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A História do Cinema: Uma Odisseia [1-5]

The Story of Film - A Odyssey
Dirigido, roteirizado e narrado por Mark Cousins.

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Primórdios (1895-1932)

- George Albert Smith: close e "phantom ride" (efeito fantasmagórico com a câmera como se um fantasma estivesse flutuano no ar)
- Enoch J. Rector: Primeiro a filmar em 63mm (35mm era o padrão), com ele nascia o cinema em widescreen (que só se tornou comercialmente viável em 1953)
- "Life of American Fireman", de Edwin Stanton Porter apresenta a edição de continuidade ("e aí...")
- "Sherlock Jr.", de Buster Keaton apresenta o "jump cut conceitual" (corte na edição que remove parte de uma tomada gerando dois planos e uma transição brusca entre eles. Este tipo de edição faz um efeito de saltos para frente no tempo na cronologia de uma cena ou vídeo).
- "Le cheval emballé", de Louis J. Gasnier apresenta a edição paralela ("enquanto isso...")
- "L'Assassinat du Duc de Guise", de Charles Le Bargy apresenta o ângulo reverso (diretores colocam as câmeras no meio da ação, livres para filmar de qualquer ângulo).
- "The Squaw Man", de Cecil B. Demille (1º longa-metragem de Hollywood) apresenta a regra dos 180 graus (para mostrar que pessoas em planos diferentes estão olhando umas para as outras ou que exércitos marcham um em direção ao outro, a câmera tem que ficar no mesmo lado de uma linha imaginária de 180 graus desenhada entre as pessoas que estão interagindo).
- Frances Marion, Adela Rogers St. Johns, Bess Meredyth, Anita Loos eram as roteiristas mais importantes de Hollywood dos anos 1910.
- O crítico Roland Barthes cunhou o termo "punctum" (algumas imagens têm detalhes não planejados que nos comovem)
- Billy Bitzer, diretor de fotografia dos filmes de Griffith, não gostava das pontas do filme, então tapou as pontas para que ficassem um pouco mais escuras. Isso "deixava a imagem com mais classe", segundo ele, e influenciou o visual dos filmes de toda uma geração.
- "Intolerance: Love's Struggle Throughout the Ages", de D.W. Griffith, apresenta a edição intelectual (eventos muito diferentes de épocas diferentes mostram a mesma característica humana).
- O "efeito masking" consiste no uso de personagens narrativos simplistas, arquetípicos, mesmo que sejam justapostos com fundos detalhados, fotográficos, verosimilares e espetaculares.

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Rebeldes:

- Carl Theodor Dreyer (realismo)
- Ernst Lubitsch (inovou no gênero comédia)
- Abel Gance, Germaine Dulac, Marcel L'Herbier (impressionismo francês)
- Robert Wiene, Charles Klein, Fritz Lang, F. W. Murnau (expressionismo alemão)
- Walter Ruttmann ("Opus I", pintura em vidro, animação abstrata), René Clair ("Entr'acte", encomendado pelo dadaísta Francis Picabia), Alberto Cavalcanti ("Rien Que Les Heures", experimental, 20 anos depois o surrealista Salvador Dalí se inspirou nessa obra numa sequência onírica que fez para "Quando fala o coração", de Hitchcock), Luis Buñuel ("Um cão andaluz" "A idade de ouro", surrealistas, este último teve sua exibição impedida pelos fascistas por ser arte "degenerada", "judia", "maçônica")
- Dziga Vertov ("Kino pravda no. 19", a câmera sobre o trem idolatra os camponeses), Sergei Eisenstein ("O encouraçado Potemkin"), Aleksandr Dovjenko ("Arsenal")
- Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi (Cinema japonês)
- Yuan Muzhi, Yonggang Wu, Chusheng Cai (Cinema chinês)

Considerações:

- Billy Wilder tinha um quadro em sua sala que dizia "Como Lubitsch faria?"
- O poeta e cineasta Jean Cocteau disse: "Existe o cinema antes e depois de 'La Roue', assim como existe pintura antes e depois de Picasso"
- Diretores de Hollywood filmavam em estúdios, excluindo a luz do dia; os escandinavos faziam o oposto; e Wiene e Hermann Warm (de "O Gabinete do Dr. Caligari"), seu diretor de arte, encontraram uma 3ª forma revolucionária: inundaram o set com uma iluminação plana e depois pintaram sombras diretamente na parede e no chão.
- Cesare, um sonâmbulo exposto num parque de diversões, mata os inimigos de seu mestre, o dr. Caligari, à noite. A história tinha um fundo político. Caligari representava a Alemanha controladora e Cesare, as pessoas comuns que o país manipulava. Mas o diretor Wiene e o produtor Erich Pommer acabaram com essa crítica ao acrescentar um novo fim no qual tudo não passou de um sonho de um maluco, Feher, e dr. Caligari (ou seja, o Estado) não era mau nem controlador.
- "Uma Página de Loucura", filme japonês do diretor Teinosuke Kinugasa conseguiu combinar técnicas impressionistas com o desconforto expressionista. Fortemente influenciado por "O gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene, e "A Roda", de Abel Gance.
- "A Turba" de King Vidor, sofreu influência de "Metrópolis", de Lang. Por isso tem alguns elementos expressionistas.
- "Não respeita nada, exceto o desejo de começar a rir", disse Picabia sobre "Entr'acte", de René Clair.
- A partir de 1926, Dalí passou três anos conversando sobre sonhos e desejos com Luis Buñuel, um espanhol de origem burguesa. Inspirados por essa conversa, eles escreveram o roteiro de "Um cão andaluz".
- Montagem de atrações: cena do carrinho de bebê e da criança pisoteada em "O encouraçado Potemkin" nos comovem, as emoções vão da tela até nós, as duas coisas se colidem em nossa cabeça criando a ideia de inocência sendo massacrada pelo Estado, pelo czar. 1 + 1 = 3.
- Ozu, como os renascentistas, estava interessado em centralizar o corpo humano e, como os budistas, em descentralizar o ego humano.
- As pessoas dizem que atuações realistas começaram com Marlon Brando, nos EUA. Mas vejam Ruan Lingyu (a Greta Garbo chinesa) em "A Deusa" (1934), por exemplo.
- Nas décadas seguintes, Xangai, a cidade do sexo e do cinema, construiria sobre seu passado e das vilelas dos grandes filmes dos anos 1930 para se tornar uma Disneylândia de consumo capitalista. Tornou-se algo parecido com um set.
- Nos anos 1940, um pequeno promontório na costa sudeste se tornou o novo centro do cinema chinês: Hong Kong.

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Os Anos 30

- O cinema mudou muito, os filmes sonoros estavam surgindo. O cinema sonoro vendia, por ano, 10 milhões de ingressos a mais que o mudo. O som dava dinheiro. Locações reais eram difíceis de usar, porque poderiam haver obras ou construções. Então os cineastas foram forçados a voltar aos estúdios.
- Como gravar som se tornou o principal, a imagem se tornou secundária. No close do cantor Bing Crosby, em "Confissões de uma jovem", o violinista ainda está tocando na mesma posição, num enquadramento esquisito, ao lado do rosto de Crosby. Isto porque o filme foi rodado com duas câmeras, que filmavam ao mesmo tempo por motivos sonoros, como na TV. Se o close fosse filmado com uma câmera só, o violinista poderia sair do lugar para a imagem ficar menos carregada. A iluminação, por sua vez, é mais plana e mais alta que nos outros filmes hollywoodianos, como a iluminação de uma novela de TV. Isto porque para filmar um close e um ângulo aberto ao mesmo tempo, a iluminação precisa ser a mesma. Então, no início da era sonora, o cinema ficou menos cinemático.
- "Ama-me esta Noite" é o mais aclamado musical do começo dos anos 30, marcado pela excelente direção de Rouben Mamoulian. O som aqui aparece como uma metáfora para a viagem, o som como aquilo que o cinema segue, o som chama, a imagem responde.

Surgem os gêneros do cinema de entretenimento. Haviam 6 gêneros padrões:
- Filmes de terror - desde os anos 1920 - "O Golem: como veio ao mundo", de Carl Boese e Paul Wegener; Frankenstein, de James Whale;
- Outro gênero que amadureceu nos anos 1930 foi o filme de gângster - "Inimigo Público", de William A. Wellman, foi o primeiro grande filme de gângster; em "Scarface: a vergonha de uma Nação", o diretor Howard Hawks e o jornalista Ben Hecht, roteirista do filme, transformam o filme de gângster numa tragédia grega. No final do filme vemos um abraço de amantes, mas entre dois irmãos;
- Os westerns já existiam desde a primeira década do cinema. A maioria das tramas se passa entre 1860 e 1900 ("O cavalo de ferro" e "Paixão dos fortes", de John Ford);
- A comédia, o maior gênero do cinema mudo americano, se transformou com o advento do som. Tornou-se feminino ("Suprema conquista", de Howard Hawks);
- Os musicais - "Cavadoras de Ouro de 1933", de Mervyn LeRoy, suas coreografias foram feitas por um grandes inovador dos musicais: Busby Berkeley;
- O cartoon/desenho animado foi outro gênero de peso nos anos 1930 - "Gertie, o dinossauro", de Winsor McCay, anos 1910, feito a lápis, em p/b, irregular e cômica; "As aventuras do príncipe Achmed", de Lotte Reiniger, feita 20 anos depois, em 1926, usa técnicas de recorte vitorianas; mas Walt Disney é quem transforma a animação numa forma de arte internacionalmente popular.

Inovadores cineastas franceses da década de 1930: Jean Cocteau, Jean Vigo, Marcel Carné e Jacques Prevert, Jean Renoir

Considerações:

- Walt Disney adorava Robert Louis Stevenson e Charlie Chaplin. Em NY trabalhou com um brilhante desenhista holandês, Ub Iwerks.
- Em "Branca de Neve", Disney filmou uma atriz de verdade fantasiada e transcreveu as imagens individuais no papel. Foi algo inédito. Hoje em dia, isso é feito com captura de movimentos.
- Após a Segunda Guerra Mundial, Disney depôs na caça às bruxas anticomunista de McCarthy. Seu processo de produção mudou, e os desenhos passaram a ser fotocopiados nas películas, o que tornavam os filmes mais baratos, mas deixavam contornos pretos na animação (como em "101 Dálmatas")
- Os primeiros filmes da Disney tinham pitadas de surrealismo e eram tecnicamente inovadores, mas, com o passar das décadas, tanto as técnicas quanto as mensagens passaram a ser mais conservadoras.
- O maior mago do cinema francês, o poeta e artista Jean Cocteau foi influenciado por Picasso, pelo empresário Diaguilev e por fumar ópio. Em determinada cena no corredor de "Sangue de um Poeta", o set é colocado de lado e a ação, invertida (técnicas simples do surrealismo). 80 anos depois, esta cena inspirou outra cena em "A Origem", de Christopher Nolan. No filme de Nolan, o corredor foi construído num imenso barril e girado.
- Em "O Atalante", Jean Vigo filmou no canal Saint-Martin, em Paris. No meio da filmagem começou a nevar, causando problemas de continuidade, então Vigo pediu ao cinegrafista Boris Kaufman, irmão do diretor soviético Dziga Vertov, para apontar a câmera para cima, para vermos Parlo contra o céu.
- Como Yasujiro Ozu e, anos mais tarde, o diretor de comédias Jacques Tati e o diretor escocês Bill Forsyth, Jean Vigo não se interessava pela trama, eles queria mostrar a forma alegre e sem censuras na qual a mulher se abria para a vida.
- O canal Saint-Martin que Vigo filmou também era uma das locações favoritas de uma dupla de direção e roteiro: Marcel Carné e Jacques Prevert.
- Os filmes dessa dupla eram sobre pessoas esquecidas se encontrando na luz escura da manhã ou do início da noite. Elas ficavam vivas quando encontravam companhia, mas depois voltavam para si mesmas e seu pessimismo. O desemprego na França era de quase 500 mil pessoas em 1935. Havia instabilidade política. Aí, como se sabe, os nazistas invadem a França. Os assombrosos filmes da dupla pertencem ao chamado realismo poético.
- "Cais das Sombras", de Marcel Carné e Jacques Prevert, definiu a atmosfera da França nos anos 1930. Um porta-voz do governo Vichy, que se aliou aos nazistas, disse: "Se perdermos a guerra, será por conta de 'Cais das Sombras'". O diretor Carné retrucou que não se culpa um barômetro por uma tempestade.
- Nos antigos estúdios Pathé, em Joinville, perto de Paris, Marcel Carné foi um grande cineasta, tanto quanto Howard Hawks em Hollywood. Carné e seu diretor de arte, Alexandre Trauner, criavam mundos. Não houve nenhum mais grandioso do que "O Boulevard do Crime".
- Se Carné era realista e romântico, Jean Renoir era o grande humanista do cinema francês nos anos 1930.
- Não era só a França que fazia ótimos filmes sem gênero nos anos 1930. Em 1930, o brasileiro Mário Peixoto fez o 1º filme inovador a sobreviver. "Limite" foi feito quando o diretor tinha 19 anos e foi muito elogiado pelo mestre das montagens soviético, Sergei Eisenstein. "Limite" refinou as ideias dos impressionistas franceses.
- No Estádio Olímpico de Berlim, Leni Riefenstahl filmou as Olímpiadas de 1936. Numa sequência de mergulho, ela cortou antes de os atletas caírem na água, inverteu o movimento ou colocou alguns planos de cabeça para baixo para fazer os atletas voarem, como num musical. O coreógrafo hollywoodiano Busby Berkeley pegava ideias de marchas militares e Riefenstahl pegava ideias dele.
- "O processo de se amedrontar é feito através de um meio. Eu acredito no meio do cinema puro. A montagem de pedaços de filme para criar medo é parte essencial do meu trabalho" (Alfred Hitchcock)
- "Closes são pratos batendo. Pontuações dramáticas numa história" (Alfred Hitchcock)
- Em "Marnie", Hitchcock corta para um ângulo alto. Como um grito. Para ele, um close são pratos batendo, e um ângulo alto é um tremolo.
- Com o film da década de 1930 e o início da 2ª Guerra, 3 filmes sobre 3 mulheres debateram os papéis do prazer e do escapismo em nossas vidas: "Ninotchka" (1939), de Ernst Lubitsch; "O Mágico de Oz" (1939), de Victor Fleming e George Cukor; "E o vento levou" (1939), de Sam Wood, Victor Fleming e George Cukor.

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1939-1952

Hollywood

-John Ford
- "No tempo das diligências", de John Ford - Numa das cenas finais, quando Ringo e a garota decidem recomeçar suas vidas juntos, Ford filma a cena com profundidade de campo. Esse filme cria uma moda visual de espaço e foco profundos nos anos 1940. No Japão, em 1936, Mizoguchi já havia feito cenas com profundidade em "Osaka Elegy", mas Ford e seus cinegrafistas combinaram espaço e foco profundos.
- Até então, a tendência do cinema era o efeito agradável das lentes longas que criam um foco raso, olhar cortante, cabelo macio e plano de fundo sem foco. O foco profundo usa a lente grande-angular e permite que atores e objetos em distâncias diferentes possam ser vistos nitidamente.
- O foco profundo enfatiza a distância entre pessoas e objetos na tela, foi ótimo para cômodos, especialmente com câmera baixa, porque podíamos ver o teto que se lançava sobre o fundo, fazendo uma composição audaciosa. Isso permitia que a plateia escolhesse para onde olhar (o que havia sido proposto por Eisenstein, em 1929, como alternativa para edição e realizado por Ford em "No tempo das diligências")

- Orson Welles
- Assistiu "No tempo das diligências" 30 vezes em 1940.
- Numa cena de "Cidadão Kane", Welles e o cinematógrafo Gregg Toland, levam o cenário em profundidade o mais longe possível. Welles está a menos de 1m da câmera, Everett Sloane está longe e chega a ser menor que o nariz de Welles na tela. O cenário em profundidade força a escala, sendo tão expressionista quanto as sombras de Caligari.
- Anos depois, o austríaco Michael Haneke usou profundidade de campo em "Código desconhecido" para mostrar uma mulher no trem fugindo do assédio. E o húngaro Bela Tarr usou o mesmo recurso em "Satantango" para mover nossos olhos do primeiro plano para o de fundo e logo para o primeiro novamente. Nesses casos, o efeito foi de tensão, de um mundo em um campo de força no qual as pessoas são mantidas.
- Welles se interessava por pintura italiana da Renascença e tinha atração por figuras poderosas: reis, magnatas, inventores, tipos shakespearianos. Shakespeare, os Medici, mongóis, otomanos, "No tempo das diligências" e os diálogos sobrepostos das comédias de Howard Hawks foram algumas das referências audiovisuais e humanas com as quais Welles trabalhou.
- A profundidade de campo no cinema norte-americano sairia de moda novamente nos anos 1950. Os novos filmes coloridos em widescreen não eram sensíveis o suficiente para absorver essa informação. Em "Como agarrar um milionário", por exemplo, o espaço é raso e os atores são exibidos nele como um varal de roupas.
- Lentes longas nos anos 1960-70 empolgaram os diretores a utilizarem focos muito rasos. Filmada com lentes longas em "Um homem, uma mulher", Anouk Aimée flutua no seu próprio mundo visual, como Garbo nos anos 1920. Nos anos 90, Michael Mann, influenciado por vídeos pop, usa as novas lentes longas em "Fogo contra fogo" para criar um foco tão raso que as luzes atrás de Al Pacino e o tiroteio parecem bolhas em um sonho.

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Neorrealismo italiano

- Mas foi a Itália que esteve no centro do mundo do cinema nos 1940.
- A escola de cinema Centro Sperimentale foi aberta por Mussolini nos anos 1930. O famoso estúdio de cinema Cine Cittá, onde foram filmadas as comédias e os grandes épicos italianos dessa época, foi usado como quartel na 2ª Guerra Mundial.
- A linguagem do cinema mudou. Os filmes feitos na Itália entre 1945 e 1952 acompanham as grandes mudanças que ocorreram no pós-guerra.
- O primeiro filme do neorrealismo italiano foi "Roma, Cidade Aberta". Rosselini queria sua imagem limpa, sem enfeites, então usou lentes de uns 50mm em lugar das lentes grandes-angulares ou longas. Ele não se preocupava muito com o foco e seu diretor de fotografia parecia deixar a cabeça do tripé solta para obter mais movimento.
- As lâmpadas eram expostas no neorrealismo italiano e Scorsese mostra a influência da lâmpada exposta em "Touro indomável".
- Se a natureza da beleza dos filmes europeus mudou no final anos 1940, isso se deu em parte por conta do teórico Cesare Zavattini.
- "Antes do neorrealismo, quando alguém pensava em um filme sobre uma greve, por exemplo, inventava uma trama e a greve seria apenas o plano de fundo. Hoje descreveríamos a greve, temos uma confiança ilimitada nas coisas, fatos e pessoas". A redução da trama e a desdramatização propostas por Zavattini foram revolucionárias.
- O filme mais famoso de Zavattini, "Ladrões de bicicletas", fala sobre um desempregado cuja chance de conseguir algum trabalho, sua bicicleta, é roubada. No final, sem reaver a bicicleta roubada e com medo de não conseguir nenhum emprego, ele rouba a bicicleta de outra pessoa. De Sicca filma a cena pesada com luz dramática, mantendo a câmera longe do roubo, para não invadir a vergonha do pai. Então o menino vê o roubo do pai e nos aproximamos dele. A tomada em movimento para o menino demonstra que esses filmes não tinham tinham medo de serem convencionais, da empatia, ponto de vista, tensão e emoção.
- O neorrealismo transformou a dissidência realista do cinema dos anos 1920 em um movimento nacional nos anos 1940 que se espalhou pelo mundo.

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Cinema noir

- A exuberância romântica de Hollywood decaiu, seu paraíso se perdeu um pouco. Entre 1941 e 1959, mais de 350 filmes escuros foram feitos em Hollywood, filmes que ficaram conhecidos como "film noir".
- Um dos primeiros e mais influentes foi "Pacto de Sangue", de Billy Wilder. Wilder era um judeu austríaco que fugiu dos nazistas em 1933, como muitos imigrantes que fizeram film noir: Fritz Lang, Robert Siodmak, Otto Preminger, Michael Curtiz, Jacques Tourneur.
- Para Robert Towne, roteirista de "Chinatown" "no cinema noir, os personagens são fracos, de uma ou de outra forma, e é um defeito dos personagens. São como mariposas queimando. Se observarmos Walter em 'Pacto de Sangue', ele não resiste a um adorno no tornozelo. Robert Mitchum, em 'Fuga do Passado', quer estar com uma moça decente, mas não consegue, e geralmente por causa de uma femme fatale. Mesmo quando quer se livrar dela, ele não consegue. Gittes, em 'Chinatown'. Há uma imperfeição neles que os leva àquele destino, mesmo que tentem evitar. Não é somente um mundo obscuro onde acabam apanhando. São homens que em um nível inconsciente buscam seu destino, mesmo quando tentam evitá-lo."
- Para Paul Schrader, roteirista de "Taxi Driver" e "Touro Indomável", "o herói imperfeito, que apareceu primeiro nos filmes influenciados por Freud, mas só pegou mesmo após a guerra, quando os caras voltaram. Havia todo o deslocamento social das mulheres que trabalharam durante a guerra e tiveram que largar o emprego, e homens que lutaram durante a guerra e voltaram para casa sem dinheiro. Havia muita frustração e esse tipo de herói freudiano parecia mais real do que o dos anos 1930-40."
- Guerra, a cidade de LA, personagens imperfeitos, o colapso social e legal criaram o noir, mas não só. O efeito das sombras do expressionismo alemão pode ser visto. As escadas em "O Testamento do Dr. Mabuse" e em "Pacto de Sangue", por exemplo.
- Raymond Chandler é coautor de "Pacto de Sangue". Ao lado de Dashiell Hammett, criou os tipos e situações característicos do cinema noir.
- "À beira do abismo", roteiro de Chandler, foi filmado por Howard Hawks em 1946. Foi o filme mais influente do cinema noir desde "Pacto de Sangue". O foi de coautoria de Leigh Brackett, outra grande roteirista que também foi coautora de "Rio Bravo" e "Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca".
- Dos cerca de 350 filmes noir, apenas um foi dirigido por uma mulher. Ida Lupino dominou o gênero usando refletores e câmeras subjetivas. Um filme com o olhar para baixo.
- A presença briguenta de Edward G Robinson em "Pacto de Sangue" lembra que o noir era fascinado pelos filmes de gângster dos anos 1930 nos quais Robinson apareceu (como "Alma no lodo"). E seu pessimismo veio dos filmes realistas poéticos franceses dos anos 1930.
- Para uma prova de como a França influenciou os EUA nos anos 1940 veja "A cadela", dirigido por Renoir. Um homem se apaixona por uma jovem cruel, sendo refilmado como "Almas Perversas".
- Em Montrose, subúrbio de Los Angeles, o diretor de filmes B, Joseph H. Lewis, filmou "Mortalmente Perigosa", um dos filmes noir mais inovadores e apaixonados já feitos, mostrando como os documentários e o neorrealismo influenciaram o gênero. A paixão mortal e inovação de estilo do filme influenciaram outro filme: "Bonnie and Clyde".
- Paul Schrader disse que o noir morreu em 1958, mas sua influência pode ser vista em "Los Angeles - Cidade Proibida", no qual Kim Basinger finge ser Veronica Lake para um assassino profissional, ou em "Blade Runner", onde Sean Young anda pelas sombras em uma poça de luz, como uma femme fatale do cinema noir, ou em "Batman - O cavaleiro das trevas", onde a cidade é fedorenta e moralmente escura, e até no Mumbai Noir filmes como "Shiva", dirigido por Ram Gopal Varma, usa sombras e ângulos baixos da câmera.

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Macartismo

- O veneno do macartismo (McCarthyism, em inglês) também ajudou a criar a seriedade do film noir. Cineastas com mais princípios se recusaram a testemunhar contra os esquerdistas, outros deram nomes, e grandes artistas como Abraham Polonsky, Charles Chaplin, Dolores del Rio, Paul Robeson e Dalton Trumbo, foram proibidos de trabalhar, entraram para a lista negra.
- O grande diretor de fotografia Haskell Wexler filmou "Terra do Sonho Distante", de Elia Kazan, quem testemunhou contra os esquerdistas. Wexler diz que conversou com Kazan algumas vezes sobre o assunto, "e uma das coisas que ele disse foi que o principal para o diretor é o elenco. Quando o nome de Kazan foi mencionado para o prêmio pelo conjunto da obra na Academia, eu não achei que ele devia receber e Karl Malden disse: 'ele está morrendo, ele é um grande diretor, vou votar nele'. Então eu votei e escrevi para o Gadge: 'Querido Gadge, eu votei em você porque acho que merece o prêmio pelo conjunto da obra. Acho que seria bom que dissesse algo que pode soar eufêmico, mas se desculpando por ter prejudicado algumas pessoas'. E Kazan me respondeu: 'Pete, foda-se. Gadge'. E assim ele foi até morrer."

- No início dos 1950, quando o sistema de estúdios estava morrendo, houve uma das produções mais esplêndidas. Na MGM, o produtor cosmopolita Arthur Freed dá aos sofisticados Gene Kelly, Vincente Minnelli e Stanley Donen a chance de mostrar que os estúdios ainda tinham alegria e beleza. Surge "Sinfonia de Paris", com sequências influenciadas pelo sucesso de "Os sapatinhos vermelhos" no cinema britânico.
- Como muitos de sua geração, Donen achava o enredo, a dança e a sexualidade dos musicais de Fred Astaire e Ginger Rogers dos anos 1930 extasiante.
- Em "Cantando na Chuva", Donen e Kelly fizeram uma sequência caleidoscópica debochando dos números de Busby Berkeley, que eles odiavam.

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Cinema britânico do pós-guerra

- Na Inglaterra, nos anos 1940-50 encontramos filmes que resumem as complexidades desses tempos de guerra. O diretor inglês Michael Powell e o escritor húngaro Emeric Pressburger nos levam a um momento crítico de drama em "Neste mundo e no outro". Diálogo romântico, foco raso, cores ricas e a luz escondendo as lágrimas. Ambos conseguiram reunir o trauma da guerra com o alto estilo do cinema romântico.
- Outro cineasta dos anos 1940 mostrou que guerra e trauma trazem o melhor de nós: Humphrey Jennings. Jennings acredita que, por terem a mesma paisagem, história e cultura, os britânicos têm um inconsciente coletivo, que ele chama de legado de emoções, que une as pessoas por um trauma.
- Em termos de estilo, Jennings achava que havia um campo de força entre as cenas. Em "Listen to Britain", o diretor corta de uma cena com meia dúzia de capacetes para outra de 5 mulheres com a cabeça à mostra e, por fim, para outra com a estátua de Carlos I, que foi decapitado. Três imagens juntas que nos dão a sensação da vulnerabilidade das cabeças. A soma cinematográfica maior do que as partes, o "1 + 1 = 3" de Eisenstein novamente.
- Em 1949, um último filme britânico que resumiu as mudanças no cinema ocidental: o trauma, a poética, o expressionismo e teatro de sombras desses anos. "O Terceiro Homem" se passa na Viena do pós-guerra, uma cidade dividida entre os vitoriosos. O autor, o novelista católico Graham Greene, plantou no coração da história um grande crime moral. Harry Lime, interpretado por Orson Welles, ganha dinheiro vendendo penicilina que seria para tratar crianças.
- O pessimismo da história lembrava o diretor Carol Reed dos filmes franceses realistas dos anos 1930, que ele admirava. Ele e o cinematógrafo filmaram muitas cenas fora do eixo para mostrar o desequilíbrio moral. Antes de "O 3º Homem", Reed havia editado o documentário vencedor do Oscar, "A Verdadeira Glória". Acreditava, assim como os neorrealistas e alguns cineastas norte-americanos, que o cinema deveria se aproximar mais à realidade.

Lista editada há 6 anos

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