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Carioca, intelectual, blogueiro, cinéfilo, crítico, pensador da cultura nacional e internacional, colunista da página Cultura projetada (https://www.culturaprojetada.com.br), amante das artes e das parcerias duradouras.

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Últimas opiniões enviadas

  • Roberto Queiroz

    Nem toda dor do mundo destrói uma lenda
    (Blonde, polêmico filme de Andrew Dominik, é não somente um gigantesco desserviço à memória de Marilyn Monroe, como também a prova viva de que a crueldade não tem limites no mundo do cinema)

    Marilyn Monroe foi (e ainda é, não importa quanto tempo tenha passado da sua morte) a maior sex symbol da história do audiovisual norte-americano. E isso mesmo depois de tantas gerações posteriores a ela encantando a sétima arte mundial lutando bravamente para difamá-la dia após dia. E tudo por quê? Porque a inveja é definitivamente o que move a humanidade desde priscas eras. E porque, lógico, ela não está mais entre nós para se defender de tantas acusações. Nem mesmo seu nome de batismo, Norma Jean, escapou de ser espezinhado pelos haters.

    Contudo, sua beleza e glamour ressoam até hoje na mente de homens alucinados pelo seu brilho bem como mulheres rancorosas por não possuírem o mesmo sex appeal que ela. Dito isto, é preciso avisar aos marinheiros de primeira viagem logo de cara: se vocês procuram um filme exaltação sobre Marilyn, esse aqui realmente não é para você. Blonde, filme de Andrew Dominik produzido pela Netflix, é não somente um desserviço à imagem da diva pop, como também um grande ensaio estúpido e elogioso à misoginia.

    Sempre reclamei da maneira como hollywood retrata Marilyn em cinebiografias, narrando-a na maioria das vezes em tom pejorativo e maniqueísta. No final das contas, o que sobrava de válido eram as atrizes bonitas que a encarnavam (Michelle Williams, Ashley Judd, etc). E no caso de Blonde esse meu desaprovamento ainda piora por não se tratar de uma biografia clássica e sim da adaptação do romance homônimo da escritora Joyce Carol Oates, que já é polêmico por si só.

    Acompanhamos a jornada dolorosa de Marilyn - pois é disso que se trata esse longa: uma fonte inesgotável de dor e sofrimento - desde criança, com a doença da mãe e o abandono num orfanato. E uma informação importantíssima não pode passar desapercebida aqui: ela aguardou por toda a vida o momento de conhecer o seu pai - em vão.

    A menina cresce, se interessa pelo mundo artístico, estuda, mas seu primeiro acesso à indústria cinematográfica é descrito por um estupro, perpetrado por um tubarão dos estúdios da época (e não podemos passar a mão na cabeça dos covardes nesse sentido: aquela foi uma época repleta de ídolos, mas também de cafajestes e predadores sexuais de todo tipo).

    Já no quesito relacionamentos amorosos o dilacerar é ainda pior. Tirando o dramaturgo Arthur Miller (Adrien Brody), Marilyn vê sua trajetória ser corrompida por homens que só fizeram lhe explorar, usar sexualmente ou agredir, como o jogador de beisebol Joe Dimaggio (Bobby Canavale). Isso sem contar, é claro, a maneira como o filme aborda o relacionamento que ela teve com o então Presidente da República, John Kennedy. Nojento, meus caros leitores, é uma palavra que nem de longe descreve o que eu vi.

    Só resta então aos fãs mais ardorosos e apaixonados da atriz aguardar os raríssimos momentos de luz em que ela é mostrada trabalhando em seus longas de maior sucesso: Os homens preferem as loiras, O pecado mora ao lado e Quanto mais quente, melhor. Mas mesmo esses também estão impregnados de fúria, sexismo e abusos os mais diversos.

    Ao fim da amarga "experiência" (embora Ana de Armas, que dá vida à Marilyn, seja um show à parte, digno de uma indicação ao Oscar) me peguei relembrando de um livro barra-pesada, Marilyn e JFK, escrito pelo autor François Forrestier, que li há coisa de uns cinco anos. E ele, o livro, comete o mesmo nível de desrespeito sem fim com a atriz e musa.

    Mais: fiquei perplexo ao ver nos créditos o nome do ator Brad Pitt entre os produtores desse descaso. Eu sei que ele e Dominik trabalharam no longa anterior do diretor, O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, mas... Onde esse rapaz, que vem produzindo tantos projetos interessantes nos últimos anos, estava com a cabeça quando decidiu se envolver nisso aqui? Certamente entrará para a história como uma bola fora em sua carreira.

    Única certeza: a de que o diretor, que foi extremamente grosso na coletiva de imprensa do filme no Festival de Veneza, não é nem nunca foi fã de Marilyn e certamente a despreza como atriz, quiçá como mulher. Não consigo encontrar outra explicação para tamanha leviandade.

    Entretanto, fiquem sabendo tanto ele quantos os próximos a decidirem, no futuro, contar a história da loira fatal que deslumbrou hollywood, que nem toda dor do mundo é capaz de destruir o legado dessa lenda. Tanto que até hoje o sonho de grande parte das atrizes é conseguir chegar até onde ela chegou. Já a maldade e a insensatez de vocês...

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  • Roberto Queiroz

    A cirurgia é a nova forma de arte
    (Crimes do futuro, de David Cronenberg, é direto em suas intenções: não faz média com posers e destruidores da própria beleza que se acham o futuro do mundo e da própria civilização. E ainda tem gente que vai dizer que ele exagerou).

    "Estica aqui, aumenta ali, corrige acolá, diminui um pouquinho aquela curva do...". Sim, passamos de seres humanos à objetos que precisam ser anatomicamente consertados ou remendados o tempo todo. Em outras palavras: nos tornamos reféns do bisturí, artefato cada dia mais relevante e imprescindível nesse século XXI baseado em corpos, poses e opiniões contraditórias.

    E a pergunta que não me sai da mente é: o que sobra depois disso? Resposta sincera: praticamente nada. Resposta oficial: um mundo de possibilidades (quais, exatamente, já é assunto para outro texto, pois eu preciso pensar mais a respeito). Contudo, a tecnologia não para, avança a galope e promete um mundo no futuro ainda mais tenebroso.

    E é exatamente desse mundo tenebroso que o diretor David Cronenberg fala no mórbido, porém necessário, Crimes do futuro.

    Cronenberg é um cineasta ligado, em sua origem, ao universo da maquiagem e do body horror. E fez disso um talento raro, para pouquíssimos na sétima arte (que o digam seus clássicos A mosca, Videodrome e Gêmeos - mórbida semelhança). Porém, nos últimos anos atrás das câmeras, vinha se dedicando a outros territórios, chegando a adaptar uma HQ - Marcas da Violência - e se propondo a falar de Freud, Jung, máfia russa e até mesmo as consequências do Occupy Wall Street no mundo.

    Mas, saudoso de seus primeiros anos na direção, se reinventa e nos apresenta um retrato sórdido (digo mais: sarcástico) e por vezes doentio do mundo contemporâneo e dos exageros à vaidade.

    Seu protagonista, Saul Tenser (Viggo Mortensen, parceiro recorrente nos últimos projetos) é aquilo que podemos chamar de "um artista do horror pós-moderno". Realiza cirurgias complicadas e as transforma num show business macabro que enche os olhos dos admiradores que assistem suas performances. Sua alma gêmea, Caprice (Léa Seydoux) é, em tese, a única capaz de seguí-lo até o inferno, se preciso. E eu digo em tese, pois há mais gente querendo esse lugar.

    Lang Dotrice (Scott Speedman) e Timlin (Kristen Stewart) também veneram o talento deste showman insano a ponto de lhe propor as mais nefandas ousadias. A questão mesmo é: será que ele topará? Saul parece tão devotado à sua própria vaidade e talento que todo o resto parece banal diante de seus olhos. Nem mesmo o elogio ("a cirurgia é o novo sexo") proferido por Timlin é capaz de quebrar sua armadura de empoderado. E aqui começa justamente o legado do longa.

    Cronenberg desenha bem uma sociedade afeita ao efêmero e à estrelismos os mais diversos, na qual o mais importante é ser venerado pelos demais e comer plástico é sinônimo de avanço social. Muitos espectadores chatos talvez digam de forma leviana: "isso é papo de filme; na realidade não é bem assim, não!". Entretanto, quando me dou conta do que andam chamando de artista, gastronomia e show business hoje em dia, eu chego à conclusão de que, na verdade, não tem nada de ficção aqui. Não mesmo.

    Se preparem, adeptos e fãs de longa data do diretor, para as deformações e máquinas exóticas costumeiras do seu cinema presentes aqui (e nesse sentido, o filme me lembrou muito de Existenz, outra bola fora da curva dentro da sua carreira).

    Ao fim, enquanto os créditos correm após a satisfação estampada no rosto do protagonista ao provar plastic food pela primeira vez, me pego num sentimento dúbio entre o niilismo e o apavoramento com os dias que ainda virão. Não é de hoje que a sociedade mundial vem me assombrando com suas escolhas equivocadas e, porque não dizer também, monstruosas. Da destruição da arte para favorecer as NFTs à crise dos refugiados, passando pela proposta de controle populacional ao preço que for, caminhamos para um abismo às gargalhadas, achando tudo de mais terrível extremamente natural.

    E acreditem: isso é tudo o que o mundo não está sendo nas últimas décadas, pelo menos. E em meio a tanta negatividade travestida de exibicionismo, só me resta agradecer ao diretor - mestre em descortinar ao longo da carreira o amargor do que chamamos de natural impunemente - por mais essa peça rara dentro do seu currículo cinematográfico. Que venha o próximo!

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  • Roberto Queiroz

    O melhor filme da história?
    (Jeanne Dielman, de Chantal Akerman, é novo número 1 da lista da revista Sight and Sound e irrita os moderninhos babacas e aqueles que nada entendem de cinema. E isso é justamente o que a escolha tem de melhor!)

    Listas são problemáticas. Digo mais: elas são a ruína quando o assunto é o debate sobre a sétima arte. Por quê? Porque elas não definem - nem de longe! - o que é o fazer cinematográfico. No máximo explicam o gosto particular de um indivíduo, o que ele considera como cinema. E como todo espectador que se preze é fruto de uma época, acho extremamente natural que ele não considere certos clássicos do cinema como os "seus clássicos".

    E é preciso salientar aqui: acho muito difícil que a atual geração que frequenta os cinemas hoje em dia - uma geração baseada no que produtoras como a Disney e Netflix, só para ficar em duas das maiores (ou mais visíveis) - venha a considerar gigantes da sétima arte como Federico Fellini, Ingmar Bergman, John Ford, Akira Kurosawa, Roberto Rossellini e tantas outras feras em suas listas pessoais. Eles, a tal nova geração, buscam uma outra relação com o cinema, mais voltada para a bilheteria, a perpetuação das mesmas ideias (na forma de remakes, spin-offs, sequels, etc), a grandiosidade dos efeitos especiais, os orçamentos milionários...

    E qualquer outro debate, em tempos de Rotten Tomates e Metacritic influenciando quem vive à sombra dos mesmos temas, torna-se menor ou desnecessário.

    Dito isto, a nova lista dos melhores filmes da história do cinema produzida pela revista Sight and Sound - publicação que sempre polemiza e incomoda com suas escolhas a cada nova década - ganha um novo contorno de discórdia. Mas cabe aqui um aparte importante: fosse quem fosse o número 1 da referida lista o debate seria o mesmo (e preconceituoso), que dirá a insatisfação de determinados grupos cinéfilos que vivem de resmungar e falar mal de tudo.

    O número 1 do famoso top 100 da revista nesse ano de 2022 - após, nos últimos anos, testemunharmos o legado de Cidadão Kane, de Orson Welles e a liderança na última edição de Um corpo que cai, de Alfred Hitchcock - é Jeanne Dielman, de Chantal Akerman (1975). E bastou que um filme dirigido por uma mulher encabeçasse a lista para que os revoltados de plantão rugissem, com as mesmas diversas - e despudoradas - reações.

    "É a mania de enaltecer esse feminismo de butique vigente hoje em dia";
    "Maldito cinema experimental! Está acabando com a sétima arte";
    "Essa gente maluca de revista só quer mesmo é aparecer, não entende nada de cinema";
    "O cinema morreu de uma vez por todas!"
    e etc etc etc... e outros milhões de desnecessários etcs.

    Na prática, entretanto, o que temos é - pelo menos, para mim - uma grande provocação por trás dessa escolha.

    Jeanne Dielman é um longa-metragem de 3 horas e 20 minutos (tudo que os imediatistas mais detestam!) que se debruça sobre a história de um dona de casa, viúva, que vive com o filho adolescente, e paga suas contas mensais levando homens para o seu apartamento, onde exerce a profissão de garota de programa. É... Já vejo os conservadores babacas de sempre gritando: "enalteceram uma puta! era só o que faltava!".

    Mais do que isso, o filme de Chantal Akerman - que é uma sublime artista e eu recomendo aos leitores deste texto que procurem por sua filmografia - é um consistente ensaio sobre a rotina sufocante do dia-a-dia. E é nesse exato momento que reside a grande bronca dos detratores da lista.

    Como fazer com que um grupo gigantesco de alienados cinéfilos, que resumem o cinema à IMAX, CGI, 3D, cenas de ação intermináveis, o culto aos blockbusters que não passam de caça-níqueis, heróis musculosos e personagens canastrões que emulam um estilo de vida vazio, entendam que a sétima arte é mais do que isso? Não foi à toa que citei num parágrafo anterior a palavra provocação.

    A decisão da Sight and Sound ao colocar Jeanne Dielman no topo da lista provoca os amantes do cinema - sejam lá quem eles forem - a sair da sua zona de conforto, da sua bolha existencial baseada em maniqueísmos fajutos e discursos vagos. E eu, claro, gosto muito dessa tentativa heróica por parte da publicação. Redescobrir-se como espectador é, para mim, uma grande missão. E assim deveria ser para os outros (embora muitos prefiram idolatrar o comodismo).

    Ao fim dessa rápida explanação (que se promete também polêmica quando eu postá-la em minhas redes sociais, repletas de fãs enjoados que adoram uma reclamação e um mimimi), digo: continuo detestando a ideia de listas dos melhores do que quer que seja. Elas limitam o debate e isso é sempre muito ruim. Contudo, é preciso elogiar esse caso específico, pois os cinéfilos e adoradores da sétima arte precisam urgentemente sair de suas trincheiras culturais. Do contrário, o cinema não evoluirá nunca. Pior: morrerá no espaço-tempo.

    E o que eu menos desejo quando penso em sétima arte é a permanência do banal, do óbvio, travestido de espetáculo barato. Tudo, menos isso!

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  • Igor
    Igor

    como vc conseguiu assistir santiago?

  • Lucas Henrique da Silva
    Lucas Henrique da Silva

    Oiii Roberto! Te adicionei porque vi seu comentário no filme Os 7 de Chicago. Amei sua crítica sobre o filme!

  • Gabriel
    Gabriel

    Fala Roberto. Te adicionei porque vi seu comentário na página do Alan Parker e gostei muito; entrei no seu perfil e vi seus comentários sobre os filmes e gostei mais ainda. (É bom avisar porque o filmow tá meio estranho com esse tanto de gente adicionando. abs)

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