Monster Hunter (2020) - Crítica

A princípio, Monster Hunter parece uma obra ideal para um cineasta bastante cinético, que focou toda sua filmografia num cinema de movimento, ação e uma estrutura narrativa focada em acrobacias, uma via americana do cinéma du look francês, centrado no visual acima da substância. Seria certeiro, talvez, nas mãos de um diretor que privilegia o corpo contra o diálogo com uma impressão criativa profunda ou ao menos interessante. Um George Miller, talvez, ou alguém da dupla de John Wick, David Leitch e Chad Stahelski. Mas não Paul W. S. Anderson. 

O britânico, que antes da metade da década se encerrar irá completar 30 anos de carreira, parece involuir com o tempo - e isto que seu início não foi nada promissor, tendo como segundo projeto o live-action de Mortal Kombat. Porém, a síntese de seu talento está na franquia Resident Evil, com seis filmes distribuídos em quatorze anos, conseguindo atiçar a ira tanto dos fãs dos games, quanto de qualquer cinéfilo. A marca do diretor está disposta na hexalogia, com poucas variações. Um cinema bastante direto e focado na ação como causa e consequência para tudo, dispensando complexidades dramáticas, sendo estas verborrágicas ou não. Com o passar dos anos, aliás, ele parece ter perdido uma das poucas características que lhe davam uma assinatura interessante, que era a utilização dos espaços como ferramenta para criar ação. Adotando uma montagem frenética desde os capítulos finais de Resident Evil, há pouco dimensionamento e concentração para se situar na sua estrutura física. 

Monster Hunter, portanto, já não mais oferece uma boa oferta para um realizador focado nas características de Anderson, pois apesar de, mesmo em seu material de origem, ser pouco mais que uma desculpa para se matar monstros com visuais cool, a adoção de cenários abertos restringem a utilização dos espaços como ferramenta de envolvimento. Isso significa, logo, que Anderson se direciona ainda mais fervorosamente para sua montagem rápida que, imagino eu, ele considere como artifício benéfico para aumentar o ritmo do longa e sua tensão, quando, do contrário, ela esvazia justamente o único propósito de seus esforços. 

Se não há nenhuma tentativa de rebuscar a trama, os diálogos e interações entre personagens fora uma relação primitiva e banal de camaradagem - usar de forças armadas para isto já exemplifica bem a ideação -, e o foco total seja numa ação dentro de um universo previsível mesmo a quem desconhece os games (monstros cada vez maiores e mais perigosos, ambientes perniciosos), sendo esta ação desinteressante, desconexa e deslocada, sobra muito pouco para Monster Hunter fora o visual das criaturas e armas - mas para isto, seria mais econômico financeira e temporalmente assistir cutscenes dos jogos mais recentes e tecnológicos da franquia. 

Quase como um escárnio, aliás, a premissa de como os personagens liderados pela esposa/musa do diretor, Milla Jovovich, acabaram por entrar naquele universo (em conceito explicitamente resumido num letreiro que antecede a película), é quase idêntica ao jogo Resident Evil original, o deixando mais próximo de uma fidelidade com a franquia Bio Hazard que qualquer um de seus seis filmes - não que verossimilhança ao original seja uma preocupação minha, nem deva ser do cinema, mas quando a proposta inovadora não acrescenta em nada e até a prejudica, fica controverso e inexplicável fora se tratar de um egocentrismo ou uma tentativa prévia de conquistar a atriz principal de seu projeto - pelo menos isto deu certo. 

Paul W. S. Anderson segue como um diretor muito regular. Não há falsas expectativas com ele, e como alguém que não tem histórico de grandes lucros fora quando usou uma franquia famosa para tal conseguiu o orçamento para Monster Hunter, me é misterioso. Após quase 30 anos na estrada, entretanto, essa tentativa sórdida de repetir a fórmula que deu certo lá em 2002 parece destinada ao fracasso, deixando pouco na memória fora uns designs legais. 

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