Suspiria (1977)

País: Itália

Duração: 1 h e 38 min

Gênero: Horror

Diretor: Dario Argento

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0076786/


Suspiria” é considerado por muitos como o primeiro clássico do cinema de horror – eu, particularmente, acho que esse posto é de “O exorcista” – e está inserido no contexto de um movimento cinematográfico muito importante na Itália na época de sua produção, o Giallo, que, praticamente, tornou-se um subgênero cinematográfico do terror. Para entender melhor esse movimento, segue o link da Wikipédia sobre o assunto: clique aqui. Há controvérsias sobre o enquadramento do filme em tela como um Giallo autêntico, pois ele não possui todas as características necessárias, porém acho essa discussão infrutífera. Por ser dirigido por Dario Argento, um dos expoentes do movimento, e ser produzido na década em que o movimento estava no seu ápice, vou inclui-lo no rol de filmes Giallo. O que realmente importa é a representatividade de “Suspiria” no cinema de horror. O filme é praticamente um definidor de estilo, que influenciou bastante produções posteriores – até de outros gêneros.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Susan é uma jovem americana que viaja para a Europa para estudar numa prestigiada escola de balé. Desde o primeiro dia, porém, ela começa a se assustar com estranhas situações que ocorrem no local, as quais sugerem a existência de bruxas por toda a parte.”

É o típico filme no qual a atmosfera criada pelos mais diversos recursos técnicos cinematográficos é mais importante que o roteiro em si. Isso me desagrada bastante, e esse foi o motivo pelo qual concedi a ele uma avaliação mediana. Acho que o roteiro é o elemento constitutivo mais importante de um filme. É ele que deve prender a atenção do espectador. A narrativa, além de ser muito simples, deixa muitas “pontas soltas”. As verdadeiras motivações dos antagonistas da trama – os responsáveis e empregados da escola de dança -, relativas à devoção pela hipotética “mãe dos suspiros”, não são explicadas. Os fundamentos dessas relações de subordinação não são mostrados em momento algum – o que deixa a sensação de que os personagens “caíram de paraquedas” em um determinado contexto e seguiram a direção da maré. São personagens agrupados em um bando indeterminado. Como o filme é relativamente curto, haveria tempo para estabelecer uma ligação mais lógica entre esses “vilões”, os quais são bastante importantes, pois geram toda a tensão da história. Ademais, é uma história sem complexidade narrativa, com algumas poucas viagens no tempo – nada que dificulte a compreensão.

É difícil até achar adjetivos para a atmosfera de insegurança criada por Argento para exibir as cenas de seu filme. É uma construção estética tão espetacular quanto surrealista, que se baseia no uso abundante da cor vermelha – o que leva até ao uso de sangue cenográfico com um tom de vermelho bem mais vivo e brilhante que o natural. Considero a cor como um personagem da história. Outro “personagem” importante é a trilha sonora da banda italiana de rock progressivo, Goblin. Não raro escutamos a música mais alta que os gemidos, suspiros e sussurros que ecoam a todo momento na narrativa. Com ares de uma inquietante melodia demoníaca, esse conjunto de sons psicodélicos dosa o nível de tensão ao qual o espectador é submetido. É uma tensão extrema baseada na imagem e no som, que concede a esses recursos uma relevância absurda em relação aos outros elementos construidores de uma obra cinematográfica. Por isso, considero “Suspiria” uma obra singular e com um valor artístico inestimável. Metaforicamente, é um quadro pintado por um artista renomado, o qual produziu a moldura com as próprias mãos utilizando ouro maciço e deixou a tela apenas com alguns rabiscos, ou seja, com pouco conteúdo. Uma obra que vale muito, mas por motivos acessórios, que suplantam aqueles que realmente deveriam ser objeto de reconhecimento.

Sempre que comento sobre alguma película, procuro me por no lugar de um espectador da mesma época de sua produção. Em 1977, talvez “Suspiria” tenha proporcionado um grande pavor, afinal, filmes com um contexto tão aterrorizante não eram muito comuns. Gostei muito por ele não ter utilizado com abundância o recurso dos scare jumps, que são aqueles sustos causados por um aparecimento repentino de algo ou alguém, juntamente com um som alto e agudo. Acho isso a maior apelação possível em um filme de terror. São artifícios utilizados para mascarar a incompetência para conseguir o resultado desejado em obras desse gênero. É o susto fácil, mas não o medo! Assistir a “Suspiria” nos dias de hoje retira uma boa porcentagem desse suposto horror que se vende, pois há uma série de outros filmes posteriores, aos quais tivemos a oportunidade de assistir, com recursos tecnológicos modernos e uma construção narrativa mais apavorante, que conseguem um melhor resultado na tarefa de gerar medo; porém, não se pode em hipótese alguma diminuir a importância, principalmente histórica, do filme em tela. No fim das contas, foi uma experiência válida, com muita tensão e pouco medo, mas com uma boa dose de satisfação, por ter assistido a mais um valoroso clássico da sétima arte – um filme com uma das ambientações mais apavorantes da história do cinema.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


2 comentários Adicione o seu

  1. Antônio Manuel Lopes Amaral disse:

    Bom dia. Caro amigo, seus textos são BRILHANTES ( tanto na forma quanto no conteúdo ). Então, você poderia, por favor, escrever resenhas de filmes dos ícones Gene Hackman, Clint Eastwood e Robert Redford? Muito obrigado pela atenção e um forte abraço.

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    1. Realmente “escrevi” pouco sobre seus atores favoritos, mas vou dar prioridade aos filmes deles daqui pra frente. Por sinal, o filme “Três homens em conflito”, com a presença de Clint Eastwood, é o meu filme favorito, já foi objeto de crítica aqui no blog e pode ser acessado no endereço https://cineminhazumbacana.wordpress.com/2016/11/07/tres-homens-em-conflito-1966/.
      Bom dia e obrigado pelo elogio e pela preferência.

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