Crítica – Viva – A Vida é uma Festa (2017)


Qual legado você deixará depois de morrer?


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Cá estou eu, novamente, imaginando o poder que o contexto no qual uma obra está inserida tem em sua avaliação. Ou, melhor ainda, a influência de tal contexto na criação de um trabalho artístico. Os primeiros pensamentos a esse respeito estão na crítica de Liga da Justiça (2017). O filme da vez a levantar esse questionamento é Viva – A Vida é uma Festa, novo longa de animação da Pixar. Enquanto o caso dos super-heróis da DC envolvia problemas internos da produção, o relevante na animação do estúdio de Toy Story é o contexto histórico.

Quando os Estados Unidos elegeram um presidente com seu discurso nacionalista chegando a solicitar um orçamento bilionário para a construção de um muro na fronteira com o México, a Pixar produziu um longa para celebrar a vida e a diversidade, respeitando e enaltecendo a cultura do vizinho ao sul da fronteira.

O argumento sobre contexto nas artes ganha mais força nesse filme na medida que a canção tema muda de significado ao passo que são apresentados a outros fatos relevantes. A música no longa, de maneira geral, apesar de não ser memorável e nem ter batidas que permaneçam nas mentes dos espectadores, vem em camadas. Ela vai se tornando mais emocional ao longo do filme. É louvável a escolha de manter-se fiel aos ritmos mexicanos sem tentar vender um produto padronizado e enlatado para todos os gostos.

Mas esse esmero com os detalhes ao contar histórias emocionantes já é praticamente marca registrada do estúdio. Não que Viva tenha uma história inovadora e esteja entre o grupo dos melhores filmes da Pixar como Toy Story (1995), Ratatouille (2007) Wall-E (2008) ou Divertidamente (2015), mas é cuidadoso o suficiente ao tratar temas como família, morte e seguir os sonhos independentemente do quão difícil pareça a jornada.

Na trama, simples, o que faz lembrar muito mais uma animação da Disney do que da Pixar, um garoto, Miguel, sonha em ser músico, mas é proibido por sua família, talvez a única em todo o México que despreza a música. Isso porque a tataravô do menino deixou todos para trás para seguir a carreira de músico. Ao tentar roubar um violão do túmulo de um cantor famoso para realizar seu sonho, Miguel termina indo para o mundo dos mortos bem no Dia dos Mortos. A jornada que se segue é clássica, sem muitas surpresas ou complexidades e subtextos.

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Miguel tem um esconderijo secreto

Usar o Dia dos Mortos mexicano como pano de fundo de uma história não é novidade nas animações. Em 2014, Guillermo del Toro produziu Festa no Céu. Uma animação com a identidade de del Toro e um traço mais arrojado. Ambas trazem personagens que sonham em ser músicos e tratam muito bem da cultura mexicana na qual a morte não é um fim, mas a continuação de um processo. O seu legado e memória definirão a sua “vida” pós-morte. Um tema um tanto quanto espinhoso e complexo, mas que é tratado com leveza. Tudo é palatável para o público infantil. Encantador!

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O colorido do mundo dos mortos

Em relação à técnica, o 3D faz diferença como em poucos filmes mais recentes. As cenas no mundo dos mortos são de encher os olhos. É um colorido vibrante que mostra como o dom da vida deve ser celebrado. Os mortos são alegres, principalmente nesta data, pois conseguem voltar ao mundo dos vivos e rever seus familiares queridos e recolher as oferendas. A Pixar nunca se preocupou em dar formas detalhadas para os humanos em seus filmes, em oposição aos animais, monstros e brinquedos. Em Viva, o destaque fica para as rugas do rosto de Mamá Ines, a bisavó de Miguel e para os dedos dos personagens ao tocarem violão. Nos números musicais, o dedilhado no instrumento e as expressões nos rostos, por si só, já emocionam.

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Miguel e Mamá Ines

Boas releituras de momentos do cotidiano humano são trabalhadas aqui, como de costumo na Pixar. Um exemplo seria a sempre inconveniente passagem pela alfândega/polícia federal para declaração de bens e permissão de entrada, no caso, no mundo dos vivos.

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Isso que é declarar bens

Viva – A Vida é uma Festa, de fato, é uma celebração à vida e uma ótima animação. Porém, não foi suficiente para fazer parte do grupo de melhores filmes da Pixar.

Nota:

Nota 6.0

Muito Bom


Data de Lançamento: 20 de outubro de 2017 (México)
Estreia no Brasil: 4 de janeiro de 2018
Direção: Lee Unkrich
Duração: 109 minutos
Elenco: Anthony Gonzalez, Gael Garcia Bernal, Benjamin Bratt, Alanna Ubach, Renée Victor
Gêneros: Aventura, fantasia, musical, animação
País: EUA


 

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