Descobri por meio de uma matéria da Folha de S. Paulo o trabalho do fotógrafo britânico Sebastian Palmer. Aos 36 anos, o estrangeiro se divide entre morar em Londres e em São Paulo. Ele frequenta a cidade brasileira desde 2012 e, de lá pra cá, se interessou pela região da Cracolândia.
Com ajuda do programa da prefeitura De Braços Abertos, que ofereceu contato de um ex-usuário de crack, e de sua parceria desde os primeiros trabalhos no Brasil, Joana Pires, 34 anos, o fotógrafo registrou o rosto de cerca de 50 pessoas para o projeto Ghosts (em português, Fantasmas).
De acordo com o profissional, ele desenvolve ensaios que documentam os setores marginalizados da sociedade brasileira. Além dos usuários de crack, no site do artista é possível ver as imagens do projeto Love Hotels e São Paulo Nights, que abordam sexo e prostitutas transexuais, por exemplo.
Apesar da quantidade maior, apenas 10 fotos da coleção Ghosts estão disponíveis para o público. Os retratos em closer, formato 3×4, em P&B mexeram comigo. Seus rostos expressam dor, dúvida, tristeza, perdição e desafio, de acordo com a minha interpretação, no entanto, não sei nada sobre suas trajetórias.
Sou fascinada por histórias e estes rostos me atraem em conhecê-los. O assunto chamou minha atenção ainda mais por conta do caso da ex-modelo Loemy Marques, de 24 anos, que não se encaixava no padrão de abandonamento social, por causa de sua estatura, pele, olhos e cabelos claros. Ela foi acolhida pela mídia como vítima das circunstâncias, mas não são todos?
Ela conseguiu se reerguer, ganhou trabalho e perfil nos principais jornais e revistas, sem falar do meio televisivo, enquanto seus ex-companheiros de vício, sem o benefício de se encaixarem em um perfil social idealizado para todos os seres humanos, continuam a amargar uma vida em que apenas o próximo trago pode dar um conforto ao seu desespero. Ninguém se interessa pela trajetória deles. Mas, olhe, eles são diferentes de você e de mim?