O homem que viu o infinito (2015)

Título original: The man who knew infinity

Países: Reino Unido, Estados Unidos

Duração: 1 h e 48 min

Gêneros: Biografia, drama

Diretor: Matt Brown

IMDB: www.imdb.com/title/tt0787524/


Li vários comentários negativos sobre “O homem que viu o infinito“, reclamando da pouca exploração do considerado principal objeto do filme: as realizações matemáticas de Ramanujan – o protagonista. Discordo completamente! É desnecessário o aprofundamento em temas matemáticos, que são complexos por natureza, pois transformá-los no foco principal da narrativa restringe o público e dificulta o entendimento. Em vez de detalhar as descobertas intuitivas do protagonista, o diretor preferiu humanizar a narrativa, no sentido de mostrar temas referentes à relação de Ramanujan com as pessoas e o ambiente no qual ele foi inserido em nome de sua grande paixão, a matemática. Além disso, um debate importante sobre religiosidade e espiritualidade “esquenta” a história ao gerar confrontos entre os personagens. Obviamente, o filme não tem o mesmo brilhantismo de outros filmes que exploram a matemática como “Uma mente brilhante“, “Gênio indomável“, “O jogo da imitação“, entre outros, porém, não podemos deixar de considerar as boas qualidades que o tornam bastante interessante para se assistir, principalmente por nos apresentar mais uma mente privilegiada da história da humanidade, até então pouco conhecida pelo público em geral.

O filme é a cinebiografia de Srinivasa Ramanujan, um homem apaixonado por números que desenvolve suas teorias – e teoremas – por intermédio de suas crenças em seus deuses. Suas descobertas simplesmente aparecem em sua mente, e ele atribui esse dom às divindades que tanto venera – um pensamento até comum, em se tratando de um cidadão da Índia, um país com uma população tão religiosa. Os problemas aparecem quando Ramanujam resolve “não morrer com esses conhecimentos”, segundo suas próprias palavras no filme, e vai até o Trinity College, em Cambridge, para poder publicá-los. Lá, ele encontra um ambiente cético e predominantemente ateu entre os professores, que, constantemente, digladiam-se em nome de seus egos e vaidades. Nesse contexto, ele tem que aprender a lidar com as dificuldades que o meio lhe proporciona e provar formalmente seus achados, com a ajuda de um dos professores, o Dr. Hardy, o único que, a princípio, acredita em sua inteligência e capacidade.

A essência narrativa do filme, como comentado no primeiro parágrafo, consiste nas relações entre o protagonista e as pessoas/meio. Tão ocultas como evidentes, as crenças de Ramanujam delineiam a sua vida em todos os sentidos, e seu comportamento é bastante afetado por elas. Até para deixar a sua cidade foi difícil, por conta de sua origem Brâmane – e das convicções religiosas inerentes a ela. O interessante mesmo é o conflito de pensamentos entre ele e o ateu Dr. Hardy. Uma relação pautada na desconfiança que, mesmo com tantas diferenças, acaba em uma bela amizade e admiração mútua. O filme explora muito bem o desenvolvimento das afinidades entre eles – e as dificuldades encontradas até conseguirem se entender. Há, também, um subtema de muita relevância, o preconceito baseado no histórico étnico, religioso e cultural – algo análogo ao antissemitismo aplicado aos judeus. Isso é apenas mais um dos obstáculos que o jovem Ramanujam tem que superar para concretizar o seu sonho. Além de tudo, até uma grave doença ele deve sobrepujar.

Dev Patel, aquele de “Quem quer ser um milionário“, realmente não consegue me convencer – assim como em “Lion – Uma jornada para casa“. Como um admirador e conhecedor do cinema indiano, afirmo que há uma gama de atores mais talentosos para representar papéis indianos em obras cinematográficas não produzidas na Índia. Assim como Ramanujam, seu personagem, teve que provar fórmulas matemáticas, Dev Patel ainda deve trabalhar bastante para conseguir provar ser merecedor de tantas oportunidades no cinema mundial.  Em oposição a mais uma fraca atuação do jovem ator inglês com ascendência indiana, o “oscarizado” Jeremy Irons carrega o filme nas costas, no papel do Dr. Hardy. Por ter que demonstrar sentimentos variados ao longo do filme, como incredulidade, tristeza, admiração e, ao mesmo tempo, desdém por qualquer tipo de crença em seres superiores, ele mostrou quão diversificados são os seus dotes artísticos e ajudou a dar realismo a seu personagem e um certificado de qualidade à obra, proporcionando boas e prazerosas duas horas de filme aos espectadores.

O homem que viu o infinito” tem sim algumas deficiências na composição narrativa e alguns pontos poderiam ter sido melhor evidenciados, como por exemplo a relação de Ramanujan com sua família, contudo, isso passa até despercebido, pois, pelo menos no meu caso, amante da matemática e de temas relacionado à Índia, foi uma experiência bastante aceitável. Só para finalizar e a título de informação, em 1976, foi descoberto um “caderno perdido” de Ramanujan, cuja importância foi comparada à descoberta da 10ª sinfonia de Beethoven, e, nos dias de hoje, o legado do jovem matemático é usado em várias aplicações científicas, incluindo o entendimento do comportamento de buracos negros.

Coloco o filme no meu rol de indicações e, aproveitando a oportunidade, recomendo-o a todos nesse momento. É um filme que vale a pena assistir!

Obs.: Há também uma produção indiana que conta a história do matemático. Trata-se do filme “Ramanujan“, produzido em 2014. Ainda não assisti a ele, e talvez nem assistirei, mas fica como opção para quer quiser conhecer o olhar de outro diretor sobre o mesmo personagem.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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