Liv & Ingmar – Uma história de amor (2012)

Título original: Liv & Ingmar

Países: Noruega, Reino Unido, Suécia

Duração: 1 h e 29 min

Gênero: Documentário

Elenco principal: Liv Ullman, Ingmar Bergman, Samuel Froler

Diretor: Dheeraj Akolkar

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt2327430/


– “Liv, você é meu Stradivarius!”

Quem conhece algo sobre música, principalmente sobre violinos, já identifica prontamente a magnitude de um elogio como esse. Para quem não conhece, posso reproduzir essa frase com outras palavras e no contexto do filme: “Liv, você é o instrumento mais perfeito através do qual eu exteriorizo a minha arte, inclusive a arte de amar”. Afirmo com segurança, após assistir ao documentário, que essa frase representa a condecoração máxima, revestida de uma indubitável justiça, que Ingmar Bergman, um dos diretores mais lendários da história do cinema, poderia ter dado a Liv Ullman, pelos mais de 50 anos de parceria, companheirismo, amizade e, sobretudo, amor, o qual se manifestou das mais diversas formas entre eles. E, por falar em amor, esse tão real substantivo abstrato é o fio condutor dessa competente produção, em detrimento das realizações profissionais da dupla de protagonistas – ou do casal -, que são inúmeras e excepcionais. Isso pode ter desagradado a alguns, entretanto, ao longo da narrativa, uma terna aura de gratidão mexe com os corações dos espectadores, fazendo com que cada minuto de audiência tenha um valor inestimável.

Como se depreende após a leitura do título em português, trata-se da história de amor entre Ingmar Bergman e Liv Ullman. Saliento que o título original, “Liv & Ingmar“, não procura explicitar o viés narrativo. Didática e explicitamente, há uma subdivisão do documentário de acordo com os sentimentos de Liv em relação a Bergman ao logo do tempo: amor, solidão, raiva, dor, saudade e amizade. As pessoas que nos fazem sentir e sonhar através do cinema também são seres humanos, e revelar a intimidade de suas almas, principalmente no que concerne a um sentimento tão sublime, utilizando o mesmo produto de seus trabalhos, é algo muito interessante e que emociona bastante. Liv, com mais de 70 anos de idade, é a narradora principal do filme e conta com detalhes as passagens de sua vida com Ingmar, o qual também participa dessa narração, através da voz de outro homem, mas com seus pensamentos, desnudados através de palavras escritas por seu próprio punho, em cartas e bilhetes para sua amada ao longo do tempo. É interessante notar que, a cada sentimento transparecido por Liv durante a narração e a cada acontecimento revelado da vida do casal, são exibidas cenas de filmes nas quais a jovem Liv Ullman, dirigida por Ingmar Bergman, retrata emoções e fatos similares, principalmente as do filme “Cenas de um casamento” (1973), que explora os conflitos sexuais e psicológicos de um casal em crise. É um magnífico trabalho de pesquisa e montagem. Essa é a estrutura narrativa do filme.

Não foi por acaso que comentei que Liv e Ingmar desfrutaram de vários tipos de amor. Desde o amor bandido, já que Liv era casada no início, passando pelo amor familiar, até o amor fraterno e incondicional, que tomou corpo após o fim da relação. Chama a atenção a habilidade e maturidade da dupla em entender e aceitar seus problemas conjugais, separar-se e buscar formas de manter uma forte amizade – com cara até de dependência emocional. É mostrada uma cumplicidade que ultrapassa até a distância física, a qual é evidenciada no último dia de vida de Bergman, cuja morte foi repentina e por causas naturais, através de uma visita surpresa de Liv, que sentiu a necessidade de vê-lo, mesmo sem nenhum indício de que aquele fatídico dia seria o fim daquela relação física que, à luz de sua inteligência, Bergman definiu como uma “relação dolorosamente conectada”.

Liv & Ullman” concede à exibição ares de nostalgia e saudades, pela ausência física do grande Ingmar Bergman e pela ciência da genialidade de seu trabalho; de admiração, pela contemplação da coragem de uma das mais talentosas e belas atrizes nórdicas de todos os tempos, Liv Ullman, ao descrever não só fatos, mas dissecar todo um sentimento entre ela e seu marido, amigo, diretor e parceiro; e de emoção, por tratar de um assunto que merece sempre ser abordado, o amor – o guia da vida de incontáveis pessoas ao redor do mundo e ao longo de todas as eras da história da humanidade. É um documentário completo, com lindas imagens da Ilha Fårö – o refúgio de Bergman em boa parte de sua vida -, com uma singela trilha sonora e com um conteúdo apaixonante. Uma obra com a presença de Liv e o espírito de Bergman que denotará eternidade. É um prato cheio para os amantes da sétima arte.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.