"A Locomotiva": prós e contras na polêmica vida de Eurico Miranda
No final da exibição do filme “A Locomotiva”, sobre a vida de
Eurico Miranda, o ex-presidente do Vasco
torceu o rosto e fez um sinal de mais ou menos. A cena aconteceu
nesta segunda-feira, no auditório da Federação de Futebol do
Estado do Rio de Janeiro, em uma sessão para convidados da
entidade. De certa maneira, a reação de Eurico contou pontos
para o cineasta Milton Alencar, que se esforçou para não fazer
um filme chapa-branca.
Na maior parte dos 56 minutos de duração, o
diretor consegue atingir o objetivo. De carona na biografia
escrita por José Louzeiro, que assina o roteiro, Alencar
equilibra prós e contras sobre o polêmico personagem. Logo no
começo, enquanto um Eurico, dono da situação, sobe o túnel do
Maracanã em dia de jogo contra o Flamengo, o filme explica que o
Vasco se encaminhava para virar time pequeno na década de 1960.
Até surgir ele, o “salvador”. Mas logo depois, uma irada torcida
irrompe na tela xingando o dirigente.
Afagos e críticas se alternam. O presidente
licenciado do Flamengo, Márcio Braga, se considera uma antítese
de Eurico. Um torcedor pondera que nem Jesus Cristo foi
unanimidade. O jornalista Sérgio Cabral diz que considera Eurico
um agente rubro-negro infiltrado no Vasco. E que, por causa do
ódio que ele desperta, muitas pessoas deixaram de torcer pelo
clube. Ao mesmo tempo, aparecem cenas de doação de cestas básicas.
Eurico também ataca. E muito. Desdenha de Roberto Dinamite, detona a Lei Pelé e diz que saiu do Congresso Nacional respeitado, pois não pediu cargo algum. O nome do filme acabou inspirado em uma definição de seu estilo de vida: “A locomotiva puxa, não é puxada. Quem dita o caminho tem que ser o Vasco”.
Entre mordidas e assopros, o filme revela curiosidades sobre o personagem. As baforadas no charuto funcionam como intimidação aos inimigos. A esposa fala sobre o sossegado Eurico-família, que vez ou outra conversa com os falecidos pais. Há momentos hilários, como o que mostra o ex-dirigente, tal qual um desajeitado ditador, mandando os alunos da escola do Vasco repetirem o grito de “casaca” porque não esticaram o braço direito.
A contratação de Romário junto ao Olaria, na década de 1980, é uma história à parte. Quando o Baixinho deu três socos na mesa exigindo um aumento na proposta, o então vice-presidente da Colina gostou da atitude e levou o promissor atacante para São Januário.
O filme peca em alguns momentos pela exaltação do
personagem, chamado de “campeão dos campeões”. E também pela
falta de imagens fundamentais, como as da queda do alambrado de
São Januário na final da Copa João Havelange, em 2000,
quando 168 torcedores ficaram feridos e o dirigente entrou em
atrito com o então governador Anthony Garotinho. Mas não deixa
de ser uma obra polêmica. Como o seu personagem.
O filme terá nova exibição nesta terça-feira, às 20h, na Casa dos Poveiros, no Rio Comprido. Não há previsão de lançamento comercial.