O confeiteiro (2017)

Título original: Tha cakemaker

Países: Israel, Alemanha

Duração: 1 h e 53 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Tim Kalkhof, Sarah Adler, Roy Miller

Diretor: Ofir Raul Graizer

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt4830786/


Pelo próprio título do filme percebemos que há uma “narrativa saborosa” na qual diversas guloseimas aguçarão os paladares dos espectadores. Esse lado “gastronômico” é bastante relevante, pois representa um elo entre os personagens principais, portanto devo definir uma palavra que aparece várias vezes ao longo da história para um melhor entendimento: kosher. É um termo que faz referência aos alimentos que são adequados ou permitidos pelas leis alimentares do judaísmo. Há também regras rígidas para o preparo desses alimentos. Apenas por essa definição, nota-se que há também um contexto religioso pungente e, para colocar uma pimenta a mais, a homossexualidade e a família são adicionadas em grandes quantidades à receita, entretanto, esse prato que se apresenta deveras condimentado por incluir aspectos antagônicos na mesma seara, revela um sabor suave e agradável aos mais diversos paladares, diga-se, gostos, por conta do cuidado e da profunda sensibilidade empregados na construção dessa narrativa tão intrigante e potencialmente arriscada. É o representante de Israel para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019 – e considero que há bastantes chances de conseguir pelo menos uma vaga entre os finalistas dessa “corrida do ouro”.

Eis a sinopse: “Tomas, um homem sisudo e calado, leva uma vida solitária como confeiteiro de um café em Berlim, até se apaixonar por Oren, um empresário israelense casado, que passa períodos na Alemanha a trabalho. Um dia Oren volta para casa e não retorna mais, pois tragicamente falece em um acidente de carro. Preocupado com o sumiço do amante, Tomas busca por ele em sua cidade natal, Jerusalém, e acaba aceitando trabalhar no café da viúva de Oren, chamada de Anat, com a qual estabelece uma ligação bastante perigosa e misteriosa.”

O confeiteiro” é um filme que explora as emoções de seus personagens, independentemente de suas convicções ou escolhas pessoais, como religião e orientação sexual – para esses dois termos caminharem juntos, há de haver muito tino no desenvolvimento da história, para não causar polêmicas desnecessárias. Em uma entrevista o diretor disse: “Eu sempre quis fazer uma história sobre pessoas que não querem ser definidas por identidades políticas, sexuais e nacionais”. Depreende-se que há a tentativa de dissecar os sentimentos dos personagens sem interferências externas, decorrentes de características que os definam ou os representem em determinada sociedade. É nesse sentido que caminha a narrativa, principalmente porque há amor envolvido por todos os lados, que, diga-se de passagem, é poderoso, pois proporciona a quebra de barreiras quase intransponíveis pelas tradições religiosas. É bom lembrar também que Tomas é alemão e Oren é judeu – uma combinação que a Segunda Guerra Mundial tratou de conceder um viés perigoso. Apenas uma fonte de tensão histórica em um roteiro dotado de situações já tão intrincadas.

O enredo do filme é apresentado como um drama que exala sinceridade – sem dar espaço para contestações -, cuja abordagem dos temas é simplista, mas eficiente, ao tratar da dor da perda, da vida religiosa em oposição à vida moderna e da homossexualidade dentro da estrutura familiar. Tudo é administrado com muito critério, de modo a evitar exageros, apesar de haver cenas de sexo homossexual e nudez masculina que realmente são bastante desnecessárias e cuja supressão – ou a construção de outra maneira – não acarretaria prejuízos ao roteiro. Tais cenas destoam da proposta delicada do filme. O viés não é sexual ou erótico, e sim humano! Há também uma parcialidade evidente na ênfase dada às cenas homossexuais em detrimento das heterossexuais. Apenas nesses pontos o diretor “errou a mão”, mas isso interfere pouco na qualidade final da obra. São apenas detalhes. O roteiro competente e envolvente compensa esses pequenos “desvios narrativos”. É bom destacar que o diretor Ofir Raul Graizer é homossexual.

Tenho que destacar as atuações realmente notáveis dos protagonistas, Tomas e Anat, interpretados respectivamente pelos atores Tim Kalkhof e Sarah Adler, pois golpeiam direto no coração do espectador com um tremendo senso de sensibilidade e compaixão, que é potencializado pelo melódico som de piano que escutamos a todo o momento. Se é honestidade na interpretação que o público busca ou espera, esse é o filme correto. “O confeiteiro” é um filme intenso, rico e cheio de beleza, que desnuda para o mundo o corajoso cinema israelense, o qual, presumidamente, espera-se que nunca retrate temáticas controversas e antagônicas como as mostradas nessa produção, por conta das tradições religiosas e a história do país, mas, como todos já sabem, o mundo passa por uma mudança drástica de comportamento, então, como cita Tomas em uma certa passagem do filme, “as pessoas devem saber usar o fermento” – isso é muito importante!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba

2 comentários Adicione o seu

  1. Datiana disse:

    Com exceção dos “desvios narrativos”, a crítica está bem interessante.

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