Artigo | O que aprender sobre direção com Catherine Hardwicke

A diretora, roteirista e produtora Catherine Hardwicke veio ao Festival do Rio para apresentar uma MasterClass sobre direção e lançar seu novo filme Já Sinto Saudades (Miss You Already), com Drew Barrymore e Toni Collette. Quando a gente vê a história na tela não imagina os meses de produção e negociações por trás. Esta é a magia de poder conversar com as pessoas envolvidas e descobrir tudo.
Conhecida por seus trabalhos como Aos Treze (2003) e Crepúsculo (2008), a cineasta realizou uma apresentação/bate-papo, com os aspirantes ao mundo da sétima arte, baseada nas dificuldades e desafios das suas obras. Apenas com cinco longas-metragens em sua carreira, Hardwicke já tem algumas histórias para contar e desde o início afirmou: “eu não tenho problema de mostrar meu trabalho interno, apesar de muita gente da área não gostar disso”.
Por trás das cenas
No telão, a diretora apresentou detalhes do seu último lançamento. Desde a busca para mostrar o velho e o novo na arquitetura de Londres, passar a intimidade familiar necessária para os atores, pesquisar sobre mulheres câncer de mama e até como manter os atores interessados na história.
“Você sabe que por mais que já esteja tudo fechado com ator sempre pode aparecer um trabalho mais interessante e ele larga o projeto antes do início das filmagens. Eu tento deixá-los sempre animados e entretidos com o trabalho, com festas, encontros, levo eles para comprar roupas para o personagem. Tudo para eles se sentiram confortáveis no papel”, revela Catherine.
Para Já Sinto Saudades, Jennifer Aniston foi a primeira cotada para fazer o papel de Jess, mas abandou o projeto. Depois entrou Rachel Weisz, que também saiu e foi substituída por Barrymore. “Minha preocupação era tornar tudo divertido e ter grande energia para improvisar”, confessa a cineasta.
Entre os segredos nem tão secretos assim, Catherine apresentou a sua planilha de estágios. Isto é, ela tinha dividido por estação os dois anos da história das suas amigas para acompanhar a gravidez de Jesse e a evolução da doença de Milly, onde estavam marcados os tipos de aspectos, cabelos e comportamento.
Aos Treze e Os Reis de Dogtown
O primeiro filme de Catherine foi o aclamado pela crítica Aos Treze (Thirteen), com Holly Hunter – indicada ao Oscar pelo papel – e Evan Rachel Wood. Se alguém acredita que o percurso para esse projeto foi fácil está enganado. Durante 15 anos, Catherine foi produtora de design, mas tinha vontade de comandar sua própria narrativa.
A cineasta explicou que na época estava na Fox Searchlight Pictures – braço alternativo da Fox –  e ela, claro, não era convidada para nada. Existiam alguns roteiros disponíveis para ela escolher, mas ela não gostava de nenhum argumento. Segundo Catherine, era um tudo “água com açúcar demais”.
Seu desejo era contar uma história de como se apaixonar pela primeira, um momento mágico e de transição da vida. Desse modo, ela e Nikki Reed começaram a escrever o roteiro de Aos Treze de forma independente e baseado nas experiências da própria garota com a madrasta.

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Era um trabalho totalmente inusitado, porque Nikki nunca havia atuado ou escrito algo e Catherine estrearia atrás das câmeras, no entanto, o projeto vingou. A produtora Fox Searchlight Pictures trouxe a ganhadora do Oscar Holly Hunter para o papel da mãe da protagonista e este foi o pior pesadelo da diretora durante as filmagens.
Todo mundo já ouviu falar alguma vez sobre os conflitos entre diretores e atores, ou seja, isso é como ter um chefe controlando o seu trabalho a todo segundo. Por vezes, quando há confiança mútua cada um realiza suas tarefas sem interferir muito na do outro.
“Desde o início, ela disse que tinha odiado todo o roteiro. Ela tinha acabado de se divorciar e ganhara um Oscar, portanto, eu tinha que fazê-la entender e explicar cada detalhe para ela fazer qualquer coisa, às vezes, simplesmente para mudar de lugar na cena”, explica a diretora sobre Holly.
Já no seu segundo trabalho, em Os Reis de Dogtown, a cineasta mostrou muito mais descontração. “Eu me diverti muito. Eu filmava numa moto para acompanhar as tomadas dos skates”. O que a Catherine ressaltou na sua apresentação foi a importância de sempre se divertir durante o trabalho.
Crepúsculo e conselhos
Sua alçada à calçada da fama veio com a adaptação do fenômeno literário Crepúsculo (Twilight). Com a produtora Summit Entertainment, Catherine pode realizar novas façanhas, entretanto, ela revelou que os US$ 37 milhões de orçamentos não fechavam as contas. Primeiro porque apenas os direitos autorais foram em torno de US$ 3 milhões, além dos gastos com os atores e muitos efeitos especiais. Ela ficou no limite e na época não havia certeza sobre a continuação ou boa aceitação do filme.
No fim, a obra foi recriminada e adorada por milhares de espectadores e rendeu à diretora o convite para o juvenil A Garota da Capa Vermelha (2011), com Amanda Seyfried, contudo, ela nem o mencionou durante a apresentação. O conto de fadas fracassou tanto com a bilheteria quanto a crítica. Assim como o longa Plush (2013), com Emily Browning.
Direcionado aos jovens iniciantes ou aspirantes ao posto de direção, ela prega: “Se você é o diretor você tem que ser o responsável por tudo. Qualquer erro é sua culpa e todos os detalhes contam, por isso, participo de cada parte”. Hardwicke destacou que se envolve com cada escolha, como trilha sonora, roupa, atores, cenários. Sobre a sua transição de produtora de designer para diretora, ela acredita que a primeira função é muito mais trabalhosa e desafiante, pois é da criação que toda a magia do cinema surge.

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