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Últimas opiniões enviadas

  • Ramon

    "Você ficaria doente se usasse a saudação fascista, é isso? Você acha que seu braço iria entorpecer se o levantasse para cumprimentar?"

    Mesmo cinéfilos de longa data podem se surpreender com diferentes enquadramentos, personagens e ambientes para retratar o contexto da II Guerra Mundial a partir de filmes que estão fora do mainstream. Alguns dos melhores filmes já produzidos na Europa se alimentam não diretamente dos conflitos armados, como fazem ainda hoje os estadunidenses, mas da vida das pessoas em suas existências cotidianas em meio à gravidade do seu tempo. Hollywood ganha nas bilheterias, mas perde e perde de muito na reconstrução da subjetividade e complexidade que envolve os conflitos.

    A Pequena Loja da Rua Principal, filme de 1965, se passa em uma cidade provinciana da Checoslováquia, em 1942, quando o país estava sob o jugo dos nazistas. Nessa cidade, o processo de "arianização" está a todo vapor, e especificamente as últimas lojas comerciais pertencentes aos judeus, as menos valiosas, estão sendo transferidas para os não-judeus, em especial os colaboracionistas. O cunhado de Brtko, protagonista do filme, é um dos mais notórios e entusiastas colaboradores do regime de ocupação e empreende, logo no início do enredo, a transferência da loja de uma velha senhora judia (senhora Lautmann) a Brtko.

    O filme lança mão de elementos cômicos, fazendo certa menção à arte de Charles Chaplin, para aliviar um pouco o peso que a própria temática carrega. Quando Brtko vai à loja da senhora Lautmann para arianização da loja, percebe que ela já não escuta bem e a coisa se torna um pouco ridícula; ela não entende o que ele diz e também não consegue ler o documento oficial que Brtko tem nas mãos. É graças à mediação de um checo, amigo dos judeus, que os três conseguem se entender e que Brtko nota que a loja, que lhe havia caído como graças, já fora, anteriormente, rapinada e que o presente é, como se diz, "de grego".

    Brtko é um típico tolo, alguém que nos filmes aparece em funções que envolvem pouco talento e imaginação. Em casa, os ânimos pendem para lá e para cá à medida que Brtko oferece à mulher condições materiais melhores do que aquelas em que vivem. A esposa aparece em completo alijamento da realidade à sua volta, das perseguições e humilhações proferidas contra os judeus, interessada exclusivamente em seu próprio destino e em frugalidades de seu estado apartado.

    A tolice de Brtko é, assim, acossada constantemente por essa situação de alienação no lar - onde ele não pode contar todos os eventos que compõem a sua aliança provisória com os judeus - como acossada também pela empatia e preocupação que vai assumindo em relação à senhora Lautmann, com quem nos identificamos em sua quase absoluta solidão. À medida que a perseguição aos judeus avança mais um passo, o estado mental de Brtko vai acompanhando esse antagonismo, colocando-o diante da escolha mais difícil de sua vida.

    A cena final é magistral, uma tenebrosa tentativa de equilíbrio de Brtko, que parecia caminhar resolutamente para uma saída honrosa e heróica, de tolo a herói, mas que é assombrado pelas vozes que ecoam do lado de fora da loja, na praça, com o oficial bradando os nomes dos judeus que devem se juntar para a partida do trem. Sua dúvida entre proteger a senhora Lautmann e arriscar a própria pele como "amigo dos judeus" ou de jogá-la aos lobos é construída com uma imensa carga de tensão, de modo que partilhamos de suas dúvidas morais naquele pequeno momento em que anos da vida são decididos em poucos segundos.

    A maior parte da originalidade do filme se situa nesse momento final, de decisão moral do protagonista. Mas sua conversão, embora seja parcialmente em função das rendas que extrai dos judeus, também tem a ver com aspectos menos visíveis e diretos, que aparecem também em nosso enredamento emocional com o filme, a despeito do carinho que vamos cultivando pela senhora Lautmann ou pelo senhor Kuchar, que embora não seja judeu detém um humanismo que o coloca do lado justo das trincheiras.

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  • Ramon

    "A realidade da vida é o funeral das ilusões"

    Sem um contexto de guerra, de crise, sem qualquer ambientação atípica, talvez Edifício Master seja o melhor filme-documentário já produzido a respeito de como é duro e implacável existir no mundo. Sem dizer isso ostensivamente no filme, Eduardo Coutinho o diz por meio de sua mágica: a vasta solidão estética das moradias e daquilo que os moradores (não) falam explicitamente. Trata-se de um profundo contraste em relação ao próprio lugar escolhido pelo diretor: o edifício Master, um prédio de 12 andares, com nada menos que 23 apartamentos por andar, localizado no bairro de Copacabana, um dos mais populosos do país.

    Nesse edifício, Eduardo Coutinho entrevista 37 pessoas. Elas se abrem diante das câmeras, expõem suas emoções e se oferecem ao ritual de um dos maiores documentaristas do mundo. Elas ficam pouco tempo diante de nós, mas o suficiente para deixar - ao menos a maioria delas - uma marca singular. É o que cada uma delas procura mesmo expressar, suas singularidades. Quando o documentário termina, queremos saber mais sobre elas, agora que estamos 21 anos distantes de suas vidas de outrora. E assim, sem que o espectador perceba, lhe foi introjetado um pouquinho mais de alteridade, uma qualidade essencial para existir no mundo.

    Como Coutinho nos enlaça tanto nesse documentário? Ao retratar essas pessoas, o diretor está falando de nós mesmos. A mistura que ele entrega de medos, desejos, fobias sociais, problemas conjugais e afetivos, violência urbana, solidão, sonhos, relações de classe, frustrações, tudo isso diz respeito às nossas vidas. Vê-los é como contemplar a morte do romantismo, das grandes paixões e ideias. Não há, em nenhum dos entrevistados, solo fértil para sonhar. A vida é crua no edifício Master e ninguém leva a sério o síndico aforista que aparece no começo do filme, mas quando ele diz que "a realidade da vida é o funeral das ilusões" está mesmo nos preparando para o que vem a seguir: uma torrente de sensações que, ao fim e ao cabo, tem tudo a ver com provérbio.

    É difícil dizer quem é o mais solitário dos moradores, mas o homem que canta My Way, recordando-se dos seus dias áureos de quando trabalhava nos Estados Unidos, onde ainda moram seus três filhos, é um forte concorrente. Ele chora e imaginamos a falta que faz a esse homem o longínquo mundo dos idos de 1960, 1970. Pensamos no quanto há de recordações de sua ex-esposa, falecida há pouco tempo, a sua história de superação sozinho em outro país; coisas que só fazem sentido para ele e para mais ninguém, mas que se tornam menos importante por isso? O truque do documentário é notarmos o quanto isso é importante, mas também revela que só importa a nós mesmos: a vida é muito solitária não somente no sentido objetivo, dos móveis, da estética do lugar, da quantidade de pessoas que residem no espaço, mas num ambiente ainda mais amplo, o da mente, pois é impossível acessar o processo emocional do outro de forma consistente - Edifício Master é um breve relampejo de contato.

    O documentário é de uma falsa simplicidade. O mundo pode ser acessado nesse documentário, ao menos no que diz respeito ao que mais nos importa ou deveria nos importar. Ele nos comove, eleva nossa capacidade emocional e é de um realismo desafiador. Essa busca de Coutinho por verdades que não estão aparentes e que são captadas magistralmente pelo diretor é o que fez dele um dos nossos maiores cineastas.

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  • Ramon

    Candelaria e Victor Hugo, casal de cubanos, levam uma vida de sobreviventes. Na década de 1990, período de grave crise econômica em Cuba, os dois, idosos, trabalham para sustentar-se do jeito que dá, sob imensas dificuldades. No prédio em que moram, o racionamento de luz constante e a escassez de refeições fazem de suas vidas uma batalha cotidiana, inclusive à margem da legalidade: Victor Hugo desvia parte dos charutos da fábrica onde trabalha para vender no mercado paralelo e complementar a renda. Numa das primeiras cenas, o casal está deitado, prestes a dormir, e Candelaria observa o lustre no teto, adorno de tempos muito antigos e já sem qualquer função, e sugere, bem humorada, uma história que sairia no Granma (jornal oficial) sobre um lustre inútil que cai do teto matando dois idosos. As coisas parecem mortas por fora, mas pulsam por dentro.

    A vida do casal está prestes a mudar. No hotel em que trabalha, Candelaria, cuja função é separar lençóis e roupas sujas na lavanderia, se depara com uma câmera filmadora que é jogada por engano, pelo duto do hotel, por uma das funcionárias da limpeza. Ela leva o objeto para a casa na esperança de fazer algum dinheiro com ele, mas Victor Hugo não quer que ela se envolva em qualquer ilegalidade, por isso lhe diz para devolver a câmera. O objeto logo perde a função comercial e ganha função afetiva, quando Victor Hugo, à noite, resolve testar o equipamento e grava Candelaria se preparando para dormir. Isso desperta nele emoções que pareciam adormecidas e nos faz lembrar uma criança descobrindo um brinquedo novo e encantador.

    Candelaria passa a se entregar a esse jogo junto com o marido. Ela se filma para que ele a assista. Ele se empolga numa manhã e tenta beijá-la na praça em uma bela cena cômica - ela rejeita o gesto abruptamente pois há muito tempo que ele não a beija. Há um voyeurismo tardio que Victor Hugo descobre nessa conexão com a câmera, pois os vídeos parecem revelar a ele algo que sem o apoio do aparelho não lhe era visível aos olhos. Vemos o despertar de algo mágico presente nos enquadramentos, na encenação, na naturalidade com que esses corpos se desnudam e se revelam em uma beleza que diz respeito não exclusivamente ao aspecto físico, mas na magia de uma força primitiva que imaginavam não existir mais.

    Acessamos a crise econômica do país especialmente através da rádio oficial, é por ele que o casal se informa sobre as dificuldades de Cuba. Misturada à atmosfera melancólica e sem vida da residência do casal, a cena gera uma caótica recordação do ambiente orwelliano de 1984, com a teletela anunciando os sucessos do regime político na economia. Mas não vejo o filme como uma crítica ao governo de Cuba. Essa tensa convivência com o embargo econômico, e sua trajetória como minoritário ponto de resistência à lógica da ordem global, acabam fazendo parte necessariamente de plano de fundo de qualquer filme que trate minimamente de aspectos sociais do país.

    A redescoberta do desejo rende a melhor cena do filme, uma combinação de vida e de tristeza ao mesmo tempo, pois as coisas andam mais juntas do que a maioria das pessoas gostaria de admitir. Victor Hugo vendeu um relógio antigo e caro por uma mixaria. Tudo isso para proporcionar uma noite mais íntima com Candelaria. Nessa noite, a mesa é farta, eles riem, se divertem e, pouco antes de fazerem amor, trocando carícias, Candelaria sente falta do relógio e critica Victor Hugo por vendê-lo. Ele responde com muita ternura: "o que fazemos guardando coisas quando podemos morrer amanhã?" e então um estalo desperta em Candelaria todo o esforço que o homem teve e as renúncias para proporcionar a ambos um momento que transcende qualquer noção objetivada de valor.

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  • Mths Gonc
    Mths Gonc

    Oi Ramon, tudo certinho?

  • Gy
    Gy

    Talvez isso soe meio persecutório, mas eu cliquei sem querer no teu perfil e achei os teus favoritos interessantes, hahaha. Posso te adicionar para acompanhá-los? :D

  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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