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Últimas opiniões enviadas

  • Rodrigo

    Existem várias categorias para chamar os filmes – e outros objetos artísticos também – que fruímos, aproveitamos, curtimos. Tem uma categoria que é boa, mas é informal, e varia muito de pessoa a pessoa por ser uma categoria subjetiva: a dos filmes lindos. É claro que estou fazendo uma brincadeira aqui, pois estamos acostumados a ver como “categorias de filmes” o suspense, a comédia, o drama, e por aí vai – e estes também tem muito de subjetivo por trás de sua pretensa objetividade. Mas sigamos com a nomenclatura subjetiva lindo. O que é um filme lindo? Tenho certeza que muitos de nós já ouviram isso: “tal filme é lindo, lindíssimo”, ou variantes, como “que filme belo”, “é um filme muito bonito”, etc. etc.

    Eu acho Túmulo dos vaga-lumes um filme lindíssimo em todo o horror que aborda e com a sensibilidade com que trata das questões relacionadas ao casal de irmãos japoneses no final da Segunda Guerra; também acho O sabor da vida, da Naomi Kawase, um filme muito bonito, novamente um filme japonês e novamente com trato sensível tocante; Morangos silvestres, do Bergman, também entra nesse rol, com a beleza da memória do protagonista. Numa linha mais filosófica, Asas do desejo, de Wim Wenders, é um filme lindo ao questionar a existência, o ser e o não ser, ao questionar o tempo vinculado à existência humana. Por outra razão Cinema paradiso é lindo, maravilhoso ao trazer a experiência cinematográfica e novamente o tempo, pois o protagonista cresce ao longo do filme e se depara com a lembrança de sua vivência passada. Tomboy é um filme bonito ao retratar a homossexualidade de uma criança de modo nada caricato, ao contrário, mostrando suas tensões; A melhor juventude, uma odisséia de 6 horas que atravessa a história recente da Itália é outra maravilha, filme lindo ao mostrar as vicissitudes da vida, os caminhos diversos, as paixões, as lutas...

    Paro por aqui porque se não este texto será somente uma enumeração dos tais filmes lindos. Vou me concentrar a partir de agora – e sumariamente – no filme Antes de amanhecer, a lindeza de Richard Linklater (1995). Ali temos duas coisas centrais para o entendimento do filme e que se relacionam com os filmes acima citados: a experiência do amor e do tempo. Acima, de um jeito ou de outro, todos os filmes lidam com ao menos um destes temas, amor e/ou tempo, e os tratam de maneira bela, delicada, sensível, sem caricatura, sem forçação de barra, sem clichês – ou quando com clichês, estes se relacionam bem com o amor e com o tempo de modo a integrar à experiência de amor e de tempo. Digo experiência porque quero dizer que é algo que encontra eco na vida real, vida real aqui entendida como uma experiência de vida, uma vivência, algo que vira memória. Em suma: coisa de humano, de ser vivo, que para ser assim deve ser humano e manter relações humanas, ou seja, interpessoais, intergrupais, recusando assim, pois, as relações de internet, as relações robóticas e mecanizadas, etc.

    O que é então o filme do Linklater? Há dois jovens num trem na Europa, ambos lendo, ela na frente e ele atrás do vagão – eles não se conhecem, mas já percebemos que tem algo em comum, o hábito de leitura. Por algo do acaso, algo tão particular e presente nas nossas vidas, ela troca de lugar e senta ao lado dele, mas na fileira do lado. Trocam algumas palavras e, também por razoes circunstanciais, ele, Jesse (Ethan Hawke), a convida (Celine, interpretada por Julie Delpy) para ir ao vagão de restaurante. Aqui começa uma breve história de amor, que dura mais ou menos 24h – tempo da narrativa, que começa agora e termina no outro dia, pela manhã, quando Jesse deve embarcar para os EUA (estão em Viena, Áustria). A cena que estamos comentando – a conversa no vagão do restaurante – é o ponto de partida de uma relação que vai ser muito profunda e intensa, porém breve. Jesse e Celine, americano e francesa, conversam como se se conhecessem desde crianças, falam de suas vidas, de seus gostos, brincam, enfim, uma conversa que todo mundo gostaria de ter e quem já teve sabe como é bom, de perceber a reciprocidade e a intimidade, as semelhanças com o outro, num processo incipiente de alteridade, com muitas trocas, enfim... (Acho que aqui vale um pequeno parêntese para dizer de onde eu vejo esse filme e a sociedade que está representada lá: eu sou uma pessoa que acredita no amor, porque vivo cada dia intensamente imerso nesse sentimento – no meu caso com minha companheira, a Evelin, mas nos filmes citados o amor se mostra de muitas formas e entre pessoas variadas. Acreditar no amor não é, em hipótese alguma, negar a banalização que há dessa palavra no mundo globalizado em que vivemos. A palavra “amor”, esse substantivo abstrato, assim como muitos outros é banalizado, as pessoas dizem que amam a todo instante, quando na verdade muitas dessas relações duram alguns meses, são inócuas, enfim. Dizer que o amor existe não excluí o fato, visto a olho nu, de que as relações interpessoais estão cada vez mais escasseando no mundo, devido à internet, a todos os processos tecnológicos e econômicos que nos afastam do ser humano, da experiência vivida e sentida.) Agora voltemos ao filme.

    Quando Jesse precisa descer, faz uma proposta indecorosa, com o perdão da brincadeira, para Celine: a convida para passar o dia com ele, pois amanha ele viajará e eles possivelmente nunca mais se verão. Lembremos: é um homem estranho que convida uma mulher para passar um dia com ele, sozinhos, num país distante de suas casas. É um quadro que, para as pessoas minimamente atentas, remete ao machismo e possibilidade de violência de gênero. Não é isso que acontece. O filme vai contando as horas que eles passam juntos, cada vez imersos numa relação importante, intensa, verdadeira, na qual se jogam de cabeça como se não houvesse amanhã. Pode soar clichê, mas pensemos que tipo de experiência esse filme nos conta. É uma vivência muito real, muito viva que é retratada ali. Ao longo da narrativa descobrimos mais sobre duas vidas, sobre as desilusões amorosas que tiveram; assistimos a cena linda – e um tanto clichê – do primeiro beijo, no alto da roda-gigante, e do abraço em seguida ao beijo – isto é muito importante, um abraço depois do beijo demonstra afeto, não foi um simples caso, um beijo qualquer, percebe-se que ambos desejam um ao outro com algum sentimento, não só pulsão sexual ou algo do tipo.

    O filme avança, passa pela noite, bares, caminhadas, conversas. O assunto fatídico vai se aproximando: e quando se separarem? Depois de algumas horas de relacionamento intenso (por favor não pensar em sexo, pois eles nem transam no filme) já não são meros estranhos, e sim companheiros. As conversas sinceras desencadeadas a partir disso, os olhares, as apreensões presentes nas cenas são prá lá de humanas e remetem a um tipo de experiência escassa numa sociedade cada vez mais objetificada. O filme se encerra com a partida de Jesse, e depois Celine também embarca no trem de volta para Londres – estamos em 1995, não existe internet, eles estão separados pelo oceano Atlântico e as cartas são motivo de piada entre o casal, que ironizam quem diz que vai escrever e nunca escreve. Tem ainda uma esperança, contudo: combinam de se encontrar naquele mesmo lugar 6 meses depois, uma promessa que, naquele momento, ambos endossam com o coração apertado pela separação.

    Ultimo comentário para encerrar: essa marcação do lugar do encontro e da despedida é simbólica: a concretude do espaço geográfico é algo interessante porque fica bem registrado na memória como algo vivido ali, naquele lugar e não em outro. Também é notável o uso do tempo no filme, cuja narrativa transpassa mais ou menos 24 horas do dia dos amantes, dando tempo ao tempo, construindo uma relação, nada de coisas apressadas, forçadas, reificadas. Sabemos, é claro, que o Linklater (mesmo diretor de Escola de rock) é o mestre do tempo no cinema: Antes do amanhecer, título que também remete à idéia de tempo, perdida no caos da globalização, é o primeiro filme de uma trilogia gravado com os mesmos atores num intervalo de, salvo engano, 30 anos. Há ainda outros dois filmes, que ainda não vi, chamados Antes do entardecer e Antes da meia-noite, que devem ser tão belos e vivificantes como o primeiro. É também do Linklater a obra majestosa Boyhood, filme gravado em 12 anos, que acompanha seu protagonista desde a tenra idade a ida à faculdade, já adulto. Que filmes lindos...

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  • Rodrigo

    Que filme... deu até vontade de escrever (algo praticamente subjetivo, não se pretende nada mais que isso).

    Seria uma ode ao Rio de Janeiro se não mostrasse com vontade a desigualdade social e tensão que esse tipo de interação provoca na sociedade. Belíssimo retrato do Rio da década de 50, mostrando o "outro lado" da "cidade maravilhosa".

    Já no primeiro movimento do filme, a câmera acoplada em um helicóptero grava a cidade de cima. Nelson Pereira dos Santos foge da imagem tradicional do Cristo e do Pão de Açúcar como única referência e leva sua câmera para o que podemos dizer de início da ocupação dos morros na cidade.

    O filme seguirá acompanhando cinco crianças negras da periferia indo vender amendoim em pontos turísticos. De maneira bem poética em vários momentos, deixa claro o protagonismo do filme: os de baixo. A cena que o menino entra de repente em um parque-zoológico e se encanta com os animais que estão lá é lindíssima, tocante. Mas Nelson não nos deixa esquecer da desigualdade e do preconceito e o menino é tirado à força, interrompendo aquele momento de êxtase.

    Unindo a cultura popular brasileira como o futebol e o carnaval de maneira muito natural ao enredo que pretende contar, o diretor nos dá uma grande amostra de nossa sociedade. Construção narrativa interessante, intercalando cenas distintas mas fazendo-as conectarem-se analogamente (como o gol e o atropelamento), percebemos os abismos sociais que hoje, mais de meio século depois, ainda persistem fortemente.

    Considerado o filme precursor do movimento que emergiria na década de 60, o Cinema Novo, que se propunha mostrar a realidade brasileira, temos aqui um dos grandes filmes nacionais, no qual é possível perceber uma profunda crítica social alinhada a uma qualidade estética invejável.

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  • Rodrigo

    A perda da virgindade é um tema assaz corriqueiro na história do cinema. No entanto, poucos conseguiram trazer à tona a verdadeira face dessa descoberta, com seus nervosismos e incertezas, tão bem como Mike Nichols em The Graduate (A primeira noite de um homem).

    Sem soar caricato ou clichê em nenhum momento, Nichols compõem o personagem de Ben, interpretado maravilhosamente por Hoffman, como um homem que, ao voltar da faculdade depois de ter dedicado todo seu tempo somente aos estudos, nunca sequer cogitou a hipótese de ter um relacionamento e agora se vê em uma crise existencial.

    A partir dos primeiros planos, o diretor já utiliza closes, nos deixando apreensivos pela tensão do personagem, que é ressaltada tanto pelo enquadramento quanto pela atuação de Hoffman. Ben sofre de uma incomunicabilidade perante sua família: provavelmente formou-se em algo que não gosta e agora tem de suportar os afagos dos amigos e familiares e as congratulações por tal feito. Ben está preso, o que é personificado na cena bizarra na qual ele cai na piscina com roupa de mergulho, e o diretor, acertadamente, utiliza uma câmera subjetiva, mostrando assim ao expectador a barreira que existe entre ele e seus parentes. Distância esta também ilustrada, logo no início e ao longo do filme, pela música Sounds of Silence, aliás, de muito bom gosto do realizador além de exercer função narrativa.

    A criatividade do diretor é tamanha que, desde o momento em que Ben perde a virgindade e os dias que se seguem, vemos tal progressão de tempo na tela durante 1 minuto ou mais. A montagem incrível usada na cena transmiti além da passagem do tempo, a repetição das situações e também a contínua tensão de Ben, que age como uma criança, desconfiado que seus pais possam supor ou terem conhecimento do que ele e Sr. Robinson fazem no hotel.

    Ao fim, vemos um epílogo um tanto fantasioso e, digamos, clichê. Contudo, a narrativa de Nichols é tão ágil e bem construída que faz com que acreditemos naquele desfecho. É fácil saber porquê esse filme marcou época.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

  • Filmow
    Filmow

    Rodrigo Estrella Mendes,

    Como o filme O Diário de uma Camareira (http://filmow.com/o-diario-de-uma-camareira-t74483) ainda não está sendo exibido comercialmente, o sistema removeu a sua indicação “já vi”. Caso você tenha assistido à obra em alguma mostra ou festival, por favor, confirme data e local no formulário abaixo para reabilitar a sua marcação.

    Esta medida está sendo tomada para zelar pela veracidade e credibilidade do conteúdo publicado no Filmow, reforçando a relação de confiança entre o site e seus usuários.

    Obrigado pela colaboração.
    Equipe Filmow

  • Anna Letícia Costa
    Anna Letícia Costa

    ah, nos assistidos mesmo. É que adoro fuçar os filmes alheios pra achar mais filmes pra assistir. E os 'Quero Ver' só aumentam... haha

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