Silenced (2011)

Título original: Do-ga-ni

Título em inglês: Sienced / The Crucible

País: Coreia do Sul

Duração: 2 h e 05 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Yoo Gong, Yu-mi Jung, Hyeon-soo Kim

Diretor: Doong-hyuk Hwang

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt2070649/


Já começo com um alerta: talvez, até esse pequeno texto gere incômodo, pois ele discorre sobre um filme com um peso narrativo imensurável, mas altamente necessário – principalmente nesses tempos “estranhos” que vivemos aqui no Brasil, em virtude da discussão atual sobre a criminalização ou não da pedofilia, pela possibilidade de enquadrá-la como doença. Após esse prefácio, que já evidencia a temática preponderante do filme em tela, saliento que os fatos utilizados como base para sua produção se baseiam numa história real acontecida na Coreia – mais precisamente na Escola Gwangju Inhwa para surdos-mudos, onde jovens estudantes foram vítimas de agressões físicas e sexuais repetidas por membros do corpo docente, durante um período de cinco anos, no início dos anos 2000.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Um novo professor de artes chega a uma escola para deficientes auditivos. Quando ele começa a ensinar lá, observa uma atmosfera desconfortável e um medo pungente nas crianças da escola. Logo desconfia que existe algo mais do que os olhos podem ver. E realmente há! Com a ajuda de uma amiga, ativista dos direitos humanos, ele parte para desvendar o mistério.”

Quem acompanha a sétima arte e conhece o cinema coreano já conhece as características dos filmes produzidos por lá. É literalmente um cinema cru e sem pudores para mostrar cenas perturbadoras, ou seja, é um cinema que preza pela honestidade em exprimir veracidade, mesmo que ela incomode. Esse tipo de cinema-verdade gera fortes emoções, principalmente se o espectador for sensível à temática a que se quer aludir. Por isso, “Silenced” é altamente não recomendado para pessoas com a sensibilidade muito aguçada, pois há cenas bastante fortes, que funcionam muito bem para gerar inquietação e angústia no público. Trata-se de um filme que segue o roteiro clássico para obras investigativas: indícios, investigação, acusação e julgamento. A diferença entre o filme em destaque e tantos outros que já foram produzidos consiste justamente na maneira como os fatos são apresentados, da maneira coreana de fazer cinema. É chocante!

A história real remete à várias crianças abusadas, porém “Silenced” retrata a história de apenas algumas delas: as três que aparecem no poster e mais uma que logo no início do filme aparece, como num fato aparentemente imaginário e metafórico, perdendo sua vida no trilho do trem. Era o presságio que algo de muito ruim aconteceria ao longo da narrativa. É obrigatório perceber que, além da vulnerabilidade natural que as crianças e adolescentes apresentam pela inocência intrínseca, há potencializadores da barbárie, principalmente o fato deles não poderem se comunicar com facilidade, de nem poderem gritar, pois apenas emitem alguns grunhidos, e, também, a conivência de muitas pessoas, corrompidas pelo poder econômico e pela necessidade provocada pela condição social. Nota-se que a corrupção é um câncer metastático, que alcança os mais diversos países do mundo, e utiliza dos mais diversos subterfúgios para a consecução de seus objetivos. Além do mais, a certeza da impunidade influencia ainda mais atos como os mostrados no filme.

Nenhum filme vive só de roteiro, apesar de ser, na minha opinião, o aspecto mais importante. Mesmo a história contendo elementos suficientes para chamar a atenção e despertar os mais diversos sentimentos, a excelência só toma corpo se as interpretações do elenco forem tão primorosas quanto o roteiro propriamente dito, pois elas concedem o viés realístico necessário para a narrativa, e, nesse caso, elas são! Em um trabalho magnífico, principalmente dos artistas mirins, mas também dos heróis e vilões da história, os fatos abordados promovem uma imersão do espectador e o faz sentir a mesma revolta da população coreana da época do ocorrido. Como informação, a comoção nacional foi tão grande que levou os políticos a abolir um tal de estatuto de limitações para crimes sexuais contra menores e deficientes.

Eis mais uma tragédia da vida real que é mostrada no cinema. Um turbilhão das mais diversas emoções para os cidadãos do mundo, através do cinema, assistirem, refletirem e se revoltarem. Infelizmente, o final não é um conto de fadas, pois as sequelas físicas e psicológicas nos prejudicados, as crianças e adolescentes, serão eternas. Finalizando, “Silenced” é uma história de dor, mas, sobretudo, de coragem. Que sirva pelo menos para abrir os olhos das pessoas que fazem as leis, pois elas devem sempre punir os agressores com veemência e proteger a população, pois, o mundo, há tempos, por conta da violência, deixou de ser salutar para viver.

Só para relembrar, parafraseando o título de um filme indiano de que gosto muito, crianças são COMO ESTRELAS NA TERRA! Pelo menos, deveriam ser!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba

3 comentários Adicione o seu

  1. jeanine ferreira gonçalves de lima disse:

    Seu texto está maravilhoso e colocou muito bem a dimensão do problema que esse filme relata.Filme pesado,mas maravilhoso.

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  2. Zu soyza disse:

    Espetaculares interpretações, chocante, triste e verdadeiro! As crianças são sensacionais e os vilões eu mataria na tijolada se pudesse, excelentes atores! Magnífica essa explanação!

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