Decameron (1971)

Título original: Il Decameron

Título em inglês: The Decameron

Países: Itália, França, Alemanha

Duração: 1 h e 51 min

Gêneros: Comédia, drama, história, romance

Elenco Principal: Franco Citti, Ninetto Davoli, Jovan Jovanovic, Pier Paolo Pasolini

Diretor: Pier Paolo Pasolini

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0065622/


Escrito entre 1348 e 1353 por Giovanni Boccaccio, o Decamerão é uma coleção de 100 contos que versa sobre pessoas comuns, nas mais diversas situações, na Itália medieval  – nada mais que a vida real daquela época. Quem quiser conhecer melhor sobre a obra, segue o link da Wikipedia: clique aqui. Pasolini ficou caracterizado por fazer adaptações do cânone ocidental, mas sempre deixando transparecer sua aura de provocador moral da sociedade italiana, sua personalidade de intelectual, que nunca aboliu o pensamento crítico e negativo em suas manifestações artísticas. Através de “Decameron“, Pasolini quis, além de assumir uma posição de contador de causos medievais, demonstrar toda a hipocrisia existente na sociedade daquela época, principalmente no tocante às relações entre a Igreja e as pessoas comuns. Assistir a esse filme não deixa de ser interessante pela automática correlação que fazemos com os dias atuais, mesmo passados vários séculos entre a narrativa de Boccaccio e a vida moderna que hoje vivenciamos.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Oito contos exuberantes mostrados nesse filme rústico e genuinamente picante: freiras devassas que realizam milagres sexuais; uma esposa traiçoeira e adúltera com habilidade para negócios; um artista tuberculoso à beira da morte que tenta trapacear o céu; um casal de jovens amantes apanhados com as calças na mão; um criado que perde a cabeça por amor; um simplório fazendeiro que tenta transformar sua esposa numa égua; entre outros.”

Religiosidade e sexualidade, temas que normalmente não se relacionam, andam juntas como temáticas principais dessa irreverente obra de Pasolini. Transgredir para trazer à tona a realidade é a regra de ouro! Dogmas, leis, costumes, culturas e tradições perdem espaço em detrimento do literal prazer de viver, flagrando a experiência humana em sua dimensão corpórea, na concretude das suas paixões, vicissitudes e alegrias. A vida se torna um parque de diversões, uma alegoria, que evidencia o desmoronamento do Estado, da família e da religião do século XIV. Por conta disso, a humanidade passa longe da maioria dos personagens e há, nas entrelinhas, subtemas pesados, que desnudam os caráteres (plural de caráter) das pessoas, como, por exemplo: ganância, falsidade, desonestidade, hipocrisia, etc., e polêmicos, que na época da produção do filme não eram fáceis de abordar pela grande discussão que provocavam, como a virgindade – ou sua perda -, a castidade, a traição, o adultério, o homossexualismo, a pedofilia, a blasfêmia, etc. Se há cineasta perfeito para tratar desses temas, chama-se Pier Paolo Pasolini.

O roteiro poderia ter sido melhor organizado para promover uma melhor fluência narrativa. Mesmo sabendo que são contos aparentemente não relacionados entre si, algum recurso que proporcionasse alguma coesão entre os contos, como um personagem em comum, ou uma voz em off narrando os acontecimentos, ou mesmo frases percorrendo a tela exibindo um título para cada um dos contos seria algo bastante interessante, para que as cenas não parecessem estar soltas dentro da história. O único elo que há é justamente o próprio diretor, que atua dentro do filme representando um pintor pré-renascentista chamado Giotto, que pinta, juntamente com sua equipe, um afresco em uma abadia ao longo de todo o filme e, ao fim, exibe o resultado. O próprio Decameron de Boccaccio, formado por 100 contos apresentados por 7 mulheres e 3 homens, os quais formam uma pequena sociedade recreativa dedicada a prazeres corteses que afirma o desejo de viver, possui um elo forte entre as historietas, justamente representado por essas 10 pessoas que “narram” os causos aludidos no livro. Senti falta de uma narrativa mais didática nesta adaptação de Pasolini.

No fim das contas, “Decameron” acaba sendo um filme bastante divertido, exibido sem pudores visuais, interpretado por uma série de pessoas comuns e sem formação interpretativa entre os atores – em nome da expressão da realidade -, e que apresenta um contexto peculiar, cronologicamente tão distante, mas, ao mesmo tempo, ideologicamente tão próximo da vida atual. Em algumas passagens, parece que estava assistindo a acontecimentos cotidianos.

Ser humano é ser humano – só muda a época!

E o ser humano é louco por sexo!

O trailer segue abaixo.


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