Gloria

Estamos acostumados a ver nos filmes pessoas com mais de 50 anos como pessoas reclusas, com a vida social e sexual em segundo plano. Gloria é o retrato de uma mulher de meia idade que tem uma vida ativa, feliz e auto-suficiente, sem se preocupar com seu passado ou suas falhas.

Paulina Garcia interpreta essa mulher, que, após 10 anos de divórcio e dois filhos, tem um trabalho chato, frequenta clubes em Santiago, canta, dança, bebe e tem seus casos. Percebemos logo que ela não se mistura muito com as outras pessoas. Seja dançando rodeada de pessoas ou com suas amigas na aula de ioga: ela é solitária. Uma noite, sai para dançar e conhece Rodolfo (Sergio Hernandez), que também é divorciado, pai de duas filhas e oficial da marinha aposentado. Depois de vários flertes, os dois acabam passando a noite juntos.

Rodolfo cria coragem e liga para Gloria, chamando-a para jantar. A partir daí eles compartilham experiências e histórias pessoais, começam um relacionamento que, apesar da idade e experiência dos dois, passa por altos e baixos como qualquer outro. Cada um deles traz uma bagagem enorme de seus respectivos relacionamentos, e o diretor Sebastián Lelio conduz a trama sem que ela se torne um dramalhão desnecessário e exagerado. Mesclando momentos engraçados, como o gato do vizinho que vive no apartamento de Gloria, e outros dramáticos, como o jantar em que Gloria apresenta Rodolfo a seus filhos e seu ex-marido, Sebastián ainda insere um lado sexual na narrativa com cenas de nudez e sexo que mostra os dois protagonistas sem nenhum tipo de vergonha ou desconforto. Uma atitude honesta e muito bem concretizada por Sebastián, algo que não vemos nos filmes de hoje.

O filme que rendeu a Paulina Garcia o Urso de Prata por sua interpretação não segue uma história fofa e idealizada, usada várias vezes em Hollywood, mas opta por se manter mais próximo a realidade. Cantando, dançando ou chorando com Gloria, no final das contas, o simples fato de viver a vida é o que importa.