Monos (2019)

Países: Colômbia, Argentina, Holanda, Alemanha, Suécia, Uruguai, Estados Unidos, Suiça, Dinamarca

Duração: 1 h e 42 min

Gêneros: Drama, thriller

Elenco Principal: Sofia Buenaventura, Julián Giraldo, Karen Quintero

Diretor: Alejandro Landes

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6062774/


Opinião: “Plenitude cinematográfica dentro de um contexto deveras obscuro.”


A Colômbia, que sempre foi um país “nanico” a nível mundial em relação à qualidade e quantidade de suas produções cinematográficas, subiu de patamar com o advento da Lei Federal nº. 814 de 2003, que regulamentou normas para o fomento da atividade audiovisual no país. Pouco tempo depois, os primeiros filmes colombianos passaram a ganhar destaque nos mais diversos e importantes festivais ao redor do mundo. O ápice foi alcançado com a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano de 2016 do filme “O abraço da serpente” (2015), de Ciro Guerra. Em 2020, outro filme tem enormes possibilidades de alcançar a mesma conquista. Essa nova obra atende pelo nome de “Monos“, um filme bastante interessante, que atraiu os olhos da comunidade cinéfila ao ganhar o Prêmio do Juri do Festival de Sundance em 2019. Seguem abaixo as minhas impressões sobre o filme em tela.

Eis a sinopse: “No que parece um acampamento de férias isolado no topo das montanhas colombianas, um grupo de oito adolescentes armados é encarregado de garantir que a Doctora Sara Watson, uma refém americana, permaneça com vida. Mas quando eles acidentalmente matam uma vaca leiteira emprestada por camponeses locais, são impelidos a fugir para as florestas e enfrentarem circunstâncias extraordinárias.”

É digno de destaque como algumas produções colombianas utilizam a natureza a seu favor. Além do indicado ao Oscar em 2016, já citado anteriormente, podemos identificar facilmente essa característica em outros filmes de sucesso, como, por exemplo, “As cores da montanha” (2010), “Pássaros de verão” (2018), entre outros. Utilizar cenários naturais como locações automaticamente denota uma fotografia magnífica ao filme quando bem trabalhada – e é isso que se percebe nas produções destacadas. “Monos” também segue essa trilha, com uma linda fotografia “próxima às nuvens” – que pode ser vista inclusive no pôster – e das belas e, no caso concreto, assustadoras florestas locais. Entretanto, para prosperar, sabemos que é necessário haver uma conjunção de vários outros aspectos cinematográficos. Apesar da possibilidade de gerar alguma controvérsia, “Monos” desenvolve bem os demais aspectos, proporcionando uma experiência cinematográfica bastante satisfatória para seu público, que pode, com pouca dificuldade, captar a ideia central de sua narrativa ao unir características reais do país latino-americano com o enredo ficcional.

Por incrível que pareça, o grande atrativo do roteiro é não explicitar ou explicar os fatos, deixando a imaginação do espectador livre para construir a gênese da narrativa apresentada. Inicialmente, há 8 jovens que simplesmente iniciam o filme já de posse de uma refém no topo de uma montanha e fazem treinamentos físicos no mínimo excêntricos, ou seja, há um limbo sobre as motivações de tudo aquilo. Após algumas cenas, nota-se que tais jovens são “soldados” de uma Organização desconhecida (grafada com letra maiúscula, por assim ser mostrado no filme) conhecida apenas pelo nome Monos, que podemos, após uma breve consulta à realidade, considerar que seja algo relacionado à guerrilha ou ao tráfico de drogas tão característicos do país, mas, mesmo assim, tudo fica na seara da suposição, pois, até o final da exibição, respostas não são dadas. Essa abordagem abre um grande leque de possibilidades, que é limitado somente pela imaginação de cada um. E a tal vaca leiteira? É apenas um subterfúgio para fazer explodir o fio condutor da história, isto é, trata-se de um personagem de suma importância, apesar da estranheza causada por sua presença na história. Deve-se dar bastante atenção ao microcosmo compartilhado pelos adolescentes, bem como as relações humanas que são desenvolvidas entre eles. O ambiente ora citado provê a desumanização pujante das pessoas, é vigiado pela Organização e sujeito à ataques do suposto “inimigo”, que é não identificável, para que o mistério continue no ar. Ações são implementadas em nome de uma causa desconhecida por meros adolescentes, os quais, por conseguinte, estão em tempo de descobertas intrínsecas da idade, inclusive na seara sexual, e, também, de momentos de rebeldia, irreverência e revolta. O que interessa em “Monos” não são as causas, e sim os efeitos. Deve-se destacar também a força do elenco, que não tem protagonistas assíduos, apenas alguns lampejos de protagonismo de algum dos personagens em determinados momentos. O conjunto das atuações contribui para a boa construção da narrativa. A união faz a força!

Há uma temática que considerei primordial no filme, que são os efeitos da obtenção de poder. Isso fica bem representado através da misteriosa Organização e do personagem Pé Grande, que puxa os holofotes para si nas cenas passadas na floresta, nas quais a tensão se instala impiedosamente numa caça ao homem – ou à mulher – baseada em diversos motivos. Nessa conjuntura, há uma confusão sobre quais personagens são vítimas ou malfeitores e a evidência da sobrevivência como único objetivo, o que proporciona minutos realmente angustiantes. A naturalidade da refém, americana, pode transmitir alguma mensagem para o espectador mais visionário, já que a narrativa alterna entre o objetivo e o subjetivo como padrão.

Monos” pode ser apenas mais um “filme de floresta” para alguns, mas é inegável que foi muito bem produzido, agregando valor a cada passagem pela excelência técnica e a narrativa “aberta” e envolvente. É indiscutível que se trata de uma experiência diferente. Vale a pena viajar para cima das montanhas colombianas e mergulhar em suas densas florestas. O resultado dessa jornada é uma rica e dolorosa experiência com uma probabilidade altíssima de agradar aos mais diversos gostos cinematográficos. A beleza do cinema está presente até no indeterminado.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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