O que eu mais desejo (2011)

Título original: Kiseki

Título em inglês: I wish

País: Japão

Duração: 2 h e 08 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Koki Maeda, Ohshirô Maeda, Ryôga Hayashi

Diretor: Hirokazu Koreeda

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt1650453/


Crianças encantam, principalmente pela ingenuidade que apresentam e pela maneira peculiar que enxergam o mundo ao redor. O elenco de “O que eu mais desejo” conta com crianças, que interpretam uma história para os adultos assistirem, aprenderem, apreciarem e refletirem. Trata-se de um filme sobre amadurecimento, sobre passagem – muitas vezes precoce -, sobre mudança de pensamentos, que é ocasionada por situações difíceis e impostas pelo meio. A infância, que deveria ser um período da vida do ser humano provido de condições suficientes para potencializar a fase de formação do caráter e o aprendizado, em muitas vezes acaba tendo esse “curso natural” desviado por diversos motivos, como por exemplo o divórcio dos pais, que é mostrado no filme em tela. Uma situação como essa acarreta uma automática imposição de sofrimento e dúvidas às crianças, as quais, dependendo de suas disposições, buscam meios – muitas vezes surreais e pertencentes apenas a seus mundos imaginários – para a resolução desse problema tão sério em suas vidas. Esse é o viés narrativo do filme, entretanto o divórcio não é o único problema – é apenas o maior deles -, pois estão inseridos no contexto diversos personagens infantis, que têm seus próprios próprios problemas/sonhos e o desejo de resolvê-los/realizá-los.

A sinopse, retirada da internet, é a seguinte: “No Japão, na ilha de Kyushu, dois irmãos vivem separados após o divórcio de seus pais. Koichi, o mais velho, de 12 anos, mora com sua mãe no sul da ilha e seu irmão mais novo Ryunosuke com o pai, no norte da ilha. O que o irmão mais velho deseja, acima de tudo, é que sua família viva junto novamente. Por isso, quando escuta de um amigo da escola a história de que um desejo pode ser realizado se feito no momento em que dois trens-bala se cruzam, ele decide organizar uma viagem secreta até o ponto de intersecção dos trens, onde o milagre poderá acontecer.”

O diretor Hirokazu Koreeda concede lirismo, regado a bastante pureza, à dramática narrativa e proporciona uma conjuntura ideal para o aludido amadurecimento. Com seu jeito lento, metódico e detalhista de mostrar cenas cotidianas que prepararão o ambiente perfeito para o desenrolar dos fatos principais do filme, Koreeda dá a oportunidade das crianças – pelo menos, a algumas delas – adquirirem discernimento para entender a complexidade do mundo que as rodeia e a presença de situações insolúveis, as quais geram tristeza, porém aprendizado. Para isso, ele usa diversas situações particulares de cada criança: o divórcio, a morte de um animal de estimação, o sonho de ser atriz, etc. O roteiro planta as sementes para que as crianças colham seus frutos e, por si mesmas, tirem suas conclusões. Percebe-se que há um amadurecimento forçado, decretado pelas circunstâncias da vida e não pelo aprendizado paulatino oportunizado normalmente pela família e pela escola. É explicitamente mostrado no filme que a sociedade japonesa já concede responsabilidades a mais para os infantes em relação a muitas sociedades ocidentais. Isso, por si só, já antecipa o desenvolvimento da maturidade nas crianças.

Em uma condição normal, as pessoas recebem uma informação, processam-na e agem de acordo com esse processamento, o qual pode ter inúmeros resultados. A infantilidade, por exemplo, leva a caminhos diversos daqueles considerados mais lógicos ou reais, e essa realidade normalmente quebra o paradigma da perfeição do mundo adulto, idealizado principalmente pelas crianças. A beleza contida em eventuais frustrações provocadas por descobertas é imensurável, pois é um processo necessário para formação do ser humano. O espectador pode contar com esse prazer ao ver a maneira de agir das crianças e a aquisição de resiliência para superar os mais diversos obstáculos, lutar por seus objetivos, desconsiderar eventuais incômodos e conceder um viés de normalidade a eles – até a “chuva” constante de cinzas de um vulcão, que embeleza a fotografia do filme.

Destaco a leve e despojada trilha sonora, pois sugere uma conjuntura deveras irresponsável aos dramas de cada um. Nada mais natural, por o filme dissecar os anseios de crianças. Ela funciona como uma redoma que protege a obra contra o melodrama. Apenas mais um recurso utilizado pelo genial cineasta para compor toda a ambientação do filme: a roda gigante da vida, que ora está em cima, ora está embaixo, e está inserida no parque de diversões construído na cabeça de cada pequeno ser humano imbuído na difícil tarefa de aprender a viver.

Filme espetacular! Meia estrela a menos na avaliação, apenas por ser bastante lento, apesar dessa característica estar contida no estilo Koreeda de fazer cinema.

– O que eu mais desejo?

– Que vocês, meus caros leitores, assistam a mais esse belíssimo filme da cinematografia japonesa e desfrutem dessa maravilhosa experiência.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba

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