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Últimas opiniões enviadas

  • Lara P. J. P.

    A câmera que esfaqueia.

    Esse é um daqueles filmes que imagino ter sido feito com a intenção de ilustrar e explorar várias linhas tortas e embaraçadas de algumas sensações que possamos sentir como seres vivos, que não estão situadas em nenhum lugar exato, em nenhum conceito de fácil assimilação. Porém, ao abordar questões tais que provém ou incitam sensações desconfortáveis e as alegorizar e sangrar com fatos explícitos como o homicídio, muitos espectadores podem simplesmente tratar de tal filme taxativamente como um "filme de terror", sendo que o mesmo não é lá bem isso, frustrando visitantes recentes que compraram a ideia de assisti-lo com expectativas meramente "terrorescas": do gore aos jumpscares, ou simplesmente, do terror localizável. Acredito que muitos filmes tidos como "de terror" se relacionam com esse conceito, sendo o meu exemplo favorito o filme Possession de 1981 de Andrzej Żuławski.
    Tendo em vista minha percepção tal deste filme, irei abordar duas capturas que não tem relação direta com o que conhecemos como o puro filme de terror e suas regras d’être, e sim que tem relação com o cinema por si e em si:
    1. O olhar documental como o olhar desprovido da pureza que pretende ter, ao contrário, a câmera documental como a captura de imagem mais arbitrária do cinema.
    Filmes documentais me interessam enormemente devido ao caráter imanente e poético que muitos desses conseguem alcançar. Filmes como “Edifício Master” e principalmente “As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty” são perfeitos exemplos de como o olhar documental é a ferramenta mais efetiva para alcançar o desejo como plenitude, e não como falta, no cinema. Entretanto, assim como podemos afirmar a beleza de um filme como “As I Was Moving Ahead...”, podemos reconhecer as perversões e os maus afetos que o documentário pode acarretar, alegando eu, com um sorriso malicioso em meus lábios, que “Peeping Tom” é o evil twin, o doppelgänger demoníaco de “As I Was Moving Ahead...”. Os dois filmes tratam do olhar, da percepção de um sujeito sobre os outros: em “I Was Moving Ahead...”, contemplação da vida cotidiana, do calmo amor das pessoas que nos rodeiam; em “Peeping Tom”, o olhar voyerístico, a perversão sadista de captar a imagem dos sujeitos para si. O olhar documental não é estritamente uma contemplação lighthearted, nem uma perversão, pode-se ser um ou o outro, ou nenhum, há-se uma enorme liberdade, porém o que a limita não é a realidade do mundo que a mesma tenta retratar, e sim o sujeito que a filma, o cineasta, o olhar documental. Um bom exemplo de como esse olhar é inescapável, é o filme “Santiago”, que tem a pretensão inicial de retratar um único personagem, mas ao final do filme, tanto nós, como espectadores, como o diretor deste filme, reconhecemos que o olhar e as concepções do diretor sobre o personagem, o protagonista, são tão presentes e sólidas, que talvez o olhar do diretor sobre o personagem tome mais espaços do que a própria filmagem documental do rosto e dos discursos do personagem do qual está a se documentar.

    2. A mulher cega que “vê” o sentido das imagens.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    Em uma cena de “Peeping Tom”, a mãe de Helen, mulher cega, visita o abrigo cinematográfico do personagem principal Mark Lewis, e enquanto as cenas do rosto apavorado de uma das mulheres que Mark assassinou e filmou é exibida perto de si, a mulher expressa que apesar de não poder enxerga-las, ela "sabe" que aquelas imagens não são saudáveis.

    Ao não poder enxergar, o enigma da imagem toma conta da cena como um enigma que não existe como algo a se desvendar pela captura óptica, não principalmente, mas a se enxergar melhor e mais fortemente e imediatamente pelos julgamentos de valor que emitimos do nosso interior para fora, ou seja, de nossas subjetividades em encontro às imagens capturados exteriormente em um mundo e em sentidos por vezes estrangeiros a nós. Um filme, uma produção artística, não se é mensurada conforme termos objetivos das imagens, dos discursos que exibe, mas sim do encontro, ou mesmo do confronto, da mesma com nossa psique, que é-se tão estrangeira a ela quanto ela é para nós, mas que ao fim da sua exibição se embaraça numa experiência artística.

    "- É apenas uma câmera.
    - Apenas?"

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