102 not out (2018)

País: Índia

Duração: 1 h e 47 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Amitabh Bachchan, Rishi Kapoor, Jimit Trivedi

Diretor: Umesh Shukla

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6580564/


Citação: “Lembre-se, nunca morra enquanto estiver vivo.”


Que maneira mais deliciosa de se transmitir belas mensagens! Por meio da comédia, por meio do amor entre pai e filho, por meio de uma gargalhada e de uma lágrima. Através de uma narrativa objetiva e recheada de clichês, em uma obra desprovida de formalidades, na qual há a impressão que os artistas estão realmente se divertindo em cena, percebe-se um contexto reflexivo em meio a situações engraçadas, que proporciona uma verdadeira lição de vida para todos. É impressionante como o cinema indiano consegue mexer com os sentimentos dos espectadores, mesmo em filmes cômicos. “102 not out” é apenas mais um exemplo dessa característica. Explicando o título: out é um termo usado no beisebol para excluir o batedor de uma determinada equipe, por atender aos requisitos para a exclusão definidos nas regras do esporte. Not out significa que o batedor ainda está no jogo e 102 é a idade do protagonista, ou seja, o protagonista centenário ainda está inserido no jogo da vida, apesar da idade avançada.

Eis a sinopse: “O filme conta a história de Dattatraya Vakharia, ou simplesmente Dattu, um senhor de 102 anos que vive a vida em sua plenitude e deseja entrar para o livro dos recordes como o homem mais velho do mundo. Na verdade, essa vontade esconde motivações ocultas, que se relacionam diretamente com o amor que Dattu sente por seu filho Baabulal Vakharia, ou Baabu, um idoso de 75 anos, que é uma pessoa que tem medo de viver e de morrer e, além do mais, é hipocondríaco, desanimado, metódico e rabugento.”

A idade é um mero número e não deve impedir ninguém de aproveitar a vida. É com essa premissa que o roteiro se desenrola no sentido de modificar a visão sobre a vida enxergada por Baabu, através de tarefas concedidas, como num jogo, por seu pai, Dattu. Nessa conjuntura, o roteiro vai lançando, em cada uma dessas tarefas, situações que introduzem assuntos deveras espinhosos ou simplesmente jogam um olhar crítico sobre pequenas ações ou manias do cotidiano de Baabu, as quais são responsáveis por seu comportamento atual e sua falta de entusiasmo para a vida. Além disso, seu passado vem à tona para ajudar a explicar o presente e contribuir para as mudanças requeridas. Desta forma está disposta a linha narrativa do filme: simples, didática, um tanto quanto previsível, mas desenvolvida com uma competência de tirar o chapéu. As mensagens são jogadas suavemente na cara do espectador, como tapas com luva de pelica, mostrando a realidade e dando “dicas práticas de longevidade”, normalmente utilizando o humor como princípio basilar.

Entretanto, a última missão do intrépido Baabu reserva muitas surpresas, muita emoção e a escolha entre dois caminhos, que, com certeza serão objetos de discussão e reflexão após a exibição. Neste ponto, o filme muda um pouco a sua estratégia ao permitir a entrada de uma boa dose de carga dramática. A migração para esse viés é suave, delicada e, por conseguinte, não incomoda, pois já vinha sendo preparada ao longo da narrativa. Neste contexto, nota-se automaticamente o grande mérito da direção, que soube harmonizar muito bem as mais diversas conjunturas presentes no filme, de forma que o nível de atenção por parte dos espectadores permaneça sempre alto.

Considero a maquiagem como um dos principais calcanhares de Aquiles do cinema indiano atual, mesmo apresentando uma boa evolução nos últimos tempos. Percebe-se prontamente falhas gritantes na construção do personagem Dattu em relação à sua idade, seja pelo trabalho da equipe de maquiagem – ele realmente não exibe a sua pele suficientemente envelhecida -, ou pelo desenvoltura física do personagem ao longo do filme, pois, em diversos momentos, apresenta movimentos bastante bruscos e bem flexíveis, porém, “102 not out” é tão singelo e tão bonito que permite até desconsiderarmos tais falhas, mesmo sendo vistas no principal foco das atenções, o protagonista. Ao fim, nota-se que é simplesmente mais uma história de amor – emocionante, necessária e com um quê de surrealidade, mas que transmite mensagens reais e importantes. Mais um filmaço com a lenda Amitabh Bachchan para ser bastante apreciado e recomendado.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


 

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