Toilet – Ek Prem Katha (2017)

Título em inglês: Toilet – A love story

País: Índia

Duração: 2 h e 35 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Akshay Kumar, Bhumi Pednekar, Sudhir Pandey

Diretor: Shree Narayan Singh

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt5785170/


Está redondamente enganado quem acha que já viu de tudo neste mundo, por estarmos na era da informação fácil. Mero engano! Se, nos créditos finais, não fosse mostrado que os personagens foram baseados em pessoas reais, eu nunca acreditaria no que vi neste filme. Preparem-se para uma história inusitada, para não classificá-la como trash ou bizarra. Um exemplo vivo de como a cultura, as tradições e a religião interferem no pensamento das pessoas, ao ponto de deixá-las cegas, ignorantes e colocarem em risco a própria saúde e a de outrem. Trata-se de um filme impactante e importante!

Eis um resumo do enredo: “A história de Keshav e Jaya, um casal improvável, principalmente pela diferença de idade e personalidade dos envolvidos, mas que, por escolha do destino e insistência de Keshav, acabam se casando. Jaya tem uma condição financeira melhor, uma boa educação e possui graduação em uma faculdade. Keshav é componente de uma família tradicional e religiosa, conserta bicicletas para viver e possui uma condição de vida limitada. Segundo a tradição, após o casamento, a esposa deve se mudar para a casa em que o marido mora com os pais. O problema se instaura na primeira manhã após a noite de núpcias, quando Jaya quer usar o banheiro. Não há banheiro na casa de Keshav! Não há banheiros públicos na aldeia! As mulheres só podem fazer suas necessidades fisiológicas nos campos, fora da aldeia! Os homens fazem as suas em qualquer lugar, até no quintal de casa! Para Jaya, acostumada desde a infância a ter um banheiro em sua casa, isso é muito penoso. Então, começam os desentendimentos e a história fica interessante.”

Logo nos primeiros minutos de narrativa, em um encontro não programado e hostil, os três protagonistas ficam lado a lado: Keshav, Jaya e um banheiro. Esse protagonista sui generis, na verdade, é o centro das atenções do filme. Soa até engraçado, mas o banheiro é a fonte da discórdia, o motivo de uma revolução, o gerador de questionamentos e a prova de amor, como ficamos sabendo ao traduzir o título para o português: “Banheiro – Uma história de amor”. Surreal!

A falta de banheiros nas residências e nos arredores é um problema grave – até de saúde pública -, mas o que chama a atenção é a ignorância da população, por simplesmente aceitar essa imposição cultural e religiosa de braços cruzados e evitar a todo custo que o problema seja resolvido, pois um banheiro em casa retira a pureza do lar. O interessante é que apenas os dejetos femininos possuem esse “poder despurificador”! Eu já sabia que na Índia, e em países que deixam a religião moldar seus costumes, a mulher é amplamente marginalizada. Mas até nesse prisma?! É inacreditável! Percebe-se claramente que o roteiro faz de tudo para potencializar a revolta do espectador com a situação, ou seja, há um caráter de denúncia em suas entrelinhas que deve ser amplamente considerado.

Há conceitos interessantes relacionados à cultura da Índia que pude notar e aprender com o filme: o divórcio é, talvez, a maior desonra para a sociedade indiana; ter uma graduação em uma faculdade é, talvez, a maior honraria para alguém – a pessoa é olhada diferente na sociedade, parece que é de outro planeta. Imediatamente, já se nota que o país é eivado de costumes retrógrados e seus governantes não dão a devida atenção à questão da educação, porém, é público que os políticos indianos são altamente contaminados com a praga da corrupção e o país é um dos mais populosos do mundo, com uma enormidade de pessoas na miséria. É a fórmula perfeita para a decadência de um povo.

No final das contas, utiliza-se uma comédia dramática, juntamente com uma história de amor, como pano de fundo para uma severa crítica ao sistema indiano de saneamento básico – principalmente em áreas pobres e rurais -, à dificuldade que as pessoas têm de se libertarem de amarras religiosas, que insistem em existir até nos dias atuais, e à condição de inferioridade social concedida às mulheres, também por questões ligadas à religião. Nem parece que estamos no século XXI. É um atraso sem fim!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


10 comentários Adicione o seu

  1. Ieslei Miguel De Souza disse:

    Um dos melhores filmes que já vi!
    Estão de parabéns!

    Curtir

  2. Cleo Chaves disse:

    Não esquecer que não é só uma questão religiosa, além de machistas é classista , pq as mulheres ricas tem banheiros , quem não tem são as pobres … Sem falar na narrativa da rica esclarecida q vai salvar as os pobres coitadas cegas pela escravidão da religião … não vi o filme, o comentário é com base no seu olhar.. e esse é seu olhar … parecendo o Brasil higienista … não é o machismo a questão mais grave aí já que os homens estão completamente a vontade..

    Curtir

  3. Ivany Sevarolli disse:

    Acho que o problema não é tanto a religião mas a interpretação que as pessoas fazem dos textos religiosos, lembre-se que o pai, avesso as mudanças, e o filho, sensível às necessidades da esposa e das mulheres em geral, sem contar o tio da esposa, são todos brâmanes, antiga casta de guerreiros e sacerdotes da Índia. Cada um tem seu próprio modo de interpretar os textos do código Manu e aplica-lo à vida.

    Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.