Dica de documentário — Bombshell: The Hedy Lamarr Story (2017)

Letícia Magalhães
Cine Suffragette
Published in
4 min readMay 28, 2018

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(Imagem: reprodução)

Você gosta de usar a internet? Você gosta de jogar games no celular, acessar redes sociais e fazer pesquisas através do seu smartphone? Você gosta de ler artigos online? Se você respondeu ‘sim’ a qualquer uma destas perguntas, agradeça à Hedy Lamarr por poder fazer tudo isso.

Hedy Lamarr é mais conhecida e lembrada por ter sido uma bela atriz. Sua beleza foi uma maldição. Ela foi muito mais que um símbolo sexual: foi uma atriz talentosa, produtora, inventora, mulher independente, feminista. Ela criou os dois filhos sozinha nos anos 40. Ela foi uma estrategista e, desde criança, sempre foi muito curiosa. E adivinhe qual é o título de uma de suas biografias — escrita, obviamente, por um homem? “Beautiful”.

Mas felizmente as coisas estão mudando. Nos últimos anos, o legado de Hedy foi redescoberto e agora ela está sendo celebrada por suas muitas conquistas. Seu centenário em 2014 foi lembrado por muitos programas, publicações e sites, e hoje ela finalmente é citada em listas de mulheres cientistas e que mudaram o mundo. Sua mais nova honra é ser o foco de um documentário sensível da diretora Alexandra Dean — um trabalho maravilhoso que mistura entrevistas, imagens de arquivo, áudio gravado da própria Hedy, recriações de cenas e animações para gritar para o mundo sobre quem Hedy realmente foi.

Pôster do documentário (Imagem: reprodução)

Hedy Lamarr, nascida Hedwig Kiesler, era fascinada por tecnologia desde a infância. Aos cinco anos, ela desmontou um brinquedo musical e recolocou as peças no lugar — e a mágica acontece na nossa frente e ficamos arrepiados quando este brinquedo, que tem quase 100 anos, é mostrado pelo filho de Hedy para as câmeras… e ele ainda toca música.

Hedy entrou no mundo do cinema porque era bonita. Na verdade, ela foi esperta o suficiente para usar sua beleza para entrar no mundo do cinema. Como o documentário menciona, as mulheres artistas do começo do século XX tinham mais liberdade que as mulheres que possuíam outras ocupações. Seu filme “Êxtase”, de 1933, causou um escândalo: aos 18 anos, correndo nua pelos campos e simulando um orgasmo, Hedy foi condenada tanto pelo Papa quanto por Hitler. Mas este filme não chamou a atenção de Hollywood. Hedy teve de ir atrás da atenção de Hollywood sozinha, em outra manobra inteligente.

Hedy Lamarr em seu primeiro filme em Hollywood, “Argélia”, de 1938 (Imagem: reprodução)

Em 1940, uma nova tecnologia de rádio atiçou sua curiosidade. Se um controle remoto podia mudar a estação de rádio em um aparelho distante, por que o mesmo princípio não podia ser usado em outras áreas? Por que não alternar frequências em outros lugares? Que tal usar isso em um torpedo controlado por rádio, para ajudar os Aliados na corrente guerra?

Depois ela se juntou ao compositor George Antheil, que aliou a ideia da frequência alternada desenvolvida por Hedy com o modo de funcionamento de pianos mecânicos. Eles criaram uma arma que não podia ser interceptada — e a patentearam.

Na matéria, está escrito que Hedy está “brincando” com uma ideia sobre torpedos. A imagem que ilustra a matéria é de Hedy usando um biquíni (Imagem: reprodução)

A invenção foi recusada e ridicularizada pela Marinha. Hedy foi vender bônus de guerra — ela, por exemplo, arrecadava dinheiro leiloando beijos — e depois da guerra o governo desconsiderou a patente, classificando-a como “propriedade de outrem”. Mas eles a usaram mesmo assim, anos depois, e nós sabemos a distância que pudemos percorrer por causa dela.

Hedy também inventou outras coisas — ideias maravilhosas que devem ser vistas no documentário, quando a própria Hedy narra seu processo inventivo. Inventar era uma de suas atividades favoritas. Ela também adorava charadas, brincar de caça ao tesouro e fazer piqueniques. Esta era a face real da mulher mais bonita do mundo.

Hedy tinha seu próprio mini-laboratório em seu trailer na MGM (Imagem: reprodução)

Ela ajudou a desenvolver um sistema de comunicação revolucionário. Sua recompensa foi ser escalada em um filme B como uma prostituta exótica, e mais tarde ela foi acusada de roubar a ideia da frequência alternada de um homem. Ela foi ridicularizada em paródias conforme sua fama diminuía. Ela foi uma esposa-troféu para todos os seis maridos — e escapou do primeiro marido abusivo com um plano sagaz, algo que poderia ter saído de um filme. Ela foi julgada pela imprensa por ficar “velha, feia e irreconhecível”. Ela quase foi apagada da história. Qual foi o pecado de Hedy Lamarr, o que causou todo esse sofrimento?

Simples: Hedy Lamarr era uma mulher.

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