Cinema: O Homem das Multidões

Roteiro se perde em meio a solidão, e acaba gerando um filme fraco.

Roteiro se perde em meio a solidão, e acaba gerando um filme fraco.

Esqueça os filmes de comédia nacional, que nem parecem filmes e sim seriados de TV, e embarque em um filme com um tema delicado, que é a solidão, e querendo fazer bonito com o ar poético que carrega… Pena que querer não é poder.

O Homem das Multidões tem uma sinopse bastante interessante em que somos apresentados a dois personagens que têm em comum a solidão, mas que colocadas na tela de maneira diferentes.

Começamos acompanhando Juvenal (Paulo André), condutor de metrôs, que vive sozinho sem família, sem amigos, e sem nenhum hobby. Em seguida somos apresentados a Margô (Silvia Lourenço) que também vive na solidão, mas que passa horas na internet e com a tecnologia a seu favor, sobrevivendo com redes sociais e derivados.

O plote do filme e a ideia dos diretores Marcelo Gomes e Cao Guimarães são ótimos. Porém, os diretores não souberam aproveitar a ideia de maneira mais correta. O roteiro é raso e o ar poético que o filme carrega não é visto em momento algum. Somos levados a acompanhar Juvenal vagando em ruas desertas à noite, ou então Juvenal olhando para o nada, com expressão pálida e também conversando sozinho enquanto arruma a casa. Nada disso seria problema, desde que Juvenal tivesse alguns conflitos onde pudesse explorar um pouco mais como um isolado do mundo age em algumas situações. Juvenal até participa de um casamento, porém quando isso acontece, o filme já está quase no seu final e a cena ainda não gera a expectativa que se esperava. A mesma coisa acontece com a personagem de Margô, que utiliza poucas vezes a tecnologia durante o filme, apesar de a sinopse contar o contrário. Uma personagem que poderia ser bem interessante cai na mesmice e o clichê de “conhecer o futuro parceiro na internet” acaba acontecendo. Ou seja, um roteiro fraco, que praticamente não desenvolve os personagens.

Marcelo Gomes e Cao Guimarães não acertam a mão na direção. Os erros começam quando o roteiro tem poucas falas. Um filme com um tema desses poderia gerar metáforas e frases de efeitos, mas nem isso consegue. E nem a trilha sonora funciona, já que também é pouco utilizada. As atuações da dupla principal são fracas. Paulo André parece perdido sem saber o que fazer direito com seu personagem. Já Silvia Lourenço é esforçada, mas também não consegue muito além disso.

Mas nem tudo está perdido. Tecnicamente o filme é interessante. Logo de cara somos apresentados ao formato de tela 1:1 e que permanece durante todo o filme. Esse paradigma lembra muito as fotos do aplicativo Instagram, o que faz até muito sentido para a história do filme. Na maioria das selfies tiradas, as pessoas estão sozinhas na foto, nem o que estar ao redor delas conseguimos ver, e é assim que acompanhamos a história de Juvenal e Margô, focados neles, sem ver muito ao redor dos dois. A Direção de Arte do filme está de parabéns por recriar cenários que condizem com a história. Repare na casa de Juvenal, poucos móveis, casa espaçosa, e apenas um copo ele possui. Detalhes que fazem toda a diferença para mostrar o ambiente do personagem principal. Para completar, a fotografia do filme é incrível com as cores utilizadas na medida certa para o que a história se pretende a contar.

É uma pena que um filme com uma ideia interessante e que poderia ser muito melhor aproveitada, se perca no que seria o seu ponto mais forte: o roteiro. O filme se salva no quesito técnico, mas sabemos que apenas isso não é suficiente. O roteiro fraco com certeza influenciou na direção e nas atuações. Fica o aprendizado  para que erros como esse não voltem a acontecer.

Nota 5

O Homem das Multidões, 2013. Direção: Cao Guimarães e Marcelo Gomes. Com: Paulo André e Silvia Lourenço. 95 Min. Drama.

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