar de se revestir de um certo favoritismo, não leve o tão almejado Oscar de melhor filme estrangeiro, pois sempre parto do princípio de que o cinema deve ser democrático, inteligível e disponível para as mais diversas pessoas ao redor do planeta. Mesmo reconhecendo um trabalho magistral de seu diretor e equipe de produção, não é uma narrativa atrativa e de fácil entendimento. Há muito fatos que aparentam até serem desconexos e muitos minutos entediantes, principalmente na primeira hora de exibição. Ser complexo não significa necessariamente ser o melhor. Assistam a “The Square” e entrem num universo narrativo compatível com o de um museu de arte moderna. O filme é interessantíssimo, mas poderia ser mais acessível. Obras de arte não são para todos.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


6 comentários Adicione o seu

  1. Legal, fiquei na dúvida, mas posso dar um chance, vamos ver depois, mas show de critica!!!!

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  2. Wallace disse:

    Ao ler muitas críticas negativas ao filme, já estava em dúvida com relação ao que eu mesmo achei do filme, que é praticamente o que você descreveu. Sim, o filme é muito bom! Provavelmente, a maioria não entendeu. Parabéns pela crítica! Excelente!

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    1. Obrigado Wallace. É realmente um filme para poucos, mas as pessoas preferem criticar antes de procurar entender.

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  3. M disse:

    olá, onde fazer o download? como assistir?

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