A família (2017)

Título original: La familia

Título em inglês: The family

Países: Venezuela, Chile, Noruega

Duração: 1 h e 22 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Giovanni García, Reggie Reyes

Diretor: Gustavo Rondón Córdova

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6107516/


Opinião: “As vítimas da conjuntura social e política de um país combalido representadas na tela do cinema.”


O grande atrativo do filme em tela é a realidade. E apenas isto! Inicialmente, já resumo o fio condutor da película e a reduzo a uma única palavra (realidade), pois o propósito do debutante diretor é exclusivista: mostrar um específico recorte de um país, no qual a desigualdade social impera e a violência faz parte do cotidiano da maioria das pessoas. Em uma passagem individual, lembrou-me “Ladrão de Bicicletas“, entretanto, a diferença entre “A família” e o referido clássico italiano é abissal, pela total falta de fatos relevantes na obra venezuelana. Trata-se de um filme, que, logo no início joga todas as suas cartas na mesa, através da exibição do fato gerador de tensão da narrativa e, após isso, perde o rumo e se torna enfadonho e desinteressante. Na verdade, pela situação contemporânea da Venezuela, mergulhada em uma profunda crise financeira e política, a simples indicação de um filme para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019 já é uma vitoria consagradora, e devemos levar esse aspecto em consideração.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Andrés e seu filho Pedro, de 12 anos, vivem em um bairro operário de Caracas e quase nunca se vêem. Como Andrés gasta seu tempo em vários empregos, Pedro perambula pelas ruas jogando com os amigos e aprendendo com o ambiente violento que o rodeia. Durante uma tentativa de assalto, Pedro luta com um menino e o fere com uma garrafa. Ao descobrir isso, Andrés prevê vingança e decide fugir do bairro em busca de refúgio. Esta situação irá apresentar um pai incapaz de controlar o adolescente, mas, ao mesmo tempo – e de forma inadvertida -, torna-os mais próximos do que nunca.”

Como já salientado, o desenvolvimento e a conclusão do filme poderiam ter sido melhor construídos, pois, mesmo entendendo a proposta do diretor – de exibir o cotidiano tenso da dupla em decorrência do ato inicial, julgo que um pouco mais emoção, até mesmo na relação entre os dois, seria salutar e necessário, para que a narrativa não ficasse tão vaga, no entanto, a história consegue prender o espectador em alguns momentos, principalmente quando insere frustrações, agonias, remorsos e medos nas vidas vulneráveis de ambos. Em um tom depressivo, acompanhamos os protagonistas rumando para o desconhecido, pois, pela conjuntura que é edificada, eles só têm o sol e a lua como companheiros.

É válido perceber o clima de guerra existente no país através da simples luta por subsistência, através da busca por empregos informais e até ações criminosas e presumidamente justificadas pelo desespero, porém, o principal ponto de interesse é a aproximação lenta e paulatina entre pai e filho, cujo contexto miserável tratou de afastar diariamente. Os arredores de Caracas, algo como favelas, são as locações reais desse filme brutalmente realista, que, através do alcance proporcionado pelo cinema, revela ao mundo apenas um exemplo, mesmo que ficcional, da “sobrevida desvalida” que a maioria dos cidadãos venezuelanos levam atualmente, a qual apenas imaginamos pelo que vemos na imprensa. Esse cinema verdade é sempre interessante para conhecermos as nuances dos quatro cantos do planeta, mesmo que não sejam agradáveis.

Paradoxalmente, “A família” não é um filme para a família, apesar de subentender o amor incondicional existente entre seus componentes, pois insere seus personagens em um mundo cão, no qual a linha entre a vida e a morte é bastante tênue, pelo pseudo poder atribuído à força da violência, que, infelizmente está cada vez mais evidente nos dias atuais, principalmente em países afundados em crises financeiras, que transformam seus habitantes em animais irracionais em nome da sobrevivência. Que o final vazio do filme em tela pelo menos leve sua plateia a boas reflexões e a dar maior valor à vida, mesmo que haja dificuldades. Segundo uma famosa frase feita que usamos muito: “a família é a base de tudo”. É na força dessa entidade que os problemas começam a ser solucionados.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

  1. Parabéns pela resenha!! Fiquei interessada em assistir para poder compreender a visão venezuelana da sua própria realidade. Abraços!

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