Raees (2017)

País: Índia

Duração: 2 h e 23 min

Gêneros: Ação, crime, thriller

Elenco Principal: Shah Rukh Khan, Mahira Khan, Nawazuddin Siddiqui, Sunny Leone

Diretor: Rahul Dholakia

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt3405236/


Acostumamo-nos a ver um Shah Rukh Khan interpretando personagens cômicos e românticos, os quais o levaram ao estrelato em seu país e a receber a alcunha de “Rei da Índia”. No filme em tela, vemos um Shah Rukh diferente, pelo personagem que incorpora e pela implementação de seu ofício de ator. Quanto ao personagem, notamos que ele tem um caráter dúbio, pois se trata de um contrabandista com valores humanos e religiosos agudos, que utiliza parte de seus lucros em prol de sua comunidade. Quanto a sua interpretação pelo astro indiano, percebe-se um ator mais maduro, que concede características perversas a seu personagem, por ser contraventor, porém com uma leveza que reflete exatamente o que o seu caráter transparece. Temos um Shah Rukh Khan que exibe amabilidade e perversidade ao mesmo tempo, que é exatamente o que o personagem requer. Tudo isso é muito bom para fugir da estereotipação atribuída a ele e revelar suas outras veias interpretativas, ou seja, mostrar sua capacidade e seu talento. Apenas esse aspecto já basta para recomendar o filme, mas, como será mostrado nos parágrafos abaixo, o filme proporciona muito mais que apenas uma boa interpretação de uma lenda do cinema indiano.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “O filme é ambientado nos anos 80 e 90. Trata-se da história fictícia de um contrabandista de bebidas alcoólicas, Raees, que constrói um império no estado de Gujarat, o único que ainda segue a proibição do comercio de bebidas. É uma história sobre sua ascensão e seus relacionamentos, que o ajudam a se tornar o homem mais poderoso do estado, e cujos negócios são frustrados pela intervenção de um destemido policial, Majmudar.”

Resumindo em uma só frase, o filme é o embate entre Raees e o policial Majmudar. Raees com poder financeiro e Majmudar apenas com determinação e perspicácia travam uma guerra desigual, pelos recursos postos à disposição do contrabandista e pela corrupção enraizada na Índia daquela época, a qual era sinônimo de proteção e facilidades para Raees enquanto dificultava a atuação de Majmudar, que, por conta disso, foi transferido várias vezes para ficar o mais longe possível de seu “alvo”. O problema é que capturar Raees virou questão de honra e dignidade – algo muito importante no caráter do povo indiano. Esse clima de guerra gera sequências de ação de alta octanagem, câmeras lentas que causam arrepios e emoções intensas ao espectador.

Há uma temática interessante, que chamo de síndrome de Robin Hood. Todos sabem que Robin Hood era um herói inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres. Nesse ponto, há uma discussão ética sobre as motivações dos atos praticados, pois, se formos para o lado formal, eles, obviamente, são crimes e, portanto, passíveis de punição à luz da lei. Podemos facilmente estender esse raciocínio para “Raees“, em relação à conduta do protagonista, que usava sua vocação de negociante e sua comunicação fácil para praticar atos ilícitos e corromper políticos e policiais. Com isso, criou um império em Gujarat e realizou diversos trabalhos sociais voltados à comunidade local. Por conta disso, era amado por todos. O pior de tudo é que havia pureza nesses atos, principalmente relacionada ao seu lado religioso e humano. Cada espectador que faça o seu julgamento. “Raees” acaba tendo características de spaghetti westerns, que mostram bandidos como protagonistas e levam as pessoas a desenvolverem empatia e torcerem por eles.

No fim das contas, trata-se da história de um personagem que não é herói ou vilão, e sim uma pessoa inserida num sistema moralmente corrompido e que considera que qualquer negócio é válido, desde que não prejudique ninguém – mas prejudica o Estado. Daí, junta-se a fome com a vontade de comer, e proporciona-se mais um grande filme masala, com predominância dos gêneros ação e policial, para deleitar os espectadores que gostam do bom cinema indiano, que, aos poucos, vai sendo difundido pelo mundo.

O trailer, com legendas em inglês, e a música tema do filme, que tem uma melodia belíssima, seguem abaixo.

Adriano Zumba

Obs.: Disponível na Netflix.


TRAILER

 

MÚSICA TEMA

 

 

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