Cinema: Grandes Olhos

O pecado de Tim Burton: a falta de desenvolvimento dos personagens.

O pecado de Tim Burton: a falta de desenvolvimento dos personagens.

Imagine a história: Uma pintora amadora, Margaret Ulbrich, mãe divorciada, conhece um pintor em busca de fama, Walter Keane e se casam. O estilo de pintura dela é criar retratos de crianças com grandes olhos. Walter acaba descobrindo um mar de dinheiro em cima das pinturas da esposa, porém, como o filme se passa décadas atrás, seu companheiro a convence a publicar a obra no nome dele, como se ele fosse o pintor, já que na época obras vindas de mulheres não faziam sucesso. Porém, 10 anos depois, Margaret o processa para poder ter de volta os direitos autorais de seus quadros. Com isso, várias questões vêm à tona: Por que Margaret foi conivente com isso? Como uma mentira dessas durou tanto tempo? E o que torna a história ainda mais fascinante, é que ela é baseada em fatos reais.

E eis que Tim Burton decide contar essa história. Tim Burton conhecido por suas obras fantasiosas, em minha opinião, deveria ter ficado longe dessa história. Conhecido por filmar personagens estranhos como em Alice no País das Maravilhas, Sweeney Todd, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e sua obra-prima que é Edward Mãos de Tesoura, aqui em Grandes Olhos, Tim parece perdido, sem saber o que fazer com o material que tem em mãos. Seria o fato de o filme ser sobre pessoas que existiram mesmo? Talvez. O fato é que o diretor deixou muito a desejar em seu novo longa.

Imagine uma notícia de jornal. É assim que o filme é contado. Praticamente nada é desenvolvido. O filme já começa com Margaret saindo de casa com sua filha; depois ela conhece Walter Keane; casam-se; ele passa a lucrar com as pinturas dela, quando percebe que a sua não faz muito sucesso; e depois ela o processa. Acreditem, tudo isso é contado no filme tão rápido como foi rápido você ler este parágrafo.

O principal erro de Tim Burton é não desenvolver os personagens. Personagens que teriam muito a dizer por tudo o que acontece psicologicamente com eles. Porém, Tim opta pelo fácil e conta a história de maneira muito, mas muito simples, parece até que o filme é para crianças de 10 anos. O filme é tão estranho que até Amy Adams parece perdida em seu papel. Ela que é uma das melhores atrizes dessa geração, entrega uma atuação estranha, é perceptível como ela está mal à vontade no papel. Christoph Waltz começa muito bem, e todo aquele charme vilanesco que conhecemos e que o ator usa tão bem quando trabalha com Tarantino, está presente no início, porém conforme o filme vai passando, e principalmente no final, o seu personagem cai na galhofa. Reparem na cena do tribunal já no final do filme… Muitos lembrarão de Jim Carrey em O Mentiroso, que foi genial, porém aqui, em Grandes Olhos, é de ter vergonha alheia com o personagem de Walter Keane. Uma Pena.

Uma das poucas coisas boas desse filme, é ver Tim Burton filmando com cenários reais. As primeiras cenas de Grandes Olhos, nos fazem lembrar de Edward Mãos de Tesoura, porém ao longo dos anos, o diretor tinha abandonado cenários que ele mesmo criava para trabalhar com aquele fundo verde e depois os cenários serem criados por efeitos. É uma pena que neste filme, Tim Burton tenha acertado apenas na direção de arte. Até a trilha de Danny Elfman que no começo parece que seria espetacular, se perde com o andamento do filme.

Grandes Olhos parece um filme feito para a TV. Na falta de coragem e ambição, Tim Burton errou ao levar para as telonas uma história que tinha tudo para ser fantástica com personagens que tinham tudo para serem interessantes. Enquanto eu assistia ao filme, o nome de Wes Anderson vinha a minha mente. Wes sabe como ninguém desenvolver e explorar bem os personagens. Nas mãos dele, acredito que o resultado teria sido bem melhor. O filme peca por ser simples. E Tim Burton tem imaginação de sobra, para fazer apenas um filme simples.

Nota 5

Big Eyes, 2014. Direção: Tim Burton. Com: Amy Adams, Christoph Waltz, Krysten Ritter, Jason Schwartzman, Danny Huston, Terence Stamp, Jon Polito, Delaney Raye. 106 Min. Drama.

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