Indústria americana (2019)

Título original: American factory

País: Estados Unidos

Duração: 1 h e 55 min

Gênero: Documentário

Elenco Principal: Junming “Jimmy” Wang, Robert Allen, Sherrod Brown

Diretores: Steven Bognar, Julia Reichert

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt9351980/


Citação: “Eles são lentos. Têm os dedos gordos. Ficamos tentando treiná-los.” (chinês falando dos americanos)


Opinião: “Filme nacionalista, com viés político, mas com conteúdo relevante.”


Pode-se afirmar que nosso planeta é capitalista, pois as nações que não se enquadram em tal ideologia/sistema econômico são nada mais que meras exceções. Até a comunista China, que, diga-se de passagem, é um dos alvos do filme, envereda fortemente por esse caminho, apesar de sua cultura manter “raízes vermelhas”! É sempre bom salientar que o capitalismo é criticado por priorizar sempre o lucro sobre qualquer outro aspecto, principalmente o bem estar social e o meio ambiente. Nota-se uma grande concentração de capital nas mãos de uma minoria e uma exploração exacerbada em relação à classe trabalhadora. Pode-se afirmar também que o mundo de hoje está cada vez mais capitalista, pelos rumos que os governantes impõe às economias de seus países e a guinada à direita (ou extrema-direita) que vemos atualmente no cenário político mundial. Nessa conjuntura, a precarização das relações de trabalho está se tornando regra, e nada melhor do que um documentário, que é caracterizado por exprimir a realidade, para apresentar a tendência da nova ordem mundial no tocante às relações trabalhistas entre empresas e empregados. E nada melhor também que um filme com essa pegada seja o primeiro produzido pela produtora de, talvez, o presidente mais preocupado com a igualdade socioeconômica que já passou pelos Estados Unidos – o país mais capitalista do mundo -, o democrata Barack Obama. Por outro lado, critica-se severamente o “adestramento”  dos empregados chineses, que são treinados para trabalhar pela nação, em prol da coletividade, mas, na verdade, trabalham em um regime nocivo de exploração e sob más condições para o lucro de alguns. Independentemente de ideologia, trata-se de uma crítica severa contra o ganancioso “regime” do dinheiro e a consequente desumanização da mão de obra.

Eis a sinopse: “Após a crise econômica global de 2008, em Ohio pós-industrial, um bilionário chinês abre uma nova fábrica na casca de uma fábrica abandonada da General Motors, contratando dois mil americanos de colarinho azul. Os primeiros dias de esperança e otimismo deram lugar a contratempos quando a China de alta tecnologia e relações de trabalho precárias se choca com a classe trabalhadora americana.”

É sabido que as relações trabalhistas variam de nação para nação, pois possuem normatizações próprias baseadas em suas próprias leis. Nota-se que há um certo direcionamento padrão em relação aos direitos dos empregados, mas, obviamente, há exceções, é claro. E são essas exceções que chamam a atenção, principalmente quando as coisas partem para a seara da exploração ou do trabalho escravo. É de estarrecer quando, por exemplo, um famoso bilionário chinês defende como uma dádiva, uma bênção, uma jornada estabelecida em lei de 12 horas, ou seja, 50% de um dia. Essa notícia foi amplamente divulgada na mídia e pode ser lida clicando-se aqui. Por conta de pensamentos como esse, o documentário se propõe a realizar uma comparação entre contextos trabalhistas da China e dos Estados Unidos, um país comunista e outro capitalista, que, teoricamente, deveriam explorar a mão de obra de maneira mais humana e mais nociva, respectivamente. E, para realizar a comparação proposta, utiliza-se um fato real, a instalação da empresa Fuyao – uma gigante da produção de vidros automotivos – em Ohio, com a utilização de mão de obra eminentemente americana, mas interpolada com mão de obra chinesa. Uma ótima forma de ver in loco as diferenças culturais que norteiam as relações trabalhistas dos dois países. Contudo, o documentário não se propõe a estabelecer uma regra geral. Trata-se apenas de um exemplo concreto que é explorado em seus pormenores para instigar a reflexão de seu público.

Todos sabem que está em curso uma guerra comercial entre os dois países, que são as duas maiores potências do mundo atual. É difícil não julgar que a narrativa se presta a denegrir a imagem dos chineses junto ao mundo, considerando que esse título de potência atual concedido ao país só foi alcançado através de relações abusivas de trabalho, à custa de muito suor e sangue de sua população. Isso foi apenas uma percepção pessoal minha, mas, de qualquer forma, há diversas passagens que evidenciam essa perspectiva. É interessante notar também que a ideologia democrata de Obama está inserida fortemente na narrativa, principalmente na importância concedida aos sindicatos de classe que é um dos grandes pontos de interesse apresentados no filme, apesar de a história mostrar que a relação entre o ex-presidente e alguns sindicatos não era tão salutar assim, mas a maioria o apoiava firmemente. Faz-se também um paralelo interessante dessa “relação sindical” com o governo da China. Como se percebe, há uma série de comparações pertinentes, que devem ser levadas em consideração e mostram um panorama bem diferente na seara laboral entre os dois países.

Indústria americana” evidencia um cenário preocupante, entretanto, nota-se que há uma conscientização em curso, principalmente em relação à sustentabilidade e à preservação do meio ambiente – e isso foi visto com muita força no Fórum Econômico Mundial em Davos neste ano de 2020, como sendo um dos pilares no “novo capitalismo”. Em relação às pessoas, só o futuro vai poder modificar a realidade, mas o certo é que o documentário faz um alerta oportuno ao abrir os olhos do mundo quanto a suas temáticas. Trata-se realmente de um bom início da família Obama no mundo cinematográfica, porque temas sociais são imprescindíveis de serem abordados para que as pessoas nunca esqueçam que o capital não deve ser o único objetivo do mundo e da vida.

Recomendo a audiência desse documentário enquanto correr sangue nas veias da população em geral, enquanto há algum tipo de revolta com a perda de direitos e a deterioração das relações trabalhistas, pois, quando a conjuntura exploratória estiver estabelecida e passar a ser considerada como normal, a narrativa proposta perde o sentido – será apenas um sonho distante e utópico. A essa altura, o sangue será substituído pelo óleo, ou seja, o trabalhador será apenas um robô sem alma, substituível quando não tiver mais serventia ou quando sua capacidade de produção apresentar sinais de declínio. Para refletir.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Obs.: Filme disponível na Netflix.

Adriano Zumba


TRAILER

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