Campeões (2018)

Título original: Campeones

Título em inglês: Champions

Países: Espanha

Duração: 2 h e 04 min

Gêneros: Comédia, drama, esporte

Elenco Principal: Javier Gutiérrez, Athenea Mata, Juan Margallo

Diretor: Javier Fesser

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6793580/


As indicações para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, salvo algumas exceções, têm se caracterizado por tratarem de temas pesados, tensos, violentos e muito dramáticos – o que, diga-se de passagem, reflete muito bem o mundo em que temos vivido, principalmente se eles versarem sobre casos reais. São poucos os filmes que transmitem bons sentimentos para os espectadores. Na contramão desta tendência histórica, a indicação espanhola para o Oscar 2019 simplesmente encanta, e os motivos para isso são abundantes. Apesar de possuir uma narrativa já bastante explorada, como no famoso filme americano – e ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1976 – “Um estranho no ninho“, “Campeones” mostra que uma receita agrada mesmo quando já foi amplamente saboreada ao longo do tempo. Nem só de novidades vive o cinema. Clichês bem trabalhados também são bastante apreciáveis.

Os clichês aos quais me referi no parágrafo anterior podem ser subentendidos ao ler a sinopse do filme, que está a seguir: “Marco é um cara pouco otimista, que pelas vicissitudes da vida, torna-se treinador de um time de basquete formado por homens com deficiência mental. Relutantemente, inicia a tarefa, mas o que começa como trabalho forçado, acaba o ajudando a sair de sua crise existencial.” Explicando melhor, Marco é um homem com dificuldades em sua vida pessoal – em vários âmbitos -, e, através da interação com pessoas vulneráveis e rejeitadas pela sociedade, encontra o caminho para a redenção dos seus problemas, ao passo que ajuda tais pessoas.

Os deficientes, com todas as suas limitações, que, no caso do filme em destaque, são intelectuais, e do alto da ingenuidade que marca as pessoas com esses problemas, metaforicamente e sem a métrica e a elegância adequadas, declamam poesias que semeiam amor, amizade e humanidade, as quais penetram no âmago das pessoas, principalmente no de Marco e, tenho certeza, no de plateias do mundo todo após assistirem ao filme.  O personagem Marco é apresentado inicialmente como um homem insensível, e isso é mostrado bem explicitamente em uma cena em que ele interage com um dos deficientes, chamado de Marín, que o destino colocaria em seu caminho. Nesse contexto, o mote de todo arco narrativo é exibir o afloramento paulatino de sentimentos no protagonista, e, ao mesmo tempo, fazê-lo buscar soluções para lidar melhor com suas próprias deficiências, que não são físicas nem intelectuais. Isso fica bem claro quando Marín fala para Marco: “as pessoas sempre carregarão suas deficiências”. Aliás, diga-se de passagem, os rapazes deficientes são responsáveis por diversas e lindas mensagens ao longo do filme – não só faladas, mas escondidas nas entrelinhas do roteiro. O final é bastante comovente, pois introduz uma abordagem diferente à sensação de fracasso. Um tratamento raramente visto nas pessoas e até em nós mesmos. Apenas mais uma mensagem do filme!

Além do foco em Marco, que transmite uma forte quebra de paradigmas, o foco nos deficientes é deveras emocionante, principalmente pela exteriorização de suas vontades mais íntimas, que, para pessoas consideradas normais – sem deficiências -, são ínfimas. Há a preocupação de conceder grande relevância a essas pequenas coisas, a esses pequenos atos, como por exemplo, tomar um banho, jogar basquete como uma equipe, ou simplesmente ser respeitado como ser humano. Há também, dentre essas vontades, a superação de traumas, que são difíceis para qualquer pessoa e potencializados para aquelas intelectualmente imperfeitas. A superação em diversos aspectos, no fim das contas, acaba sendo o tema central da história e outorga ao filme um caráter inspirador, pois trata de temas dramáticos com muita leveza e comicidade, levando os espectadores a observações sobre suas próprias vidas e de seus semelhantes.

Ademais, preciso destacar a trilha sonora que transmite jocosidade, dramaticidade, aventura, etc. Em um trabalho primoroso, ela segue lado a lado à linha narrativa do filme regendo o tom das situações apresentadas. Em meio a todas essas melodias, sobressaem-se as atuações tantos dos atores profissionais quanto dos deficientes reais, concedendo naturalidade às cenas e proporcionando muitas gargalhadas e, talvez, muitas lágrimas. Apesar de eu achar que não tem chance na disputa do Oscar, considerando o histórico da premiação, “Campeões” conquista seus espectadores através de seu roteiro simples, mas singelo. As diferenças aproximam!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

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