Elefante (2003)

Título original: Elephant

País: Estados Unidos

Duração: 1 h e 21 min

Gêneros: Crime, drama, thriller

Elenco Principal: Elias McConnell, Alex Frost, Eric Deulen

Diretor: Gus Van Sant

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0363589/


No ano de 1999, o chamado Massacre de Columbine foi um episódio trágico na história contemporânea americana, que teve repercussão mundial. Num fatídico dia, dois atiradores, Eric e Dylan, que eram alunos da escola, entraram na Columbine High School, mataram 13 pessoas e depois se suicidaram. Deve haver, pelo menos, uma meia dúzia de filmes que abordam esse acontecimento – geralmente de uma forma mais convencional, ou seja, com um caráter documental ou procurando motivações para a barbárie nas mentes perturbadas dos assassinos. “Elefante” foge bastante desse tipo de abordagem narrativa, pois trata do evento de forma rasa – o que é algo até inesperado. No filme em tela, temos que entender as motivações do diretor Gus Van Sant, e não dos dois protagonistas propriamente ditos. É uma tentativa bem sucedida de transformar uma grande tragédia em arte! A Palma de Ouro, recebida por ter sido considerado como o melhor filme, e o prêmio de melhor diretor para Gus Van Sant, conquistados no Festival de Cannes, um dos mais importantes do mundo, corroboram com essa afirmação!

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes, todos estudantes de uma escola secundária no interior dos Estados Unidos. Enquanto a maior parte está engajada em atividades cotidianas, dois alunos esperam em casa a chegada de uma metralhadora semi-automática com altíssima precisão e poder de fogo. Munidos de um arsenal de outras armas que vinham colecionando, os dois partem para a escola, onde serão protagonistas de uma grande tragédia.”

Elefante” é um filme de difícil digestão e tenho certeza de que muitos não concluirão a sua exibição, pois o sentido narrativo demora a ser assimilado, principalmente se o espectador não tiver lido a sinopse, pois a monotonia insiste em tomar corpo. Van Sant escolhe mostrar o cotidiano das pessoas – principalmente das vítimas – que estavam naquele sinistro dia na escola. De maneira muito fria, com um estilo de filmagem bastante imersivo, que coloca o espectador muitas vezes como um observador de luxo atrás dos personagens, o diretor exibe a trivialidade de apenas mais um dia qualquer na escola, através da perspectiva dos mais diversos esteriótipos de pessoas, que convivem com seus sonhos, dramas e dificuldades, como qualquer um de nós. Percebe-se uma sugestão de que aquele nefasto massacre poderia ter acontecido em qualquer lugar e como reflexo da vida moderna sobre as pessoas, principalmente as de menos idade, que, por vezes, não encontram maneiras eficazes de lidar com seus problemas e seus anseios. Em um filme de 80 minutos, em torno de 60 deles são destinados a mostrar apenas a vida como ela é – ou era – para aqueles personagens, ou seja, a banalidade apaixonante da rotina.

Após desnudar a habitualidade da vida, felizmente ainda restam 20 minutos de exibição através dos quais, por motivos óbvios, esperamos tensão ao extremo, rios de sangue e desespero, pois é chegada a hora do clímax: a hora dos assassinatos. Em um misto de despreocupação narrativa e desnecessidade documental – algo até irresponsável – entra em cena todo o estilo do diretor para retratar atos cujas motivações transcendem a lógica, as quais, até os dias de hoje, são atribuídas apenas certezas relativas, pois Eric e Dylan morreram naquele dia e não puderam se pronunciar sobre o caso. Nota-se, realmente, que a intenção maior é deixar o espectador num limbo de percepção, em busca de respostas, que, talvez, nem existam. A preocupação é levantar questionamentos e gerar dúvidas. Percebemos esse mote, de forma clara e honesta, quando finalmente há um grande foco de tensão e a cena sofre uma interrupção abrupta e fatal. Nem sempre podemos ter respostas para determinadas ações – ou elas não têm explicação plausível -, como pode ser o caso de uma desgraça dessas. A mente humana é realmente muito complexa!

Ao fim, fica a preocupação pela facilidade de acesso a armas nos Estados Unidos, e ficam subentendidas algumas temáticas como o bullying, o homossexualismo, a rejeição, entre outras, as quais acabam por explicar o título do filme, que, aparentemente, não possui relação direta com a narrativa – o que é um engano. O título faz alusão a uma sentença muito conhecida: “o elefante na sala de estar”, a qual pode ter diversas interpretações. Talvez, escondidas em alguma dessas interpretações estejam as motivações dos crimes. Ao som da bela e melódica Für Elise de Beethoven, que pode ser ouvida no filme, e num exercício profundo de subjetividade, escolha a sua!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

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