Em pedaços (2017)

Título original: Aus dem Nichts

Título em inglês: In the fade

Países: Alemanha, França, Itália

Duração: 1 h e 46 min

Gêneros: Crime , drama, thriller

Elenco Principal: Diane Kruger, Numan Acar, Adam Bousdoukos

Diretor: Fatih Akin

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt5723272/


Citação: “Meu filho admira Adolf Hitler.”


Opinião: “Muito mais que uma simples vingança.”


No mundo dito globalizado da atualidade não é raro encontrarmos pessoas das mais variadas nacionalidades circulando ou mesmo possuindo residência fixa nos mais variados países, bem como pessoas com opiniões, crenças, religiões, ideologias, orientações sexuais e pensamentos diversos. O mundo hoje transpira diversidade! Também na atualidade, perversos fantasmas ainda se encontram muito vivos através de fanáticos e/ou alienados que nutrem admiração por eles, como por exemplo, em relação à figura de Adolf Hitler. Por sinal, o filme alemão “Ele está de volta” (2015), cuja crítica pode ser lida clicando-se aqui, mostra, em tom de comédia reflexiva, a boa receptividade que o tirano, para a surpresa de todos, ainda possui hoje na Alemanha, e a grande quantidade de grupos neonazistas organizados no país. Percebe-se que o mal é persistente, passeia livremente na mente das pessoas e está à espera de um momento oportuno para ser exteriorizado. Nesse sentido, considerando a existência da diversidade de uma forma ampla, a preservação de ideias nefastas do passado e a dificuldade gigantesca que pode ser identificada facilmente nos dias de hoje em lidar com as diferenças, que a narrativa do filme em tela constrói seu alicerce e proporciona fortes emoções ao provocar a destruição de uma família feliz em nome da intolerância, em nome de uma suposta supremacia étnica tão pregada pelo nazismo. Trata-se de uma história ficcional, mas preocupante, pela conjuntura atual do mundo moderno.

Eis a sinopse: “Katia Sekerci é uma alemã que leva uma vida normal ao lado do marido turco Nuri, e do filho de 7 anos. Um dia, ela é surpreendida ao descobrir que ambos morreram devido a uma bomba colocada no escritório do marido. Desesperada, Katia decide lutar por justiça ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista.”

Didaticamente, o filme é dividido em três partes. A primeira, chamada de “A FAMÍLIA” é de longe a melhor delas. Mostra eminentemente o luto de Katia, que, diga-se de passagem, é desenvolvido com uma realidade impressionante – e começa a tecer a teia que deverá unir suas pontas ao final do filme. A segunda, chamada de “JUSTIÇA”, é deveras problemática, por lançar mão de um julgamento eivado de falhas evidentes, inclusive para que não é especialista em direito. Talvez, o objetivo da sequência seja potencializar a revolta já existente àquele momento do filme. E a terceira, chamada de “O MAR”, é simplesmente digna e mostra uma saída lógica, mas talvez previsível para a trama. Após esse breve resumo, deve-se destacar a boa coesão entre as três partes que Fatih e a equipe de edição conseguiram com seus trabalhos e a excelente atuação de Diane Krugger como Katia. O roteiro, por sua vez, não se furta de chocar seus espectadores através de várias perspectivas. Uma aura negra paira sobre o ambiente em 95% da exibição – só não aparece nos primeiros minutos, que são de felicidade – em nome da manutenção sempre destacada de um drama bastante angustiante. Também, por instantes, há espaço para um pouco de suspense e tensão, principalmente em seu desfecho.

O foco absoluto recai na personagem interpretada por Diane Krugger, Katia, a qual transita no grande e diverso espectro dos sentimentos com maestria e abrilhanta sobremaneira a experiência dos espectadores. A história leva a protagonista ao limite, impondo tragédias e fracassos recorrentes para gerar dúvida e desespero. Nesse contexto, a força da personagem é testada com muita intensidade, que, a propósito, é uma das características marcantes do filme, e provê cenas tormentosas para estimular as emoções e enfatizar os fatos geradores de tensão da narrativa, como, por exemplo, a questão dos grupos neonazistas. Fica clara a pretensão do diretor em sugerir a reflexão das sociedades em geral quanto às temáticas abordadas, afinal, a situação do mundo atual já se torna alarmante, pois ataques de ódio movidos pela intolerância são vistos com frequência em todo o planeta.

Em pedaços” é uma obra dolorosa e de difícil digestão, na qual o mal divide as atenções com a protagonista e proporciona situações lascerantes. É um filme produzido para ir ao encontro da realidade e de encontro à racionalidade. Definitivamente, trata-se de um filme difícil, mas necessário.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

  1. BENTO ROMUALDO DE MATOS disse:

    Esse eu assisti no ano passado na galeria da Pajuçara. Excelente!

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