Oferecido por

Por Jornal Nacional


Palocci diz que mandou dar propina para filme de Lula feito por empresa de Roberto D'Avila

Palocci diz que mandou dar propina para filme de Lula feito por empresa de Roberto D'Avila

O ex-ministro Antonio Palocci disse, em delação premiada, que determinou que o grupo Schahin usasse dinheiro de propina para patrocinar um filme sobre o então presidente Lula, coproduzido por uma empresa da qual o jornalista Roberto D’Avila era sócio. Roberto D’Avila, hoje na GloboNews, nega que tenha feito qualquer pedido a Palocci e que soubesse, em 2008, que o dinheiro que a Schahin investiu no filme fosse fruto de propina.

Palocci afirmou que, no segundo semestre de 2008, se encontrou com Milton Schahin, do grupo Schahin, em São Paulo. De acordo com o ex-ministro, Milton buscava apoio político para resolver um problema com a renovação de um contrato com a Petrobras, que envolvia a operação de um navio-sonda da estatal.

Antonio Palocci contou que, na sequência, se reuniu com Dilma e informou sobre o pedido de Milton Schahin. De acordo com o ex-ministro, Dilma disse que iria ajudar.

O ex-ministro afirmou que, já em 2009, Milton Schahin voltou a procurá-lo, desta vez para informar que havia obtido sucesso na renovação do contrato. Queria saber como remunerar Palocci e gostaria de fazer uma doação ao ex-ministro.

No depoimento, Palocci contou que, dias antes, havia mantido contato com o jornalista Roberto D’Avila. D’Avila teria dito que precisava de R$ 5 milhões para finalizar a produção do filme “Lula, o filho do Brasil”, sobre a vida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Roberto D’Avila, que é comentarista da GloboNews, é um dos sócios da empresa Intervídeo, que atuou na coprodução do filme.

Antonio Palocci afirmou que, diante da demanda trazida por Roberto D’Avila, solicitou a Milton Schahin que doasse R$ 1 milhão para a produção do filme. O ex-ministro afirmou que ligou para D’Avila informando que buscasse apoio financeiro junto a Milton Schahin e que, posteriormente, recebeu ligação de Milton Schahin e outra de Roberto D’Avila afirmando que a doação havia sido feita.

De acordo com o ex-ministro, Roberto D’Avila ainda aventou a possibilidade de parte dos recursos serem devolvidos a Palocci, mas Palocci disse que não aceitou.

A investigação sobre o financiamento da empresa Schahin para a realização do filme que conta a história do ex-presidente Lula começou antes de Antonio Palocci fechar acordo de delação premiada. O inquérito foi aberto em 2015 para apurar um possível envolvimento da Schahin no esquema de corrupção da Petrobras.

Roberto D’Avila prestou depoimento à Polícia Federal em março de 2018. Palocci foi um mês depois, em abril. O jornalista disse que jamais se encontrou com Palocci ou pediu favor a ele.

D’Avila disse que “conversou com um dos irmãos Schahin, não se recordando qual, que concordou em patrocinar. No entanto, não queria levar o nome do grupo nos créditos do filme e, desta forma, solicitou que fosse realizado um vídeo institucional intitulado de ‘Projeto Schahin’ para o grupo Schahin Engenharia”.

Roberto D’Avila disse que os contratos celebrados com a Schahin foram realizados para justificar o recebimento dos recursos da empresa para a produção do filme “Lula, o filho do Brasil”, por opção do grupo Schahin; em relação ao questionamento de que os contratos foram celebrados de forma ideologicamente falsa, respondeu que não porque o objeto do contrato era especificamente a produção dos vídeos institucionais para divulgação de imagens do filme no âmbito interno da empresa; disse ainda que não houve a solicitação da produção dos vídeos.

D’Avila afirmou que o recebimento dos valores por parte da Schahin foi formalizado em contratos e devidamente declarado. O jornalista disse que é muito comum na área de comunicação a solicitação da produção de vídeo institucional quando o patrocinador não quer aparecer nos créditos do filme.

Em maio, dois meses depois desse depoimento, Roberto D’Avila entregou à Polícia Federal documentos como contratos com a Schahin e com outras produtoras responsáveis pelo filme. Os advogados do jornalista também apresentaram uma petição em que reafirmam a inocência de Roberto D’Avila.

Os advogados afirmam que jamais houve qualquer tentativa de ocultação das transações; que os valores foram captados e utilizados na produção do longa-metragem, sendo devidamente declarados e escriturados aos órgãos competentes.

Afirmaram ainda que os contratos não foram celebrados de forma a maquiar qualquer operação escusa e os valores que lhe são correspondentes foram todos utilizados na produção do longa “Lula, o filho do Brasil”.

Disseram ainda que Roberto D’Avila apenas teve contato com Milton Schahin em uma ocasião isolada, quando Schahin manifestou interesse em contribuir para a produção do filme sobre Lula. Segundo os advogados, Schahin solicitou a elaboração de um filme institucional como contrapartida aos valores destinados ao patrocínio do longa-metragem.

Roberto D’Avila divulgou uma nota sobre a delação de Palocci. Na nota, ele diz que, na produção do filme “Lula, o filho do Brasil”, ficou estabelecido que não se recorreria a leis de incentivo nem a empresas estatais como fonte de financiamento do filme, mas que a produção foi bem-sucedida em captar patrocínios com empresas de grande porte, brasileiras e multinacionais.

Roberto D’Avila afirma que é importante lembrar que corria o ano de 2008, que não havia Lava Jato e que o relacionamento escuso entre grupos privados e agentes públicos para pilhar o país só veio à tona cinco anos depois.

Ainda segundo a nota, não se tinha conhecimento de corrupção na Petrobras e não havia qualquer investigação nos moldes da Lava Jato em curso sobre as empreiteiras.

Roberto D’Avila também ressaltou que o sigilo fiscal da empresa dele foi aberto e que ela foi escrutinada e nada de atípico ou irregular foi constatado. E que, no depoimento à Polícia Federal, rebateu afirmações que classificou de deliberadamente falsas e caluniosas apresentadas por Palocci.

Roberto D’Avila disse que tem mais de 40 anos de profissão e que se orgulha do relacionamento de confiança com seu público e com seus empregadores.

Roberto D’Avila finaliza a nota esclarecendo que, há alguns anos, sua produtora, a Intervídeo, está sem atividade e que, desde que passou a atuar na GloboNews, não fez mais captação de patrocínios.

A assessoria de Dilma Rousseff afirmou que Antonio Palocci mente e não apresenta provas nem indícios.

A defesa de Milton Schahin disse que ele é colaborador e que tudo o que tinha a declarar já foi dito.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!