20/05/2016 20h38 - Atualizado em 20/05/2016 20h43

Filme tem Plebe Rude do 'marasmo' de Brasília à história do rock nacional

Lançamento oficial do documentário 'A Plebe é rude' acontece nesta sexta.
Obra mostra que 'é possível fazer rock sério', diz vocalista Philippe Seabra.

Lucas NaniniDo G1 DF

Clemente, Philippe Seabra e André X, da banda Plebe Rude (Foto: Breno Galtier/Divulgação)Clemente, Philippe Seabra e André X, da banda Plebe Rude (Foto: Breno Galtier/Divulgação)

Do “marasmo” da capital federal dos anos 1980 para a história do rock nacional. Fiel ao estilo e resistente às pressões do mercado, a banda Plebe Rude chega aos 35 anos na ativa e com um documentário para comemorar o tempo de estrada. 'A Plebe é rude' tem lançamento oficial nesta sexta-feira (20). O primeiro show após sair o longa acontece na Virada Cultural de São Paulo, no palco da avenida Rio Branco, altura da rua Aurora, em Santa Efigênia, neste sábado (21), às 20h.

A produção tem direção de Diego da Costa e Hiro Ishikawa e mostra imagens desde os primeiros passos do grupo até os momentos mais recentes, com o disco “Nação daltônica”, lançado no ano passado.

O filme conta um pouco sobre como a Plebe conseguiu se manter sem fazer concessões ao mercado fonográfico, especialmente na época do “boom” do “BRock”. Estão ali cenas de shows, entrevistas, depoimentos, participações em programas de TV e diversas imagens raras.

O lançamento coincide com a comemoração do 30º aniversário desde que o primeiro disco da banda, “O concreto já rachou”, chegou ao mercado. O álbum foi considerado pela revista Rolling Stone um dos 100 melhores discos da música brasileira de todos os tempos.

Quem não conhece a Plebe vai ver que é possível fazer rock sério. Quem conhece vai ficar com uma leve dor no coração, por ver que hoje o cenário da música está meio fraco"
Philippe Seabra, guitarrista e vocalista da Plebe Rude

A ideia do documentário partiu do diretor. Segundo o vocalista Philippe Seabra, Costa queria que os músicos atuassem como atores em um filme sobre uma banda que nunca chegou a gravar um disco. “O Diego entrou em contato para saber se queríamos participar, mas aí a gente disse: ‘Temos uma outra história aqui, a história da Plebe Rude’.”

A produção tem imagens em super 8, dos primórdios da banda, e mostram a precariedade que era mexer com música, especialmente o rock, nas condições que eles enfrentavam, afirma Seabra.

“O filme mostra todo o universo da banda, tem várias coisas que as pessoas podem tirar. Quem não conhece a Plebe vai ver que é possível fazer rock sério. Quem conhece vai ficar com uma leve dor no coração, por ver que hoje o cenário da música está meio fraco”, diz o vocalista e cantor Philippe Seabra.

“Também, para quem não conhece, vai ser um ‘caramba, esse universo de coisas é possível?’, com tudo o que tem na trajetória da Plebe. A Plebe é um exemplo de que vale a pena ter princípios.”

Plebe Rude (Foto: Caio Kenji/G1)Philippe Seabra no palco durante show da Plebe Rude (Foto: Caio Kenji/G1)

A estrada da banda incluiu dificuldades para lidar com a gravadora, empresários e todo o esquema exigido para se manter no “mainstream”. “A gente teve problemas. ‘Censura’ foi censurada, a gente apanhou de polícia, a gente participou de programa do Chacrinha, mas a banda nunca amansou o tom. O documentário mostra a banda entrando na máquina, mas mantendo sua identidade preservada.”

Show da banda brasiliense Plebe Rude na Praça Júlio Prestes, em São Paulo. (Foto: Flavio Moraes/G1)Clemente e Philippe Seabra
(Foto: Flavio Moraes/G1)

“O filme é como a gente está navegando nesse meio, com o nosso negócio, com a nossa mensagem. Gosto de pensar que quem gosta da banda respeita a nossa postura”, declara. “A Plebe teve um caminho singular.”

Personagens
O filme traz os integrantes da formação original, os vocalistas e guitarristas Philippe Seabra e Jander Bilaphra, o baixista André X e o baterista Gurtje Woorthman.

Também participa o guitarrista e vocalista Clemente, que entrou para a Plebe em 2004. O músico foi o primeiro punk que a banda conheceu fora de Brasília, o cara que recebeu os integrantes na rodoviária de São Paulo, na primeira viagem do grupo para a capital paulista.

A obra tem outros personagens importantes na trajetória da Plebe, como o jornalista e crítico musical Arthur Dapieve, o executivo que levou a banda para a gravadora EMI, Jorge Davidson, e o amigo e músico Herbert Vianna.

O documentário é a Plebe está ‘navegando’ em tudo isso, apanhando de polícia. A gente não teve caminho fácil, mas se manteve fiel ao que a gente sempre fez. Acho que a mensagem que o filme passa é para não deixar as limitações te definirem como pessoa"
Philippe Seabra, músico da Plebe Rude

“O documentário tem uma série de depoimentos importantes, tem uma lembrança lúcida do Herbert”, afirma Seabra. Ele conta que o guitarrista dos Paralamas foi quem fez o meio de campo entre a Plebe e a Legião Urbana com a gravadora.

“Eu digo que tenho três mentores. O André, da Plebe, o Renato Russo e o Herbert Vianna. Na época, a Plebe e a Legião desceram para o Rio, os Paralamas já tinham estourado com ‘Óculos’, tinham sido convidados para o Rock in Rio, e ele foi importante para apresentar as bandas.”

Rock de Brasília
Philippe Seabra afirma que o documentário vai além de contar a história da banda e vem também elucidar muita coisa sobre o “mito do rock de Brasília”. “Era um bando de adolescente lutando contra o marasmo. Brasília era um marasmo que nenhum adolescente deveria passar.”

Plebe Rude, que se apresenta neste domingo na Torre de TV, em Brasília (Foto: Dhyana Mai/Divulgação)Plebe Rude (Foto: Dhyana Mai/Divulgação)

Ao mesmo tempo em que a capital era um deserto longe dos grandes centros, havia a vantagem de a cidade abrigar diplomatas que faziam uma espécie de ponte com o “mundo exterior”. “As embaixadas eram como se fossem a nossa intranet.”

Seabra e a Plebe cresceram na mesma Brasília do Aborto Elétrico, Legião Urbana e Capital Inicial. A distância com o resto do mundo fazia a garotada ter de criar sua própria diversão, suas festas, suas bandas. Os personagens dessas histórias acabavam interagindo e aprendendo a viver um com o outro.

Capa de "Nação daltônica", álbum da Plebe Rude (Foto: Reprodução)Capa de "Nação daltônica", álbum da Plebe Rude
(Foto: Reprodução)

“O André mesmo apresentava as coisas para a gente, trouxe tudo do pós-punk para a gente, Stiff Little Fingers, aquela banda irlandesa, sabe? Tinha aquela força. Então, esse é o pano de fundo da nossa vida"

André X, baixista desde os primeiros passos da Plebe, membro ainda presente na banda e “mentor” de Seabra é apontado como figura fundamental na trajetória da banda e também da cena roqueira da capital.

“O filme celebra a minha amizade com o André, o núcleo da banda. É a história da minha vida, mostra um pouco das cartas que a gente tinha na mão. A Plebe é um exemplo de contraponto, o pop é legal, mas o problema é quando não tem o contraponto”, diz.

“Quando se perde noção da nuance, se perde tudo. Aí, quando aparece algo bom, será que a pessoa sabe mesmo diferenciar?”

Exposição
Ter um documentário sobre a própria história é um dos poucos momentos em que a trajetória da Plebe Rude se faz exposta. O próprio Philippe Seabra declara que a banda é discreta. “Eu não me expus muito, moro em Brasília, nunca me dei muito com o meio musical. Cada disco que sai, a ‘Nação daltônica’ por exemplo, a gente faz uma bateria de entrevistas, mas não fica assim exposto. As nossas letras falam por si.”

Estamos vivendo em uma era em que as pessoas se expõem muito, a magia do artista que a gente admira, essas coisas se perdem com tanta rede social. Será que realmente o ser humano foi projetado para absorver tanta informação assim?"
Philippe Seabra, guitarrista e vocalista da Plebe Rude

Sem perfil em redes sociais, Seabra diz achar ruim o excesso de exposição dos músicos na atualidade. O resultado disso é uma apatia e uma superficialidade, segundo o músico.

“Estamos vivendo em uma era em que as pessoas se expõem muito, a magia do artista que a gente admira, essas coisas se perdem com tanta rede social. Será que realmente o ser humano foi projetado para absorver tanta informação assim?”

Segundo ele, a onda de músicos que se tornaram blogueiros acaba prejudicando a arte, muitas vezes compromete a carreira e contribui para a apatia. “Quanto mais ele opina, menis ele faz para a música”, diz.

“O documentário é a Plebe está ‘navegando’ em tudo isso, apanhando de polícia. A gente não teve caminho fácil, mas se manteve fiel ao que a gente sempre fez. Acho que a mensagem que o filme passa é para não deixar as limitações te definirem como pessoa.”

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