Interestelar
Mesmo antes de seu lançamento, muita expectativa foi gerada em torno de Interestelar na esperança de que ele fosse o representante moderno da ficção científica no cinema como 2001: Uma Odisseia no Espaço e Solaris foram em suas épocas, e são até hoje. Toda essa expectativa acabou voltando-se contra o próprio filme e ele não obteve o sucesso esperado. Apesar de planos bem construídos e imagens lindas, o diretor Christopher Nolan não conseguiu administrar de forma equilibrada todos os elementos que se dispôs a explorar, o que deu resultado a um trabalho muito ambicioso, porém inconsistente.
Co-escrito por Christopher Nolan e seu irmão, Jonathan Nolan, Interestelar apresenta Cooper (Matthew McConaughey), um ex-piloto e engenheiro, que vive com seus filhos em uma fazenda cheia de poeira devido às condições críticas do clima na Terra. Depois de encontrar a base secreta da NASA e que, coincidentemente, é comandada por um de seus ex-professores, Professor Brand (Michael Caine), Cooper é escolhido para uma missão que explorará um possível planeta que abrigue a raça humana e a salve de sua eminente extinção - e se convence de que aquele sempre foi o seu destino, decidindo deixar sua família e aceitar a missão.
A premissa de que uma pessoa possui os atributos necessários para salvar a humanidade e assume grande parte dessa responsabilidade já foi usada diversas vezes e não há nenhum problema nisso, desde que seja utilizada de uma forma coerente. Considerar que uma missão dessa proporção e importância não possui um piloto previamente escolhido e devidamente capacitado, e que Cooper seria a escolha ideal para assumir tal responsabilidade e já era conhecido pelos membros responsáveis pela missão, mas não sabia de absolutamente nada, parece algo irreal e desorganizado.
Se antes Nolan era criticado por produzir filmes frios, sem emoções e relações humanas bem elaboradas, aqui ele tenta, mas falha por não conseguir encaixar na narrativa, com harmonia e fluidez, os diálogos (alguns deles quase constrangedores) que desenvolvem a humanidade entre seus personagens e dão um toque mais “quente” ao tom sóbrio que o filme aborda. Os robôs que auxiliam os exploradores (uma referência clara ao design do Monolito de 2001) servem não apenas como peças mecânicas para o cumprimento da missão, mas acabam sendo usados como artifício para desenvolver as relações “humanas” dentro da nave, já que são programados com “emoções” de acordo com a vontade de seus donos.
Criando um universo interessante que aborda a luta da humanidade ao tentar sobreviver numa Terra castigada por chuvas de areia e pela fome, Nolan desenvolve o segundo ato do filme nos apresentando a jornada dos exploradores e todas as dificuldades que eles enfrentarão. O filme explora, até certo ponto, a vida do explorador e de suas decisões. Saber pesar as opiniões e atitudes pessoais pela salvação da humanidade são pontos de extrema importância, mas que acabam perdidos em resoluções rápidas e que não acompanham a linha “lógica” que ele propõe. O tom didático, científico, teorizado e com diversas explicações (mais do que o necessário em alguns casos), é quebrado pela resposta emocional que parece tentar ser a explicação para tudo: “O amor é a resposta.” Se o segundo ato tem sucesso por nos manter tensos e envolvidos em todo o desenvolvimento, ações e consequências da viagem, o terceiro ato falha por não saber lidar com todos esses acontecimentos e reuni-los de uma maneira satisfatória.
O visual bonito e imagens no espaço que ocupam toda a tela e mostram o quão pequena é a nave em relação ao local em que ela se aventura, enchem os olhos e lembram, diversas vezes, 2001: Uma Odisseia no Espaço ou filmes recentes como Gravidade e Árvore da Vida. Seja no modo como a nave se movimenta ou como o rosto de Cooper é enquadrado, a influência de 2001 é quase impossível de não ser observada. Juntamente aos recursos visuais, a trilha sonora de Hans Zimmer, mesmo que eficiente e agradável, emula, em alguns momentos, Richard Strauss, conferindo alguma grandiosidade às cenas que se passam no espaço, mas sem o mesmo sucesso como no filme de Kubrick.
Interestelar não é um filme ruim como alguns apontaram, mas também não é obra de arte que outros acreditam que ele seja. Ainda que apresente exageros no roteiro, deslizes ao administrar os diversos temas que aborda e a falha por juntar tudo no final de um modo eficiente, ele consegue ser um filme com momentos eletrizantes e com o controle e criação de um dos diretores mais talentosos da atualidade, mas que deixou, dessa vez, se levar pela própria ambição.