Últimas opiniões enviadas
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Fui assistir ao filme pensando se tratar de uma protagonista feminina no poder, mas me deparei com uma obra claramente anti-feminista.
Enquanto no Japão Kenji Mizoguchi colocava as mulheres e suas situações opressivas em foco, o diretor coreano fez exatamente o contrário. A mulher que tem controle sobre sua própria vida é vista sob uma perspectiva negativa e, o fato de não optar pelo casamento tem impacto direto no seu caráter.
O longa é tão evidente nesta posição que no final, a chefe, que era vista por todos como uma mulher amarga,
Não o bastante, em uma das cenas da sequência final é possível ver um cartaz com os dizeres “Homens são superiores às mulheres”.se casa com o homem que a maltratou e, não o bastante, resigna ao seu cargo para cuidar da casa enquanto cede a seu marido sua posição de diretora.
Apesar de cruel, o filme emoldura um retrato da Coreia do Sul no pós-guerra e se traduz como uma importante ferramenta sociológica.. Mesmo com trabalhos revolucionários para a época, como “Obaltan” (1960) e “A Day Off” (1968), “A Female Boss” representa o senso comum dos coreanos em relação a posição da mulher na sociedade.
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"When We Pick Apples" (Kim Yong-ho, 1971) é um típico filme do Realismo Juche, que impera no cinema norte-coreano. A arte no país deve servir ao proletariado e contar histórias para "elevar o pensamento" da nação quanto à luta de classes.
Aqui, temos uma contradição ideológica que é representada pelos pensamentos das duas irmãs. Enquanto a mais nova considera chocante o desperdício das maçãs que caem e apodrecem, decidindo salvá-las para o consumo de seu povo, a mais velha leva uma vida fácil e parece não se atentar aos problemas do pomar.
Esse contraponto de ideias ressalta a luta de classes entre a sociedade socialista e a capitalista: a primeira é representada através da preocupação com a propriedade pública e a segunda pelo comportamento egoísta que se atenta mais com interesses e conforto pessoais.
Como todos os filmes da Estética Juche devem ser concluídos politicamente através da linha ideológica do partido,
o filme carrega um final feliz. A irmã mais nova convence a mais velha sobre a importância do cuidado com a propriedade pública e juntas elas chamam atenção dos outros moradores da aldeia para o desperdício das maçãs, que pertencem ao país e ao povo.
Últimos recados
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Sylvio Ribeiro
Olá Jeferson,
Estou encantado com a sua página! A sua lista de favoritos tem apenas filmes que venero, que pesquiso ou que preciso ver com urgência. Que ótimo ver um perfil com tanto afinco para com o cinema asiático, além de conter resenhas muito interessantes.
Tenho descoberto aos poucos o cinema coreano, pois minha paixão principal é o cinema e o idioma japonês. Por sinal, tenho uma lista/pesquisa sobre figuras LGBT japonesas caso queira dar uma conferida no meu perfil. Aí nos últimos tempos, pude buscar alguns títulos coreanos em alta definição e li sobre algumas obras dos anos 60 (pois conheço menos as coreanas que as japonesas) foi assim que vi seu comentário em Aimless Bullet e A Day Off.
Iria gostar muito de tê-lo no meu círculo aqui do filmow para acompanhar os comentários da sua pesquisa se for possível. Bons filmes sempre!
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Renatho Costa
Olá, eu trouxe algumas cópias de filmes (DVDs) norte-coreanos quando lá estive. Dentre eles, este que você indicou.
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Leonardo
Boa camarada, tudo certo? Tava lendo um trabalho de um Jeferson Martins: "A estética Juche: fragmentos de um realismo socialista no cinema norte-coreano de Shin Sang-ok" e fui ver aqui no filmow um dos filmes citados e o único comentário era seu, Jeferson Martins. Você que escreveu?
Versão coreana de two girls and one cup. Fiquei surpreso, já que os outros trabalhos do diretor seguem uma linha totalmente diferente, sendo muito menos experimental e mais próximo de um cinema mais político. Seu último trabalho (5.25m²), inclusive, é um curta metragem em Realidade Virtual que simula seus quase dois anos na prisão por ter se recusado a servir no exercito coreano. Já que todos os homens são obrigados a fazer o serviço militar, Kim Kyung Mook é mantido em um solitária separado dos outros detentos por ser gay. No filme, é possível experienciar um pouco da claustrofobia de sua cela e reviver um pouco dos seus momentos de reclusão. Por outro lado, Faceless Things (que é o título em inglês desse filme), é uma mistura de 2 curtas que descreve encontros sexuais com direito a muita bizarrice. Enquanto o primeiro é um trabalho de ficção, o segundo é um documentário em que o próprio diretor (pasmem) caga na boca de um outro homem. Tem que ter muito estômago. Apesar do primeiro curta ter um diálogo minimamente interessante em que os personagens ainda levantam questões pouco relevantes, o segundo é um show de horrores que serve somente pra chocar e nada mais. Talvez o diretor tinha o desejo de passar alguma mensagem com isso. Se sim, ele falha miseravelmente. Se alguém quiser ver essa bizarrice, está disponível aqui: https :// ubu. com/ film/Kim _ faceless .html
Com ressalva a esse filme, recomendo os outros filmes do Kim Kyung Mook. Se aqui ele não havia se encontrado como diretor, seus outros trabalhos mostram um profissional muito mais capacitado com uma linguagem cinematográfica muito mais refinada. "Stateless Things" é de longe o meu favorito! "Grace Period", que eu ainda não tive a oportunidade de assistir, é um documentário que acompanha a vida de trabalhadoras sexuais na Coreia em meio a constante repressão do governo que criminaliza a prostituição.