Raphael Takita

O filme mostra a dificuldade de julgar situações dentro da parcialidade humana, de enxegar as coisas como são. A verdade é ofuscada, dando lugar a estratégia. Por fim, o julgamento acaba sendo feito pelo próprio advogado. Ao aceitar as condições de Misumi, ele acaba aceitando que o culpado deve morrer, e sua morte justa, pois é para o bem de Sakie.

Não há testemunha ocular do assassinato. Apenas o espectador. Porém, nem mesmo este seria confiável. Por vários momentos, questionei minha memória "foi ele mesmo?". Na saída da sessão, fui abordado por uma senhora, que acreditava que Sakie era a assassina, o que faz sentido.

Olhando o desenvolvimento do filme, a aproximação de "Kiyoko" de sua família original é diretamente proporcional a aproximação de Miyuki com sua família. Inclusive emocionalmente.

Miyuki amadurece muito vendo Gin lidar com sua filha. E também amadurece se aproximando de Hana, após entender a importância tanto dela como de Gin na vida da okama, começando inclusive a chama-la pelo nome. No meio desses laços "fraternais" criados, Miyuki passa a refletir sobre seus pais, passa a desejar criar laços semelhantes com eles.

A sequência das últimas cenas evidencia muito bem isso, da maneira como ela deixa suas roupas de rua pra trás, nos argumentos que ela usa para persuadir Sachiko, terminando na última cena do filme onde por "coincidência" ela se reuni com seu pai.

Mas fica claro com o desenrolar das relações que isso não é possível. Ele nunca consegue de fato quebrar a barreira entre ele e os estudantes. O que é compreensível, já que ele constantemente se coloca acima dos alunos. E no momento em que ele "sobe um degrau" e assumi sua obrigação de avaliar/repreender, sua classe se vira contra ele. E em troca ele se vira contra sua classe.

Acho que não existe um lado certo, ambos alunos e professor cometem erros, mas o resultado é certamente negativo, como exemplificam bem as ultimas cenas do filme. Alunos que absorvem frações dispersas do conteúdo. A garota que não aprendeu absolutamente nada. A escola que expulsa alunos e continua como se nada tivesse acontecido.