Ptrucio Argolo

É genial como é tratada a relação entre sonho e vida real. Os diálogos são propostos numa ausência de linearidade totalmente condizente como os sonhos costumam ser. É nessa falta de ganchos diretos entre os diálogos que eles se entrelaçam e discorrem sobre o fantasioso e o existente e sobre as várias conexões possíveis entre esses dois planos. O filme é encharcado de reflexões, ao ponto de me fazer parar um pouco durante todo ele pra não perder nenhum fio de ideia. Bem justificado e envolvente, além de uma soundtrack que imprime bem os sentidos, superposições primorosas enquanto as cenas acontecem, fazendo um jogo entre o que é dito e o que é mostrado. É uma obra pra ser vista sempre quando nada fizer muito sentido e várias vezes pra que se consiga absorver todas as ideias de questionamentos lançadas. Amor por Waking Life.

A fotografia é muito boa, o conjunto da obra não muito. As questões a cerca das problemáticas e dos tabus sobre a "gerontofilia" são mal abordadas, particularmente achei raso, atuações e enredo não convincentes. Fiquei na expectativa do "agora vai" em algumas tomadas, mas acabei por contar os minutos pro final.

Interpretações e direção muito boas. Senti o filme passar sem exageros, de maneira bem real. A história de Nise é totalmente incrível e foi muito lindo perceber o cuidado no tratamento da imagem dela. Glória foi incrível também nesse, defendendo uma imagem muito sóbria do papel, percebe-se em Nise protagonismo como mulher e como profissional: transgressora, a frente de seu tempo, sensível às questões humanas. É uma obra comovente.