Elisa & Marcela (2019)

Título original: Elisa y Marcela

País: Espanha

Duração: 1 h e 58 min

Gêneros: Biografia, drama, romance

Elenco Principal: Natalia de Molina, Greta Fernández, Sara Casasnovas

Diretora: Isabel Coixet

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6704898/


Era uma vez duas belas e jovens moças que frequentavam a mesma escola de magistério na Espanha. Uma grande amizade se desenvolveu e se transformou em amor, puro amor, profundo amor. Seria apenas mais uma história de amor homossexual entre duas mulheres se se passasse na conjuntura atual em que vivemos, no entanto, a variável temporal dessa narrativa tem que retroceder cerca de 120 anos para mostrar um acontecimento real e surpreendente: o primeiro e único casamento sem um homem – como ficou conhecido o episódio – da história da Igreja. A diretora Isabel Coixet embarcou no desafio de produzir um filme sobre esse fato histórico tendo apenas algumas poucas e desencontradas informações e possuindo uma obra literária como referência: “Elisa e Marcela – além dos homens” (2008), do escritor espanhol Narciso de Gabriel. E com que sensibilidade a veterana cineasta realizou o seu trabalho! Magnífico!

Eis a sinopse: “Em 1901, Elisa Sanchez Loriga assumiu a identidade de Mario Sanchez, seu primo recém-falecido, para se casar, em uma cerimônia católica, com Marcela Gracia Ibeas, com a qual mantinha um relacionamento amoroso – e estritamente proibido e até criminoso dada a época em que ocorreu.”

Um amor avelhantado pela nostalgia do preto e branco e retratado como poesia visual entre águas iluminadas pelo sol incolor, mas fúlgido; frondosas e acalentadoras florestas e paredes frias e taciturnas, que enxergam aturdidas e, ao mesmo tempo maravilhadas, o ilícito desejo de seguir o caminho indicado pelo coração. Melodiosa trilha sonora guiada por uma venusta fotografia dita o ritmo da obra e concede beleza superior a seu desenvolvimento, que é dotado de uma cuidadosa delicadeza – desculpem-me o pleonasmo, mas foi proposital -, em nome da construção de um ambiente o mais salutar possível para que a sempre controversa temática, mesmo ainda nos dias atuais, percorra o seu caminho de quebra de paradigmas e transformação do pensamento e percepção das sociedades do mundo moderno quanto à sua aceitação, que é o objetivo explícito do filme – vide os créditos finais. Colocar o amor num patamar elevado sem se abster de apresentar um erotismo natural como parte da essência de qualquer ser humano é a principal virtude do filme em tela. “Elisa & Marcela” é uma ode ao livre amor, sem barreiras e sem preconceitos. Belo e essencial!

Cabe destacar também a excelente construção fictícia da sociedade do período em que se passa a narrativa, tanto no âmbito material, diga-se locações e figurinos – quanta roupa que as protagonistas usavam! -, quanto no imaterial, isto é, a consciência dos personagens em relação ao papel de cada um naquele contexto de subjugação completa da mulher em relação ao homem e, principalmente, ao homossexualismo, que, como já citado mais acima, feria não apenas as leis eclesiásticas e de costumes, mas sua prática era considerada crime em muitos países. Vide novamente os créditos finais para obter um paralelo em relação aos dias atuais. Talvez, a maquiagem possa receber algumas críticas ou até mesmo a escolha da atriz que interpretou Elisa, que teria que ser travestida de homem. No final desse post há uma imagem real do casal Elisa e Marcela. Notem que Elisa se passa por homem sem problemas. Até engana quem não conhece a história, no entanto, no filme em tela, mesmo já estando imerso na narrativa e, portanto, sabendo ou imaginando o que vai acontecer, o espectador fica com uma sensação de “engodo malfeito”, seja pelo bigode pintado ou pelas próprias e marcantes feições femininas de Natalia de Molina, interprete de Elisa. Deve ser levado em consideração que, à época, os recursos disponíveis para uma “mudança de sexo” aparente e fictícia eram limitados pela falta de tecnologia e os recursos financeiros das personagens, o que impressiona mais ainda ao observarmos a imagem real do Elisa, dado o realismo da transformação apresentada.

Sinceramente, não entendo a grande quantidade de críticas negativas que andei lendo em relação ao filme. Será preconceito? Há muito sexo, há muita nudez, entretanto há muito amor, o que justifica qualquer cena exibida e qualquer viés apresentado, pois tudo é respeitoso, tudo é afável, tudo é digno. Trata-se apenas do desejo de amar, que é mostrado competentemente sob diversos prismas: o desenvolvimento, o ápice, o preconceito, o tolhimento, a repressão e a dor. Temáticas polêmicas com certeza podem incomodar, mas possuem uma característica bem oportuna: proporcionar reflexão, nem que seja para desenvolver um juízo de valor nas pessoas quanto aos assuntos abordados. Pela terceira vez, cito os créditos finais. Assistam até o fim, pois realmente proporciona um fechamento de ouro. É um filme realmente especial!

O trailer segue abaixo, bem como a foto real do casal de protagonistas do filme.

Adriano Zumba


Marcela Gracia Ibeas e Elisa Sanchez Loriga (Foto real)


TRAILER

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