A dama do lago

Philip Marlowe (Robert Montgomery) se encontra com Adrienne Fromsett (Audrey Totter), editora de uma revista de histórias de crimes e terror, para vender uma história que ele havia escrito. Sem imaginar o que o esperava, Adrienne pede para que Marlowe investigue o paradeiro de Crystal, esposa de seu chefe Derace Kingsby (Leon Ames), mas sem que este sabia. O interesse pessoal de Adrienne nessa história é que o detetive descubra onde Crystal está para que ela possa casar com o chefe. A trama básica de A dama do lago é simples, mas, como em outras histórias de Raymond Chandler e em todo bom film noir, ela se complica com o desenrolar dos acontecimentos.

Chandler foi um dos mais famosos escritores de ficção criminal dos anos 1940 e sem dúvida um dos principais nomes do film noir americano. Ele escreveu roteiros para grandes filmes como Pacto de sangue e Pacto sinistro, além de ter suas obras adaptadas para o cinema em À beira do abismo, Até a vista, querida, O último dos valentões, entre outros filmes e séries para a televisão. Parte de seu sucesso se deve à criação de um dos mais conhecidos detetives particulares do cinema: Philip Marlowe. O personagem já havia sido interpretado por nomes conhecidos como Humphrey Bogart e Dick Powell antes que Robert Montgomery desse vida ao detetive, além de assumir também a direção do filme.

A dama do lago é recorrentemente lembrado pelo uso inusitado (para a época) da câmera como personagem em primeira pessoa. Com exceção da cena de abertura e em alguns momentos durante o filme que mostram Marlowe falando diretamente com o espectador, quebrando a quarta parede, e nas cenas em que o vemos através de um espelho, o protagonista não aparece nas tela. No entanto, a tecnologia das câmeras da década de 1940 não permitia movimentos tão fluídos e rápidos (como veríamos anos depois com as steadicams), tornando a movimentação do detetive um pouco truncada e artificial. Apesar do experimento com a câmera ser um maneirismo gratuito, ele é interessante nas cenas de fuga e de perigo, pois explora a dinâmica de nos colocar no “lugar” do detetive e nos fazer ver tudo segundo seu ponto de vista.

Com uma narrativa em flashback, característica forte do film noir, a história recebe um tom menos violento e pesado como outros noir da época. Boa parte do filme se estrutura na relação entre Marlowe e Adrienne, e as personalidades fortes dos dois, os diálogos rápidos e ácidos, proporcionam uma química interessante entre os protagonistas. A atmosfera tensa em alguns momentos é construída pela trilha sonora misteriosa e estranha que ajuda na condução da narrativa e nos mantém interessados pela história repleta de mentiras e duplicidade. 

Completando 70 anos este ano, A dama do lago tem seu charme pelo experimento com a câmera em primeira pessoa, ainda que este torne o ritmo do filme lento em alguns momentos, mas não deixa de ser um bom exemplo de film noir americano.

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