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Últimas opiniões enviadas

  • Natan

    SPOILER DETECTED!!!

    "Can we go back to the Room?"

    Semanas após o fim do martírio, Jack (Jacob Tremblay) interpela a frase supracitada à mãe. Espantada pelo pedido, Joy (Brie Larson) acata-o mesmo que receosa, a fim de romper as últimas amarras psicológicas que a rememoravam do lugar. Jack, por outro lado, vê o retorno ao Quarto como algo muito além da amargura de sua mãe. Para ele, o Quarto sempre simbolizou a fantasia, despreocupação e acalento materno que lhe fora contrariado diante do enfrentamento para com o mundo real. Dessa forma, retornar é deparar-se com um passado mesmo que temporalmente próximo, distantemente superado.

    Após ser sequestrada, mantida em cativeiro e estuprada regularmente por dois longos anos, Joy dará luz a Jack, com que conviverá por mais cinco anos em busca de, também um dia, poder enfim contemplar a luz além de sua clausura. Assim, de maneira similar a de Guido em A Vida é Bela (1997), Joy conceberá uma ilusão que ausente seu filho da crua e terrível realidade em que os dois se encontram, tornando então o Quarto a realidade tangível à sensibilidade do filho.

    Para tal, o início de O Quarto de Jack (2015) revela-se cadenciado e misterioso quanto às origens da rotina ditada por Joy. Dessa forma, é interessante perceber como pouco a pouco passamos a vê-la não mais como opressora, mas como mais uma oprimida. Contemplando-nos então com uma introdução de ritmo vivaz, tem-se não só a atenção do espectador junto aos desdobramentos narrativos, como também uma complacência e empatia pela situação ferrenha das protagonistas. Assim, em pouco mais de quinze minutos de projeção, já estamos tão absortos no universo do filme, que o clímax da fuga facilmente nos arrebata algumas lágrimas.

    No entanto, o efeito só seria possível com atuações centrais que fizessem jus à complexidade do tema abordado. E aqui, é quase covarde como Larson e Tremblay nos contemplam com performances primorosas e extremamente sensíveis. Desse modo, se por um lado a alternância entre o olhar vazio e deteriorado do cárcere e o sorriso tímido e solidário ao filho, conferem a Joy um sofrimento velado e angustiante, Tremblay encarnará Jack com uma ingenuidade espontânea da sinceridade de suas perguntas e uma esperança reconfortante de seu tom de voz, contrapondo integralmente a personalidade da mãe e dinamizando a convivência da relação e os conflitos do filme.

    Talvez até mais do que a já esplêndida Larson, Tremblay desponta como uma das atuações mais consistentes da temporada (podendo facilmente ter pleiteado uma das vagas da Academia) não só pela sensibilidade com que apresenta seu personagem, mas principalmente pela forma como suas características, aliadas a um perspicaz trabalho de direção, contagiam largamente o tom do filme. Assim, a partir da inocência dos olhos de uma criança, o espectador é exposto a uma visão curiosa e minimalista de objetos e sensações vistas como banais a nosso olhar já habituado. Não à toa, postando-se pelo ponto de vista de Jack, Abrahamson consegue captar a singeleza de móveis, mudanças de clima e meras percepções da realidade, sem que para isso tenha que recair ao costumeiro melodrama. E vale aqui ressaltar a estupenda cena da fuga em que um laborioso trabalho de foco, som dissonante, câmera lenta e enquadramentos fechados consegue transpor visualmente todo o choque e nervosismo de Jack.

    Abrahamson é ainda cuidadoso junto ao seu diretor de fotografia Danny Cohen ao estabelecer uma lógica de enquadramentos que dialogue com a claustrofobia experimentada pelas protagonistas. Desse modo, é fascinante observar como os iniciais quadros quase que sempre em primeiro plano ("close") vão se abrindo conforme os dois escapam e são jogados ao mundo, de forma a melhor valorizar o corpo das personagens como um todo do que os antes recortes cinematográficos feitos dele. Até que por fim, a cena final mantenha uma câmera fixa enquanto os dois caminham ao longe, denotando imagética e metaforicamente, a superação da desgraça transcorrida.

    Conduzido ainda por uma trilha evocativa, mas nunca exagerada de cordas (incluindo o piano), O Quarto de Jack deixa parte da tensão e ritmo de sua primeira metade, optando por desenvolver a repercussão midiática e familiar das consequências psicológicas, tanto degradantes (Joy) quanto recém-descobertas (Jack) das duas protagonistas. Mesmo que numa segunda metade mais arrastada, o filme consegue cadenciar bem os momentos de introspectividade e explosão emotiva, fazendo com que momentos como a da rejeição do avô (William H. Macy) em relação a Jack (por ele ser cria de um estuprador), inspirem ainda mais empatia e comoção pela vida dos dois coitados.

    Dentre os diversos temas abordados em O Quarto de Jack (pressão da mídia, realidade cruel em oposição à fantasia agradável, conservadorismo de parentes), tem-se um que embora mais ameno, permeie de forma incisiva durante toda projeção: a maternidade. Quando perguntada se nunca passara pela cabeça a possibilidade de tirar a própria vida, Joy manifesta um incômodo compreensível. Percebendo isto, a repórter muito sagazmente redireciona a pergunta focando-se na importância de Jack em sua vida, o que rapidamente provoca um lindo sorriso de satisfação no rosto de Joy. Em outras palavras, durante os cinco anos de clausura, assim como Jack só conseguiu sobreviver às custas da mãe, Joy também só conseguiu sobreviver às custas do filho. E se Que Horas Ela Volta? (2015) comprovava o desconsolo de maternidades deficientes, aqui, O Quarto de Jack corrobora a força de um vínculo materno. É portanto de uma beleza indescritível que o filme acabe numa conciliação entre mãe e filho, afinal, foi da pureza e vivacidade desta relação que se sucedeu toda a motivação e conflito do filme. E que maior prazer teria uma mãe do que acompanhar o enfrentamento pelo qual uma criança passa durante seu processo de amadurecimento?

    O amadurecimento de uma criança é, sem dúvida, um enfrentamento sutil e demorado. No entanto, monumental se visto diante da amplitude de informações, experiências e sensações que este grande quarto chamado mundo presenteia todo dia a cada um de seus residentes.

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  • Natan

    SPOILER DETECTED!!!

    Considerado por muitos a grande obra-prima de Tim Burton, Edward Mãos de Tesoura (1990) estabelece desde sua abertura o tom que tornou Burton um dos diretores mais prolíficos do final da década de 80 e início de 90. Embalado pela enigmática e evocativa trilha sonora de Danny Elfman, transitamos por suntuosas portas e extravagantes máquinas que, diante de sua monocromia e lugubridade, ostentam uma adoração quase que sublime pelo surreal. Desse modo, quando somos obrigados a ouvir a história de uma frágil senhora em seu típico ambiente familiar, o choque entre as estéticas é algo inesperado que, no entanto, se mostrará bastante recorrente durante o decorrer da projeção.

    Ao se deparar com um retraído e excêntrico jovem portando tesouras no lugar das mãos, Peg Boggs (Dianne Wiest) decide solidariamente hospedá-lo em sua residência, suscitando uma série de ocorrências que mudarão a rotina da vizinhança como nunca antes. O que a uma primeira impressão poderia se mostrar como uma premissa falível e enfadonha, Burton consegue inspirar dinamicidade e sensibilidade, desenvolvendo tanto um protagonista imprevisível e inovativo (passando de jardineiro, cabeleireiro de cães e mulheres até, por fim, escultor de gelo), quanto temas que examinam mazelas sociais como a solidão e a exclusão.

    Assim como em Bettlejuice (1988) e Batman (1989), Burton demora-se em takes aéreos e movimentações de câmera obtusas (como no momento em que Peg sobe as escadas da mansão) que, dialogando com a estética do expressionismo alemão, realçam ainda mais o surrealismo de seus filmes. Por outro lado, embora didático, Burton também funcionalmente estabelece uma lógica visual maniqueísta no contraste entre a felicidade (colorida) da vizinhança e a solidão (monocromática) de Edward (Johnny Depp), distinguindo-o dos já esotéricos moradores pela sua condição ainda mais inusitada. E para isso, a figurinista Colleen Atwood é ainda detalhista na concepção de uma vestimenta metálica e fúnebre que, juntamente ao cabelo desengonçado, ao semblante sempre machucado e, especialmente, aos maneirismos ingênuos de Depp (como os olhares condescendentes e o andar introvertido), retratam uma criatura inicialmente atroz, mas interiormente melancólica e miserável (como a boa e velha Criatura de Frankenstein).

    Johnny Depp que aqui mais uma vez incorpora um de seus famosos (e extravagantes) personagens, interpreta-o sem grandes estouros, de forma convincente e funcional. Assim como Winona Ryder, que também encarna operativamente Kim como mais uma de suas inofensivas mocinhas (Drácula de Bram Stoker (1992), A Época da Inocência (1993), e de certa forma até Bettlejuice, para citar alguns). Infelizmente, à exceção deles, a maioria das demais personagens revelam-se como caricaturas ambulantes que, mesmo que agindo assim, acabem consequentemente inspirando ainda mais empatia por Edward, enfraquecem a riqueza e naturalidade do universo do filme.

    Problema de naturalidade este que se estende também a alguns segmentos da trama, que, por se mostrarem saídas narrativas desleixadas e preguiçosas, acabam por tornar o tom excêntrico de Burton em situações tediosamente genéricas e familiares. Para mencionar alguns exemplos, o filme utiliza a fórmula batida de gags inoportunas que constantemente interrompem uma revelação importante (como Edward tomando choque ou deparando-se com alguém sem conseguir assim declamar seu amor por Kim), a artificial ferramenta de sumir com todos os figurantes para, após uma descoberta importante, surgir com todos de uma vez só (como na cena em que Jim (Anthony Michael Hall) esbarra com Edward sozinho na rua, seguido em frações de segundos por todos os demais vizinhos) e o típico conflito final arranjado, em que o universo do filme parece se resumir somente às personagens principais (ou vai me explicar como Kim e Jim conseguiram subir a estradinha até a mansão antes de toda a multidão a qual eles inicialmente estavam juntos). Assim, detalhes como estes podem até soar inicialmente irrisórios. No entanto, mesmo que subconscientemente, esse exagero e genericidade na realização de cenas particulares, acabam quebrando a verossimilhança até então estabelecida no tom e universo do filme.

    Devido a esta discrepância no tom, os flashbacks incumbidos em contar o arco de Edward com seu Inventor (Vincent Price) acabam soando artificiais, visto que toda a bizarrice da "fábrica" é imediatamente seguida por socialites e seus problemas canis, revesando-se assim sucessivamente. Não só isso, como estes flashbacks mostram-se, mesmo que minimamente operativos à criação de empatia por Edward, extremamente anti-climáticos e dispensáveis, uma vez que toda informação apresentada neles já nos é resumida desde o início do filme (basicamente, o Inventor morre antes de conseguir finalizar as mãos de Edward. Algo que já sabemos desde as primeiras falas de Edward).

    Sinto por conta do elencado que Burton poderia muito bem ter evitado o exagero do clima familiar, descendo a mão ainda mais em suas excentricidades, sem que para isso, tivesse de abdicar de memoráveis personagens e uma linda história de amor (vide A Noiva Cadáver (2005)). Não digo, no entanto, que Edward Mãos de Tesoura não tenha um memorável protagonista ou uma linda história de amor, afinal, a cena em que Kim dança sob o gelo é não só a sedimentação da química do casal, como também uma dos momentos do cinema mais sublimes da década de 90. O que quero dizer (mais uma vez) é que o tom e universo tão bem fundamentados em suas duas obras anteriores e até em momentos específicos deste filme são aqui muito inconstantes, prejudicando uma imersão totalmente plena que poderíamos ter junto a obra.

    Mesmo assim, Edward Mãos de Tesoura é franco em sua mensagem e estudo de personagem: estará o problema nas abominações que nos cerceiam, ou no cerco que impomos a elas?

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  • Natan

    SPOILER DETECTED!!!

    Após assistirem a partida de futebol pela qual tinham fugido escondidas, o tio das cinco garotas (Ayberk Pekcan) decide instalar barras por toda a casa a fim de as manterem longe do mundo exterior. E é sutil (porém ácido) como o primeiro comentário acerca da decisão do tio não se refere à religião ou a elas próprias, mas sim "E depois vieram os homens...". Dessa forma, mesmo que a religião impere fortemente nas tradições e costumes de uma sociedade como a turca, vê-se que a questão central recai na verdade sobre o famigerado machismo. Machismo este resguardado por leis sagradas que ditam e limitam somente a liberdade das mulheres em sociedades ditas democráticas (afinal, por que os garotos também não são repreendidos por terem "garotas esfregando as coxas em seus ombros"?). Cinco Graças (2015) retrata então a jornada por libertação e autonomia de cinco garotas, que, decorrente tanto de machismos ostensivos quanto daqueles velados, podia ser muito bem a história de quaisquer outras deste planeta.

    Estabelecendo um ritmo de crescente tensão, Cinco Graças encadeia as cenas de forma tão natural que seus 90 minutos de filme correm de maneira quase que imperceptível. Sendo assim, é gratificante observar como cada novo elemento, motivação ou personagem dinamizam as relações do filme, contemplando um enredo que, inicialmente de vários núcleos, fecha-se na proposta central da obra. Para citar alguns desses momentos, constatamos que a despedida inicial e o endereço da professora em Istambul se mostrarão essenciais para os planos de fuga de Lale (Günes Sensoy), assim como sua amizade crescente com o entregador Yasin (Burak Yigit). E por fim, temos ainda a inversão das antes enclausuradoras barras como forma de proteção ao casamento indesejado.

    Junto à maravilhosa coesão narrativa, Deniz Gamze Ergüven concebe ainda não só um tema de extrema relevância, como também o apresenta num universo de ricas e genuínas personagens que, por consequência, tornam a obra final muito mais poderosa e imersiva ao espectador. Desse modo, mesmo que diante de uma mesma realidade, Lale, Nur (Doga Zeynep Doguslu), Ece (Elit Iscan), Selma (Tugba Sunguroglu) e Sonay (Ilayda Akdogan) possuem personalidades muito diferentes entre si. E até mais interessante do que estas diferenças, é notar o impacto que cada irmã que deixa a casa infligi sobre as que ficaram. Por conta desse cuidado em desenvolver as personagens, conseguimos acompanhar didática, mas nunca artificialmente, as motivações de Lale pela busca de uma vida melhor do que as de suas irmãs. E para tal, Ergüven e Sensoy são primorosas na composição de uma Lale que foge da imagem de garota intrinsecamente segura de si e desprendida de sua realidade, compondo a partir de suas inconformações, inocência e fragilidades (como no lindo e significativo abraço final) uma personagem por quem tenhamos muita empatia de se ver empoderar e desafiar as conjunturas que a cerceiam.

    Cuidado este também observado na sutileza com que Ergüven emprega a direção e roteiro do filme. Sempre evitando cenas expositivas, sutilmente descobrimos que o conservador tio estupra esporadicamente uma de suas sobrinhas, que Nur se enoja dos doces que lhe são oferecidos após o suicídio da irmã, por se lembrar tanto da falecida como também da associação destes com o seu futuro e forçado casamento, e que mesmo quando à parte das tradições nacionais, os homens podem ser tão machistas quanto, por simplesmente se acharem superiores às mulheres, como na cena em que Ece convida um transeunte para dentro do carro. Preferindo sugerir a mostrar, Cinco Graças consegue ser muito mais incisivo e claustrofóbico do que muitos dos espalhafatosos atuais filmes de terror. Assim, o filme é também respeitoso em trazer a cena do suicídio sem qualquer trilha sonora (que é intimista na medida certa durante o resto da projeção), deixando com que o peso da cena deixe se levar pela tensão criada até aquele momento.

    A talvez única ruim cena seja aquela em que as garotas assistem dentro do estádio ao jogo de futebol. Sendo nitidamente filmada dentro de um estúdio, o problema da cena não está em seu tom ou em sua incoerência/descartabilidade perante o resto da obra, mas simplesmente na falta de orçamento que os obrigou a filmá-la da forma descrita. Mesmo assim, este pequeno infortúnio é totalmente ofuscado pela leveza e dinamicidade com que a câmera se movimenta, transitando pelos ambientes e seguindo as personagens com o mínimo de cortes possível, como se o espectador fosse de fato a sexta irmã.

    Empregando um ritmo invejável a diversas produções americanas de muito mais cacique, Cinco Graças nos apresenta uma luta crescente e irrefreável que deve não ser somente pleiteada por todas as mulheres, mas por qualquer ser humano desse globo. E cabe aqui mais uma das diversas sutilezas que perpassam o filme: a maior luta da humanidade (mulheres e homens) sempre foi a demanda por liberdade. Liberdade esta geralmente representada imageticamente através da figura de um cavalo livre. E felizmente Mustang (título do filme), acima de um carro, é uma raça de cavalo.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

  • Rômulo
    Rômulo

    To tentando marcar todo filme que eu já vi na minha vida hahaha

  • Rômulo
    Rômulo

    O que o tédio não faz numa tarde de sabado?

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