Resenha: Ana y Bruno (2017) evoca desconforto para se moldar uma densa narrativa, que em seu desembaraço encanta!

ana-y-bruno-anima-studios-105

Tendo um grande reconhecimento na premiação mexicana CANACINE Awards de Melhor Filme Animado de 2018. E sendo pré-indicado ao Oscar de Melhor Animação de 2019 ; Ana y Bruno (2017) é um longa animado de estréia do diretor; Carlos Carrera, um grande nome do cinema Mexicano. No ramo das animações ele já chegou produzir dois curtas; El héroe (1994) e Los mejores deseos (1991).

Com um orçamento pouco mais de 5,35 milhões USD ela se demonstra uma produção cara – para os parâmetros de animações mexicanas – porém seu conteúdo original nem se compara com grandes produções que vemos no mercado. Embora tenhamos grandes longas animados que trabalham encima da cultura do México; Viva – A Vida é uma Festa (2017) e Festa no Céu (2014), pouco se sabe de produções que foram criadas no país. Você poderia citar alguma? Bem, agora eu posso citar Ana y Bruno; uma grande surpresa fantasmagórica que a princípio evoca um desconforto para se moldar a sua densa narrativa, que no seu desembaraço encanta, desenvolvendo uma bonita história que se baseia no romance “Ana”, de Daniel Emil.

A história se passa em San Marcos no México, seu cenário engloba uma cidade em mudanças; num transe, em constante movimento, que é refletido na imagem do trem, veículos presentes na trama. Carlos Carrera nos apresenta Ana; uma garota que é mandada á um manicômio junto de sua mãe a pedido de seu pai. Deixando sua família neste lugar comumente voltado a ‘filantropia’ ele se despede desses laços, o que a principio escancara sua superfície áspera. Ana sendo uma criança, precisa se conectar á seu novo lar, e nós telespectadores passa a sentir esse estranhamento próximo, o que vai se suavizando no desenvolvimento devido a grandeza da imaginação surrealista na narrativa.

Essa, que é amarrada aos pacientes locais, que materializam seus traumas em seres medonhos; enquanto objetos inanimados ganham uma pitada de consciência para rememorar experiências de dor, sofrimento. Esses seres passam a desenvolver uma relação com Ana, onde vão compartilhar aventuras na caminhada da garota em busca de seu pai, para poder salvar sua mãe. Bruno é um ser de aparência estranhamente alienígena que irá dar suporte a trama com seu carisma, e travessuras, que alinha muito bem a seu personagem. Os outros seres manifestam também as partes humanas de seus criadores, onde ganham significado em suas ações.

Portando, nessa amontoada bizarrices, o filme busca tratar uma questão bem emblemática e indigna sobre o tratamento de pacientes em sanatórios no passado, com o ato brutal e desumano do electrochoque em tratamentos psiquiátricos, que se assemelhavam á uma sala de tortura numa sufocante violência. *Ainda que a técnica do passado ecoa nos dias atuais, em lugares desprovidos de assistência. A eletroconvulsoterapia (ECT) teve uma revolução no seu tratamento com estudos de eficiência e terapias mais humanas*

Já visualmente, a animação se demonstra armadora na técnica, porém acredito que seja proposital, não há como contar uma historia desse tipo com visual Disney contemporâneo ou com o forte traço CGI do mercado. Mesmo com a versatilidade da DreamWorks; onde nasceu Shrek (2001) soaria estranho. Ana y Bruno está mais para ‘O Estranho Mundo de Jack (1993 )’ com cores vibrantes apagas que  não agradaria aos  olhos do Tim Burton.

O filme funciona de forma lúcida – se não se apegar a detalhes – mesmo com tamanha nevoa de embriaguez fantástica. Uma família em ruínas, busca aquietar-se a fadiga de fugas recorrentes em meio a perdas, e Ana como a força de um mártir decide romper esse trágico destino.  O que é o ponto fraco da trama pois, ao mesmo tempo que soa lindo e comovente;  é desmascarada a falta de realidade da garota, ela realmente precisava desse momento para se debater consigo mesma em meio a essa correria de acontecimentos; e ela tinha suporte para tentar lidar, porém o diretor preferiu  não dar ela essa autonomia.

Em uma entrevista ao CartoonBrew o diretor as grandes expectativas para Ana y Bruno trouxeram uma esperança para os seus próximos projetos. “Se tudo correr bem”, diz Carrera, “tenho mais dois filmes de animação em desenvolvimento. Estou prestes a terminar o storyboard do meu segundo longa-metragem de animação Los Ladrones de Almas (Os Ladrões da Alma). Estou confiante de que o México será uma lufada de ar fresco no cenário da animação internacional ”.

Trailer:

Este slideshow necessita de JavaScript.

Nota: 8/10 – Disponível na Amazon Prime Video

Deixe um comentário