Marcelo

Aceitar-se como artista é como realizar o próprio parto... e nós estamos nascendo nesse caso!
Faz algum tempo que me aceito assim, mas minha idéia de arte difere de muitos, então, a idéia de artista também.
Sou artista porque transformo, porque amo e sou apaixonado... meu olhar é poético, minha imaginação um mistério e minha prática presente.
A arte é sentimento, puro sentimento... assim como o amor ou a religião por exemplo. Quem ousaria dizer que teu amor não existe se é no teu coração que ele nasceu?! Então por isso a arte será sempre arte pois ela nasceu de tudo em nós e sentimos ela em cada partícula do nosso corpo... ao contrário do discurso que ela só é arte quando vista por outros. Isso pra mim é o cumulo da insegurança e dependência.
Tudo que fazemos como arte, de forma instintiva e intuitiva, geralmente não tem nenhum propósito consciente, é algo natural, é uma necessidade. Nossas obras são forjadas de nossas emoções e nossas angústias, nada devo provar! Apenas sentir e compreender ainda mais a mim mesmo, e aos outros... pessoas podem se encontrar numa mesma obra... mas cada um trilha caminhos diferentes até esse encontro. Quando elas chegam ao seu destino, de forma singular vão percebendo o que mais lhe interessa, o que lhe dão prazer e lhes emocionam de verdade.
Esse é o deslumbrador... ele não precisa sofrer para estar ali contemplando, e nem o artista precisa... mas muitos fazem arte porque beiram a loucura e precisam dela como uma espécie de remédio, de controle do eu que está entre a infância e a loucura. Brinca de ser aquilo que ja é! Mas tudo é verdade... nada é farsa, são símbolos do real que nos afeta de variadas formas, na verdade... a arte é a sinceridade jogada na cara do mundo e de todos... ela os lembra de que são feitos, os faz parar e olhar... sentir esse eu de forma natural e sem máscras (ou com todas elas), e como percebemos, não sentindo-se só com esse eu que parecia tão incompreendido.
"Se aceitar como artista é a primeira perna fora do barco. Nós não temos medo das profundezas oceânicas de nossas mentes... e temos a habilidade para nos mantermos sob a água sem nos afogar nas fortes ondas da loucura. Brincamos com ela e aprendemos á cada braçada mais à frente. As pessoas nos olham em terra firme, enquanto nos deleitamos com todos os mistérios que esse mar sem fim oferece. Vamos todos flutuar sob essa água negra e misteriosa, sem medo de se perder ou de se afogar. Não sou eu que preciso olhar terra firme... são as pessoas que não tiram seus olhares do mar."

Marcelo Cunha