Líbano (2009)

Título original: Lebanon

Países: Israel, França, Alemanha, Reino Unido

Duração: 1 h e 33 min

Gêneros: Drama, guerra

Elenco Principal: Yoav Donat, Itay Tiran, Oshri Cohen

Diretor: Samuel Maoz

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt1483831/


“O homem é feito de aço. O tanque é só um pedaço de ferro.”

Uma frase muito fácil de ser entoada como um cântico em um contexto de beligerância, entretanto muito fácil de ser contradita quando a verdade desse contexto toma corpo. A suposta fragilidade concedida ao pedaço de ferro e a presumida força atribuída aos combatentes transitam apenas numa seara figurada. Infelizmente, alguns não têm tempo de descobrir essa constatação em um ambiente de guerra. Através de filmes com vieses humanizados como este, cada vez mais nos perguntamos: a quem interessa a guerra?

A história se passa em junho de 1982, durante a Primeira Guerra do Líbano. Um tanque solitário e um pelotão de infantaria são convocados para vasculhar uma cidade bombardeada – uma missão aparentemente simples, mas que se transforma em um pesadelo. Os quatro membros da tripulação do tanque se encontram em uma situação violenta que não conseguem lidar. Motivados pelo medo e pelo instinto básico de sobrevivência, eles tentam desesperadamente não se perder no ato mais emblemático de solução de problemas não civilizados: a guerra.

Lembrou-me “Glória feita de sangue” de Stanley Kubrick, por focar nos sentimentos das pessoas que são obrigadas pela força do Estado a colocarem suas vidas em risco em nome de algum interesse que não justifica esse sacrifício. Há, também, na narrativa, o cuidado de mostrar o outro lado da guerra: as pessoas inocentes mutiladas, humilhadas e assassinadas, e até o sofrimento dos animais, representado por um cavalo que chora por ter seu corpo ferido e ao se aproximar do último suspiro, na cena que considero a mais bela do filme. É interessante notar que tudo isso é mostrado através de uma câmera trêmula, para provocar imersão dos espectadores, e aos olhos da mira do canhão do tanque de guerra, que, por ironia do destino, é controlado por um homem cuja humanidade está acima de tudo e que resiste em ser cúmplice das atrocidades intrínsecas da guerra.

A interação dos tripulantes entre si e a deles com seu superior hierárquico define o tom da narrativa. A descoberta da realidade dói no fundo da alma de cada um, mesmo na daqueles que transparecem o ódio. O fim é iminente e nesse contexto homens não são feitos de aço, pois aço não tem sentimentos. Acaba restando apenas um pedido para informar à mãe que está tudo bem, mesmo sendo uma mentira. Apenas um desejo impossível. Uma cortina de fumaça que oculta a face negra da morte.

O imenso e colorido campo de girassóis murchos, que ainda assim apresenta beleza, contrasta com a presença de um artefato bélico, construída a parir do ferro, mas que é controlada por filhos da mesma natureza que deu vida e morte aos girassóis, os homens, que são imperfeitos, mas têm emoções. Com esse visual antagônico e metafórico, com flores mortas representando corpos sem vida e com um tanque representando um porto seguro e, ao mesmo tempo, uma máquina de matar, “Líbano” se despede de seus espectadores e propõe diversas reflexões a cerca da presença de guerras no mundo desde os primórdios da humanidade. Definitivamente, a violência não é o melhor meio de se resolver as divergências, pois custa algo que é o maior bem que uma pessoa pode ter: a vida.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba

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