Dogman (2018)

Países: Itália, França

Duração: 1 h e 42 min

Gêneros: Crime, drama, thriller

Elenco Principal: Marcello Fonte, Edoardo Pesce, Adamo Dionisi

Diretor: Matteo Garrone

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6768578/


Dogman” explora o interior do ser humano em busca de respostas sobre a dificuldade de seguir regras de convivência, legais e morais, que deveriam nortear o comportamento de todos. O banditismo e a violência intrínseca existente em algumas pessoas, que se exteriorizam pelos mais diversos motivos, transformam-nas em animais deveras irracionais, que baseiam seus atos na força do egoísmo, num mundo cada vez mais selvagem e negligente em relação aos valores humanos. No contexto proposto, há uma comparação entre homens e cães, e dois protagonistas que dividem as atenções. Ao fim, será que não teremos que mudar a grafia do título para Dogmen – plural de Dogman? Assistam ao filme e tirem as conclusões necessárias. O certo é que quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cachorros.

A história gira em torno de dois homens: Marcello, proprietário de um petshop em um bairro popular de uma determinada cidade italiana, e Simone, um violento ex-lutador de boxe que aterroriza a vizinhança com seus atos de violência e transgressões. Marcello não é tão correto como sua imagem e seu trabalho sugerem. Para poder proporcionar viagens e outras coisas a sua filha, fruto de um relacionamento mal-sucedido, ele vende cocaína e seu principal cliente é Simone, que o envolve em vários de seus crimes, mas, um dia, após passar um ano na cadeia por causa no lugar de Simone, Marcello resolve tomar as providências em relação ao bandido. Inspirado em um dos piores casos de violência na história italiana do pós-guerra, ocorrido no final dos anos 80.

A comparação com os cães e seus comportamentos é bem pertinente. Simone é o cão raivoso, que ataca como forma de intimidação e manifestação de sua irracionalidade – potencializados por causa da droga. Marcello é um leal cachorrinho, que sempre retorna à pessoa que escolheu como dono, independentemente do tratamento que receba – um comportamento que denota a busca por proteção, abrigo ou até mesmo segurança. Marcello escolheu Simone como seu “dono”, apesar de receber violência, ser envolvido em situações criminosas e, esporadicamente, colher algum fruto suculento dessa relação. O arco narrativo se baseia nesse infeliz vínculo entre os dois, mostrando as reações de Marcello aos atos nefastos de Simone. Há um detalhe de suma importância que deve ser considerado: o Dogman, Marcello, demonstra uma habilidade extraordinária com seus clientes, os cachorros, inclusive em relação a animais maiores do que ele. Ele os doma com maestria. Para complementar, como já citei anteriormente, Simone está sendo comparado a um cão feroz – similar aos que Marcello enfrenta em sua loja. Não precisa citar mais nada! Capacidades existem para serem exteriorizadas!  A sinopse sugere uma violência mais extrema, entretanto há uma suavização nas cenas, principalmente no clímax da história, apesar de ainda assim serem bastante chocantes. É justamente no desfecho que o filme perde força, quando o contrario deveria ter acontecido, pois é o momento para o qual toda a narrativa converge, é o fechamento da trama, o ponto de interesse maior, entretanto, fiquemos com o modo italiano de mostrar violência. Se fosse na Coreia… 🙂

Cabe destacar a crueza das cenas e o viés realístico imprimido pelo diretor durante todo o filme. Locações externas, uma paleta sépia – e às vezes escurecida – promove o tom obscuro e nostálgico da história, personagens simples e oriundos de ambientes suburbanos, etc., são algumas características da obra. Vocês não acham que vem à mente o neorrealismo italiano de meados do século XX? Só que agora, a realidade não é a vida na Itália após a Segunda Guerra Mundial, e sim a guerra cotidiana proporcionada pela violência dos dias atuais, principalmente atribuída à presença das drogas na vida das pessoas e como um comércio lucrativo que movimenta muito dinheiro. “Dogman” mostra o realismo mundial atual e não apenas o italiano.

Entre mortos, feridos, humanos e caninos, sobram motivos para assistir a essa excepcional obra do cinema italiano contemporâneo. Cabe destacar a atuação de Marcello Fonte, o intérprete de Marcelo no filme. Ganhador do prêmio de melhor ator no Festival de Cannes em 2018. Realmente, muito merecido! “Dogman” é o representante da Itália na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019, e julgo que será um fortíssimo candidato, pois nada como mostrar a realidade. O filme acaba ficando familiar! Basta assistir aos telejornais de todos os dias.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

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