A cidade das mulheres (1980)

Título original: La città delle donne

Título em inglês: City of women

Países: Itália, França

Duração: 2 h e 19 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Mascello Mastroianni, Anna Prucnal, Bernice Stegers

Diretor: Federico Fellini

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0080539/


Quem conhece a obra de Fellini sabe que não há ambiente mais propício para suas narrativas do que o onírico, ou seja, um ambiente imaginativo, de sonhos, pois quando sonhamos, por vezes nos deparamos com situações estranhas, indeterminadas, desconexas, irreais e sem uma lógica precisa. A divagação é algo que costumeiramente toma corpo em meio a um sonho. Fellini adorava esse contexto, mesmo que não se utilizasse dele explicitamente em seus filmes. O único que teve uma característica onírica aparente foi justamente “A cidade das mulheres“, e, então, o mestre se sentiu “em casa” para divagar à vontade e presentear seus espectadores com uma sátira deveras surrealista, mas com bastantes simbolismos e significados.

A sinopse, retirada da internet, é a seguinte: “Durante uma viagem de trem, Snàporaz (Marcello Mastroianni, como o alter ego de Fellini) é seduzido por uma bela mulher. Seguindo-a, ele acaba vivendo uma fantasia, metade sonho, metade pesadelo, na cidade das mulheres, um lugar onde, por ser o único homem, é ao mesmo tempo reverenciado e julgado.”

A linha principal de raciocínio do filme é algo como uma guerra dos sexos: de um lado um exército de mulheres, e do outro, um exército de um homem só, o velho Snàporaz – como ele mesmo se autodenomina em várias passagens do filme. Para entender melhor o contexto, deve-se conhecer melhor o personagem de Mastroianni, que, como visto na sinopse, é o outro eu do próprio diretor. Posso afirmar que, em relação a seus pensamentos sobre as mulheres, é um homem instintivo, irracional e incompreensivo, ou seja, aceita melhor a denominação de macho do que de homem.  É casado, mas, de certa forma, foge do compromisso matrimonial, por não ter achado a mulher ideal, a qual o filme retrata como uma representação utópica. Depreende-se que é uma pessoa egoísta e volátil quanto a seus sentimentos – se é que eles existem, pois trata as mulheres como objetos. Ao entrar no mundo imaginário de Fellini, a felicidade de estar num ambiente tão repleto de mulheres, incluindo uma em especial, rapidamente se transforma em agonia, pois, para elas, homens são inimigos, por todos os defeitos inerentes de suas naturezas. Chegou a hora do sexo masculino ser julgado simplesmente por existir e não conseguir entender o sexo feminino! O detalhe é que a complexidade da mente feminina não é levada em consideração em nenhum momento, pois tal característica deve ser algo automaticamente natural, aceitável e compreensível por todos os homens.

Sem abandonar seu estilo circense, que transforma seus cenários em espetáculos, muitas vezes com ares de teatro, o diretor concede ao protagonista o direito de estar inserido num paraíso com cara de inferno, onde temáticas sexuais são abordadas a todo momento, de forma pouco agressiva, apesar de a extravagância e o exagero saltarem aos olhos em determinados momentos, como é tradição do realizador italiano. Seria o Jardim do Éden, se as fêmeas não tivessem assumido a identidade da serpente. Inteligentemente, a narrativa é subdividida em três partes distintas para melhor entendimento. As duas primeiras têm a função de diferenciar os pensamentos dos dois sexos – sempre apresentadas de forma utópica, estapafúrdia e mirabolante. A primeira mostra um enredo”vaginal”, a segunda, um enredo “fálico”, e a terceira, e última, o juízo final, no qual o protagonista será confrontado com seu maior medo. Garanto que tudo isso rende bastantes gargalhadas ao longo de toda a narrativa.

“A cidade das mulheres” não transita entre as obras-primas do cineasta, porém é um filme que não pode ser desprezado de maneira alguma. Materializar os sonhos de outrem é uma experiência fascinante, a qual só o cinema pode proporcionar, ainda mais quando temos como patrocinadores dessa “viagem” duas lendas da sétima arte: Federico Fellini e suas surreais excentricidades, e Marcello Mastroianni, em um papel bastante paspalho, mas sempre com a desenvoltura que me leva a considerá-lo um dos grandes atores da história do cinema. Ao fim, melhor sonhar novamente, afinal, o diabo não é tão vermelho como é pintado!

O trailer, com legendas em espanhol, segue abaixo.

Adriano Zumba


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